terça-feira, 4 de novembro de 2014

Capítulo 14

Capítulo Quatorze
True caminhava de um lado para outro entre a cozinha e a porta do quarto, mais
que consciente de que Jeanie observava todos seus movimentos. Sua negativa em
aceitar ser sua companheira o frustrava e irritava. Não podia entender por que ela
continuava dizendo que não. Ele parou e a olhou.
— Posso te fazer feliz.
— Eu sei que pode, me preocupa o contrário.
Sua resposta o deixou atordoado. — Você já me faz feliz.
Ela cobriu seu corpo com a camisa, cobrindo os seios e pernas. — Existem mais
coisas que fazem com que uma relação seja feliz em longo prazo, True. Nós não
devíamos fazer esse tipo de compromisso ainda.
Query o advertiu de que ela precisaria de mais tempo e que os humanos tendiam a
pensar demais em vez de contar com seus instintos. Ele estava seguro de que queria
Jeanie como sua companheira, mas ela obviamente tinha dúvidas. Precisava ter mais
paciência, mas carecia desta habilidade quando se tratava dela. Retomou o ir e vir,
ajudava a acalmar os nervos.
— Vai fazer um buraco no tapete. — Ela advertiu.
Ele não sabia se isso era possível, mas não se importava.
— Você está chateado. Converse comigo. Por favor?
Ele parou. — Percebe que o humano que leu seu e-mail ou sua mensagem poderia
não ser o único que fingia trabalhar para a ONE? Tim e sua equipe não vão deixar o
assunto. Ele quer mandá-la para a prisão por algo que sei que você não fez. Não
sobreviveria muito tempo lá, Jeanie. É um lugar duro. O sexo que nós compartilhamos é
muito bom e tudo o que você tem que fazer é assinar os documentos e ser minha
companheira. Será uma Nova Espécie oficialmente com os mesmos direitos e proteções
que eu tenho.
Jeanie desejava poder dizer que sim, mas sabia mais que True sobre relações. Ele
não conhecia o sofrimento e as dificuldades, nem sequer podia imaginá-las porque tinha
pouca ou nenhuma experiência em uma relação.
O bom sexo não era a melhor base para um compromisso para vida toda. Ela o
amava, mas ele não estava apaixonado por ela. A gratidão por ter salvado sua vida não
era suficiente, nem a forte atração física que compartilhavam. Só o tempo diria se ele
poderia apaixonar-se por ela.
— Eu não posso ser sua companheira só porque você quer me proteger. Eu
realmente aprecio a oferta, True. O acasalamento é para sempre, assim é uma escolha
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que não farei até que nos dois estejamos absolutamente seguros de que é pelas razões
corretas. Você é um homem maravilhoso que tem muito a oferecer, mas não posso
permitir que faça esse sacrifício.
Ele grunhiu, respirando com dificuldade. — Então você só aceita ter sexo comigo?
É tudo o que você quer de mim?
— Faz com que pareça sujo. — Seu temperamento chamejou. — Como se apenas
se tratasse de sexo.
Sua expressão ficou dura e seus lábios se separaram, deixando ao descoberto
seus dentes afiados. Aproximou-se dela, agachou e a colocou em pé. A camisa que a
estava cobrindo caiu no chão, ficando entre eles e ela se sentiu exposta e vulnerável. Ele
firmemente a agarrou pelos braços, mas não a machucou, não importando a ira clara que
expressava.
— O sexo entre nós é incrível. Por que não é o suficiente para te convencer de que
seria o companheiro certo para você? Acredita que Flirt ou Jinx seriam melhores que eu?
Esta é a razão por recusar? Você quer compartilhar sexo com eles para nos comparar
antes de poder tomar uma decisão? Esta é a escolha da qual fala?
Ela esqueceu que estava nua e que ele era maior que ela, olhando-a de forma
ameaçadora e feroz. Suas acusações eram uma bofetada verbal. — Eu não posso
acreditar que você disse isto.
— Você não está negando.
— Eu não tenho que fazê-lo. Você está sendo completamente irracional. O que
está errado com você? Como pode sequer pensar isto de mim?
Ele grunhiu e deu um passo atrás, soltando-a. — Você não quer se acasalar e está
me deixando louco.
— Estou tentando ser racional.
— Não pode ser, é isso que está dizendo? Acha que meu lado animal me impede
de ser racional? Não se importa de ter um animal em sua cama, mas não o quer como um
companheiro?
— Não ponha palavras em minha boca. — Jeanie sentia os sentimentos
atormentando-a. — Está errado. Eu não penso em você como um animal. Você é um
homem.
Retrocedeu um pouco mais. — Eu sou Espécie, Jeanie. Seus homens humanos
têm meus dentes? Eles se parecem comigo? Não me vê pelo que sou?
— Vejo que você está sendo um grande idiota. — Jeanie respondeu. — Você está
nos insultando e me deixando irritada. Não me importo nenhum pouco com seu DNA
misturado ou seus dentes afiados. Perdão por ter levado isto a sério e não fazer algo que
poderíamos lamentar no futuro.
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— Lamentar?
— Sim. Sabe, acordar uma manhã e perceber que se acasalou por engano. Podia
acontecer. Nós podíamos acabar odiando um ao outro.
Sua expressão se fechou e toda emoção desapareceu atrás de uma máscara fria.
— Vou correr. Há um oficial na porta se você precisar de alguma coisa.
Ela não podia acreditar que ele planejava sair. — Nós estamos discutindo e você
apenas sai assim?
Suas mãos se apertaram nos seus lados. — Sim. Estou usando todo o controle que
me resta. Preciso colocar distância entre nós agora.
Ele girou, andando a passos largos em direção à porta da frente. Ela se apressou
atrás dele e agarrou seu braço. Provavelmente não foi a coisa mais esperta para fazer,
mas ela não queria que ele se fosse. Eles precisavam resolver as coisas e não entendeu
porque ele explodiu assim.
— True! Espere.
Ele fez uma parada abrupta e ela chocou-se com suas costas. Ele girou sua
cabeça, olhando fixamente para ela. — Solte-me, Jeanie.
A gravidade de sua demanda não se perdeu. A raiva se refletia em seus olhos
bonitos, mas ela não tinha medo. — Eu não quero brigar com você. Por que você está tão
irritado?
Ele parecia instável. — Estou sendo irracional. Eu sinto muito. Não quero que você
me odeie. — Ele girou para enfrentá-la, torcendo seu pulso o suficiente para que o
soltasse.
— Eu não te entendo. Estou confusa. Você apenas... explodiu.
Inalou lentamente e exalou, como se isso o acalmasse. — Eu sei. Ninguém me
afeta como você, Jeanie. Eu preciso de espaço para me acalmar e correr ajuda a pensar.
Você continua se recusando a se acasalar. Isso dói. Eu voltarei.
Ele girou sobre seus calcanhares e abriu a porta.
— Você está sem sapatos nem camisa. — Ela tentou como um último esforço
mantê-lo no apartamento.
— Eu não preciso deles. — Ele não olhou para trás e fechou a porta.
* * *
True bebeu seu refrigerante e Darkness o olhou sombrio. — Eu vim aqui para me
acalmar.
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O macho suspirou. — As mulheres são complicadas. Sabia que algo tinha
acontecido quando te vi entrar no bar vestido assim. — Ele olhou para o peito nu de True.
— Nós não exigimos sapatos ou camisas em nossos estabelecimentos, mas a maior parte
de nós prefere estar completamente vestido em público.
— Desculpe. — Ele tomou outro gole e o deixou. — Deveria voltar. Eu fiz
acusações que eu não deveria ter feito.
— Você tem dúvidas sobre sua história?
— Não. Senti-me inseguro. Eu fui usado em procriação apenas uma vez em
Mercile, nunca em Drackwood, depois que eles descobriram que tenho uma contagem de
esperma baixo. Minha experiência com fêmeas é limitada. Flirt e Jinx sentem-se atraídos
por Jeanie e eles dois foram frequentemente usados em experiências de crias e são muito
amigáveis com nossas fêmeas desde que ficaram livres. Talvez se eu fosse mais hábil,
poderia convencê-la a ser minha companheira. — Feria seu orgulho admitir isto, mas com
Darkness sentia-se cômodo falando sobre seu problema. — Permiti que isso fosse a
causa de minha discussão com ela.
Darkness fez uma careta. — Você não disse a ela isto, verdade?
— Eu perguntei a ela se queria compartilhar sexo com eles primeiros a fim de fazer
uma escolha.
— Merda. — O macho se inclinou para trás em sua cadeira. — Deixe-me dizer a
você algo, True. Eu sou muito hábil. — Ele olhou ao redor e então segurou seu olhar
quando o tom de sua voz abaixou. — Esta informação fica entre nós. Você ouviu que eu
fui tirado da Mercile para outras experiências porque eles queriam ver como nos
desenvolveríamos em contexto militar. Eles mandaram a mim e outros machos para
sermos treinados por humanos chamados mercenários. Eles eram humanos insensíveis e
sem honra. Uma das coisas que aprendi além de como matar por padrões humanos foi
como eficazmente interrogar um prisioneiro pouco disposto. Eles levaram uma mulher que
me mostrou aos caminhos mais efetivos para conseguir informações de outras mulheres.
— Ele pausou. — Como aterrorizar uma mulher usando ameaças sexuais ou por sedução
forçada.
True sentiu a dor do macho. — Fizeram com que machucasse mulheres?
— Esta mulher… — Seu tom ficou rouco e ele desceu o olhar para sua bebida. —
Ela era mais fria que o gelo em meu copo. Primeiro me mostrou o que ela era capaz de
fazer e então ordenou que eu fizesse com ela. O estudante superando o mestre. — Ele
olhou para cima então, seus olhos escuros parecendo assombrados. — Ela mereceu
pelas coisas cruéis que fizeram comigo mas, ordenaram que a matasse ao final.
— Esta é a mulher sobre a qual falou?
Darkness hesitou por um longo momento. — O comandante a cargo do projeto a
contratou para me ensinar e aos outros machos Espécies como usar o sexo contra as
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mulheres. Este era seu propósito e ela fez seu trabalho muito bem. Ao final do meu
treinamento eu podia obrigar uma mulher que me implorasse para que a fodesse e
inclusive confessar um crime que não cometeu. O comandante ordenou que usasse este
método para tirar informações dela, pois mentia ao comandante e tramava algo contra
ele. Os mercenários matam os que traem sua confiança e exigiram que a matasse.
— Você fez isto? — True não podia compreender tal ação, especialmente tirar a
vida de uma mulher com a qual compartilhou sexo.
— Eu fiz. — Darkness ficou de pé. — Seu plano teria prejudicado os outros machos
Espécies. Evitei que fossem usados por ela. — Ele segurou se olhar. — O que quero
dizer é que seria um mal companheiro para qualquer mulher sem importar minhas
habilidades de sedução. Você tem um bom coração, True. Eu não. O meu se rompeu há
muito tempo atrás e não há possibilidade de conserto. É isso que você tem que oferecer à
sua fêmea. Vá para casa e diga a ela o quanto significa para você. É isso que as maioria
das mulheres querem.
True olhou Darkness indo embora, esquivando outras Espécies enquanto saia do
bar. Ele ficou em pé e o seguiu para fora. Darkness se foi no momento que chegou na rua
e ele começou a correr de volta para o dormitório dos homens para dizer a Jeanie que era
seu coração e a amava. Que poderia melhorar suas habilidades como amante, mas não
poderia viver sem ela.
* * *
Jeanie continuava nua e finalmente se decidiu e entrou no quarto de True para
pegar uma camisa da cômoda, que mais parecia um vestido curto. Depois de uma busca
rápida, encontrou uma boxer na gaveta inferior e a vestiu também.
Sentou-se na cama, chocada pela partida abrupta de True. Suas palavras
continuavam em sua cabeça. True a acusou de querer dormir com outros homens a fim
de compará-los como se fosse uma competição sexual para saber com quem queria ficar.
Era um ciúme irracional.
Lentamente percebeu, talvez sentisse muito mais do que suspeitava. É possível
que me ame? Esse pensamento aumentou seu ritmo cardíaco. Tudo se encaixaria.
Ela realmente desejava não ter deixado que se fosse. Precisavam sentar e discutir
seus sentimentos. A possibilidade de que correspondesse a seu amor fazia com que
esperasse impaciente sua volta. Passeando pelo quarto, finalmente foi para a cozinha
comer algo.
Todo tempo olhava pela janela tentando vê-lo. Onde foi correr? Estava correndo ao
redor de Homeland? Era muito grande e fazia já uma hora. Ela decidiu deitar-se até que
ele voltasse.
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A campainha tocou. Ela se apressou para a porta, com a esperança de que fosse
ele. Ele não levou seu cartão e poderia pensar que trancou a porta. O Nova Espécie em
pé na porta tinha a mesma seriedade de antes.
— Senhorita Shiver, estes guardas vieram por você.
Ele se afastou e os dois homens em uniforme bloquearam a entrada. Eles eram
humanos, de uns vinte anos e muito altos e grandes.
— O quê?
— Olá Sra. Shiver. — Saudou o de cabelo escuro e olhos marrons. — Será
enviada para Fuller. Por favor, venha conosco.
— Não resista. — O homem loiro advertiu. — Seria sem sentido.
Ela tropeçou de volta, balançando a cabeça. — Não. Não fui enviada para lá. —
Ela agarrou-se à porta, tentando fechá-la.
Um deles empurrou-a escancarando-a e entrando no apartamento. — Nós temos a
documentação. Você será transferida para Fuller imediatamente.
— Não! — Disse Jeanie tentando colocar o sofá entre ela e eles. — True disse que
eu podia ficar aqui. — Isso chamou a atenção do Nova Espécie. — Onde está True?
Diga-me.
— Eu não sei onde ele está. — O macho Espécie ficou na porta. — Sua
documentação está em ordem. Não lute com eles, mulher. Apenas irá se machucar.
Os dois guardas humanos se separaram, circularam o sofá para alcançá-la. Pânico
percorreu Jeanie. — Afastem-se de mim. Estou vivendo com True. — Ela não podia e não
acreditava que ele tivesse mudado de ideia apenas porque se recusou a acasalar. Ele
não a mandaria para um lugar que disse que ela nunca sobreviveria. — Eu quero ver
True. Traga True! — Ela freneticamente pediu ao guarda Nova Espécie. — Mantenha-os
afastados de mim até True voltar. Acho que ele não sabe sobre isto e não quer que vá
embora.
— Espere. — O Espécie ordenou, pegando seu telefone celular. — Deixe-me ligar
para True.
O homem loiro alcançou dentro de seu colete e tirou uma pistola. Jeanie viu com
horror quando ele girou e atirou no oficial.
A arma fez um som suave e uma coisa vermelha bateu no braço do Espécie. Ele
olhou para baixo, seus olhos abertos com surpresa e ele grunhiu antes de lançar-se
adiante e cair de boca abaixo no tapete.
Atordoada Jeanie levou uns segundos para processar o que aconteceu. O homem
de cabelo escuro aproximou-se dela antes de poder gritar.
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Um braço se envolveu ao redor de sua garganta como uma chave de judô e forte o
suficiente para que não pudesse respirar. Ela resistia a se deixar dominar pelo terror. O
loiro apontou a arma para ela.
— Não faça isso. — Disse o que a segurava. — Use a injeção. Temos ordens de
levá-la com vida. Querem interrogá-la e esses dardos são muito fortes para alguém de
seu tamanho, teria uma overdose.
O braço ao redor de sua garganta afrouxou o suficiente para que ela pudesse
respirar. As lágrimas encheram seus olhos enquanto ela arranhava o braço que a
segurava, mas não conseguia se soltar. O loiro guardou a arma em seu colete, colocou a
mão no bolso que tinha na coxa e tirou uma seringa. Usou os dentes para tirar a tampa e
cravou a agulha em seu braço. Jeanie tentou gritar, mas o braço se apertou ao redor da
garganta, eficazmente a silenciando.
— Puxe este bastardo para dentro e feche a porta. Vamos descer pela sacada. Há
muitos deles no andar térreo e poderiam sentir o cheiro dela se tentamos sair pela parte
posterior. Já sabe que podem cheirar uma boceta a uma milha de distância.
O loiro jogou a seringa no chão e caminhou para a porta. Eles drogaram ou
mataram o guarda em sua porta. Ele agarrou o Nova Espécie por um braço e o arrastou
para dentro do apartamento. As fechaduras de metal soltaram um suave clique quando
ele fechou todos do lado de dentro.
Jeanie caiu contra a pessoa que a segurava, seus pulmões lutavam para conseguir
oxigênio. Pontos brilhantes bailavam ante seus olhos e a vontade de lutar era forte, mas
seus membros realmente estavam pesados.
O braço que tinha ao redor da garganta soltou-se e foi para sua cintura. Tentou
gritar tão logo conseguiu respirar novamente, mas caiu para frente. O único que impediu
que caísse contra o chão foi o homem que a segurava.
— O médico disse que faria efeito rapidamente. — Ele ergueu Jeanie e a deixou no
sofá, agachou a seu lado e olhou em seus olhos. — Ela está consciente ainda, mas não é
capaz de mover seu corpo.
Ela piscou, percebendo que ainda estava acordada, mas seu corpo não respondia
a seus comandos. Seus pulmões trabalhavam automaticamente, mas ela não podia nem
conseguem erguer sua mão quando ele agarrou sua mandíbula, empurrando sua cabeça
até que ela olhou fixamente em seus olhos.
— Grite. — Ele exigiu.
Ela não podia nem abrir sua boca. Estava impotente. O homem de cabelos escuros
esboçou um sorriso e se levantou, aparentemente satisfeito ao ver que o efeito da droga
era eficaz. Ela apenas pôde observar o homem tirar o colete para pegar um rolo de corda
de nylon fino e se dirigir ao loiro.
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— Nós faremos isto rápido. Eu a levarei e tão logo estivermos furgão a esconderei
debaixo do banco de atrás. Você dirige. Já praticamos isto. Apenas lembre-se, eles
podem cheirar o nervosismo, então pense em bater naquela sua namorada stripper ou
algo assim quando eles nos pararem no portão. Está claro? Não atrapalhe tudo com
excesso de velocidade, espere até estarmos fora.
— Eu não sou um idiota.
— Eu não disse isso. — O homem de cabelo escuro lançou a corda. — Vamos.
Rápido e em silêncio.
Jeanie sentia náuseas quando a levantou e sem delicadeza a lançou sobre o
ombro. Ainda que estivesse quase curada, sua ferida de bala palpitava pela pressão. Ele
a levou ao quarto de True e abriu a porta de correr da sacada. O loiro chocou contra ela
quando passou junto a eles, seu braço flácido se enredou em sua perna.
— Não a deixe cair. — O loiro brincou.
— Foda-se. Eu não arriscarei meu traseiro por nada. Estamos sendo muito bem
pagos e está claro que não haverá nenhum dinheiro se levarmos um cadáver. Ele precisa
conseguir informações importantes dela.
Abatimento se instalou em Jeanie. Sua mente estava alerta, mas seu corpo parecia
morto.
True! Ela gritou seu nome em sua mente.
— Vamos levá-la para Fuller. Quero ser pago e logo foder.
Tinha que acreditar que True iria atrás dela, rezava em silêncio para que voltasse
para casa logo e percebesse o que aconteceu.
Este homem, Tim, obviamente mentiu para True e a sequestrou para poder
interrogá-la.
* * *
O primeiro sinal de que algo estava errado foi quando True saiu do elevador e
Slash não estava no corredor e captou cheiro de machos humanos. O fedor de água-decolônia
era insuportável e nenhum Espécie a usava, era ofensivo.
Ele tentou abrir a porta, estava trancada. Percebeu que não levou seu cartão.
Bateu na porta, mas não ouviu nada, retrocedeu com seu coração acelerado de medo.
Deu um chute e a porta se rompeu, a madeira estalou e a porta se abriu. Ver o guarda no
chão o enfureceu, saltou sobre o macho e olhou ao redor.
— Jeanie? — Um rápido olhar pela casa lhe disse que ela tinha desaparecido e a
porta da sacada estava aberta. True correu para a sacada, justo a tempo de ver um rosto
humano desaparecer pela borda. True ficou olhando, surpreso quando viu um segundo
descendo pela corda.
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Aquele que estava descendo levava Jeanie sobre seu ombro, o terror se apoderou
dele ao ver sua precária situação. Percebeu que ela estava inconsciente. O macho podia
cair e ela seria incapaz de se agarrar para evitar uma queda mortal.
O humano tinha o braço levantado agarrando a corda e o pescoço do homem era o
único que evitava que Jeanie deslizasse para baixo.
True uivou de raiva, ao não poder fazer nada e levou alguns minutos para avaliar a
situação. Um homem loiro olhou para cima, seu rosto claramente visível nas luzes que
vinham do andar de baixo e True memorizou sua feições antes que o homem girasse e
saísse correndo com seu parceiro de crime.
True agarrou o balcão com força e saltou sobre ele, seus pés encontraram apoio
do outro lado. Estava tentando agarrar a corda, mas temia que o homem se soltasse e
Jeanie caísse no chão. Girou a cabeça, inclinou-se para trás e mediu a distância até o
balcão do segundo andar.
Soltou a borda e caiu um andar inteiro. A sensação de caída era desagradável,
mas ele conseguiu segurar na borda e frear sua queda. Seus músculos se levantaram
pelo esforço de agarrar-se e olhou por cima do ombro, vendo o homem que tinha Jeanie
soltar a corda uma vez que chegou ao pátio.
True se deixou cair e contorceu-se no ar. A queda de seis metros poderia
machucá-lo, mas estava motivado o suficiente pela raiva e o medo para tentar, tinha que
salvar Jeanie.
Os felinos eram melhores em aterrissagens em pé e a altura o machucaria, mas a
terra suave amortizaria o golpe contra o chão, seu olhar buscou o homem que levava
Jeanie. Suas mãos arranharam o chão e ele se empurrou com toda sua força, lançandose
em direção ao homem.
Queria atacar, mas se negava a arriscar que Jeanie resultasse ferida se atacasse o
homem. Ficou diante dele, bloqueando sua saída e soltou um grunhido.
— Solte-a!
O homem parou para não se chocar contra ele e Jeanie deslizou do ombro do
humano. True avançou e a pegou antes que caísse no chão e com um olhar assegurou
que estava viva ao respirar.
Lançou a cabeça para trás e uivou de raiva, o macho humano tropeçou para trás,
freneticamente procurando por uma saída. Não havia nenhuma. True deixou Jeanie no
chão, sobre a grama. O homem deu a volta e começou a correr para salvar sua vida.
Alguém soltou um grunhido do balcão superior e True girou a cabeça em direção
ao ruído. Darkness se levantava, a fúria assassina em seu olhar dava medo, inclusive a
True.
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— Siga o outro. Este aqui é meu. — True empurrou sua cabeça na direção do
macho que fugiu.
— Qual a direção? — Darkness cheirou o ar e sua cabeça girou na direção que o
loiro tomou. — Não importa. Eu peguei seu cheiro humano. — Ele se foi um momento
mais tarde, correndo em perseguição.
Outros três machos caíram sobre o chão agachados, depois de seguirem True
desde o terraço de seu apartamento.
Lançou um olhar a Book, Dagger e Flirt. — Cuidem de Jeanie.
Ele sabia que ela estava a salvo e teria atenção médica.
A indecisão o desgarrou, entre o desejo de permanecer a seu lado e o desejo muito
mais forte de vingar-se do homem que se atreveu a roubar o que era dele.
A vingança ganhou, Jeanie estava a salvo agora, mas este macho poderia vir
novamente por ela. Um grunhido saiu de seus lábios entreabertos e ele saiu correndo. O
homem nem sequer chegou à rua quando True saltou sobre ele. Saltou sobre suas costas
e o golpeou com os punhos.
Bateram na calçada e o humano recebeu toda sua força com o impacto. Ossos
rangeram e o homem parecia incapaz de fazer outra coisa que lutar para respirar quando
True ficou sobre ele, levantando-se.
O humano puxou ar e gritou. True não sentiu compaixão pela agonia que o macho
sofria pela gravidade de suas lesões. Ele tocou Jeanie. Poderia tê-la matado se houvesse
deslizado de seu ombro enquanto descia pela corda. True se agachou e agarrou ao
homem pelos ombros, colocando-o de pé. O homem lançou um soco no rosto de True e
falhou por uns centímetros, mas o punho de True acertou no alvo, partindo sua
mandíbula.
O som repugnante de ossos e pele se rompendo ele mal registrou. True não queria
deixá-lo simplesmente ferido e lhe deu outro soco, desta vez na garganta. Soube antes de
soltá-lo que o homem estava morto, seu corpo caiu no chão.
Observou o morto por um momento, para se assegurar que o filho da puta não
voltasse a respirar. Não tinha nenhum sentimento de remorso ou mesmo culpa. Ele só
sentia muito pelo macho não ter sofrido mais.
Ele correu em direção ao dormitório. Os três homens ainda estavam agachados ao
redor do corpo imóvel de Jeanie. Ele empurrou Book de lado, ficou de joelhos e a pegou
no colo. Seus olhos estavam abertos e ela piscou. Seu nariz chamejou quando ela
respirou.
— Jeanie. — Suas mãos tremeram enquanto, com cuidado, acariciou seu rosto.
— Parece que a drogaram com algo. — Flirt sussurrou, claramente agitado
também. — Ela está acordada, mas não pode se mover ou falar.
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Terror atravessou True, e se seu pescoço se quebrou? Ele examinou seu rosto e
garganta procurando ferimentos, mas não havia nenhum que ele pudesse ver. Seu olhar
travou no seu. — Converse comigo. — Ele implorou. — Diga o que fizeram com você.
Ela piscou, exibição de terror em seus grandes olhos.
— Ela pode piscar. Talvez possa ouvir e entender o que dizemos. — Book rastejou
mais perto. — Não a mova, o médico está a caminho.
Dagger cheirou o ar e suavemente agarrou seu braço.
— Não toque nela. — True grunhiu, afastando a mão do homem.
— Eu cheiro um pouco sangue. — Dagger explicou.
True se abaixou para examinar seu braço e viu a lesão de imediato. A marca era
algo que ele conhecia muito bem. Uma pequena mancha de sangue marcava o local de
uma injeção. — Eles a drogaram.
Alguns homens chegaram correndo e True esperava que estivesse com eles o Dr.
Harris, mas viu apenas Jericho e Jinx vindo em sua ajuda.
O grande primata estava levemente sem fôlego quando parou. — Slash foi
drogado. Ele ainda está caído. — Soltou uma respiração profunda antes de perguntar. —
Ela está bem? O que nós podemos fazer aqui? — Ele girou sua cabeça, olhando
fixamente para a calçada. — Devo entender que aquele está morto?
— Sim. Há outro macho. Darkness foi sozinho atrás dele. — True informou.
Book ficou de pé. — Quem está com Slash?
— Flame e alguns dos outros machos, ele parece ileso, exceto pelo dardo. Será
mais rápido se nós mesmos o levarmos. — Jericho respondeu então se virou para True.
— Nós devíamos fazer o mesmo. Cancele a chamada pelo médico e a levaremos nós
mesmos. É mais rápido. Você quer que eu a leve? Eu pedi a um dos machos para
conseguir dois Jipes.
True olhou para Jeanie. Ela piscou, o medo continuava em seus olhos, mas ele
sabia que era uma suplica dirigida a ele. Esperava que seu corpo e dos outros machos
bloqueassem a visão da calçada. Ela odiava violência e ver um corpo poderia aumentar
seu trauma.
— Você pode me entender, Jeanie? Pisque duas vezes se sim.
Ela piscou duas vezes em uma sucessão rápida.
— Você está ferida? Um para sim, dois para não.
Ela piscou duas vezes. Tirou o peso de seu peito e respirou aliviado. — Você pode
se mover ou falar?
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Ela piscou duas vezes e ele odiou ver os rastros de lágrimas em seus olhos.
Deveria estar se sentindo impotente e era uma emoção que ele entendia muito bem já
que lutou contra isto também. Sua Jeanie foi ferida e ele não esteve ali para protegê-la.
— Está bem se eu te levantar e te levar a um Jipe?
Ela piscou uma vez.
Passou uma mão debaixo de suas coxas, a outra pelas costas e a ergueu em seus
braços. Umas mãos fortes a agarraram pelas axilas e os outros Espécies o ajudaram a
ficar de pé. Seu corpo pequeno evidenciava ainda mais sua fragilidade.
— Vamos. — Ele não deixava de olhar seu rosto, procurando por quaisquer sinais
de dor em seus olhos enquanto caminhava rapidamente pelo edifício.
Dois Jipes os esperavam. Flame e outro macho entraram na parte traseira com o
macho drogado entre seus corpos. Outro saltou para o assento do motorista e colocou em
marcha o veiculo. Jericho ocupou o assento do motorista do segundo Jipe.
— Os médicos estão nos esperando. — Ele de alguma maneira conseguiu uma
unidade de Segurança com microfones para entrar em contato com eles. Tocou o
dispositivo e disse. — Vamos com ela.
True foi ajudado por Jinx e Flirt a colocá-lo no assento traseiro do Jipe. Dagger
saltou para a parte de trás e colocou seu corpo atrás do assento, agachou e a segurou
pelos ombros.
— É melhor colocar o cinto de segurança. — Disse. — Mova-se, Jericho. Acelere!
O Jipe balançou quando o primata pisou no acelerador e se lançou para frente.
True olhou para Jeanie enquanto a segurava.
— Sinto muito. — Disse com voz rouca. — Não deveria ter deixado você. — O
pesar se mostrava em seus olhos expressivos. — Mais rápido. — Ele exigiu, sem deixar
de olhar para ela.
Pareceu uma eternidade antes de chegar ao edifício. Havia uma grande atividade
ao seu redor e o velho Dr. Harris e Midnight já estavam do lado de fora, com uma maca.
True os ignorou enquanto saia do Jipe com sua carga preciosa.
— Qual quarto?
— Três. — Respondeu Midnight, com a voz mais profunda que o normal,
mostrando seu estresse.
— Nós recuperamos a seringa e o dardo. Temos alguém tentando identificar a
droga que lhes deram.
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Ele não se importava nem um pouco. Apenas queria que Jeanie ficasse bem.
Apressou-se pelo corredor e a deitou na cama da sala de exame três. Dr. Harris e Paul os
seguiram.
— Afaste-se, True. Nós vamos fazer tudo por ela. Provavelmente a droga levará
horas para se dissipar. — O Dr. Harris pegou uma lanterna minúscula e curvou-se sobre
Jeanie, examinando seus olhos.
— Foda-se. — Ele não iria a qualquer lugar.
O Dr. Harris murmurou uma maldição suave quando agarrou o pulso de Jeanie,
sentindo seu pulso. — Estável, mas lento. — Ele anunciou depois longos segundos. —
Vou conectá-la a um monitor. Suas pupilas estão dilatadas. Eu vou precisar…
True não ouviu a voz do Dr. Harris enquanto estava ao lado de Jeanie. Ela buscou
seu olhar e ele se inclinou.
— Eu estou aqui mesmo. — Disse com voz rouca.
— True? — Uma mão gentil tocou seu braço.
True se virou e olhou para Breeze.
— Justice quer que saiba que não encontraram o outro humano. — Ela falou
devagar, suavemente, cada palavra pronunciada com cuidado. — Sei que está muito
irritado neste momento. Todos estamos. Não pode fazer nada aqui por ela. Midnight ficará
com ela, de acordo? Você viu o outro humano bem o suficiente para identificá-lo? Isto é
importante. Nós precisamos de todos que o viram. Quanto mais rápido nós o
identificarmos, mais rápido isto terminará.
Estava tentado a dizer não, com esperança de não ter que deixar Jeanie. Queria
pegar o bastardo, entretanto. — Sim. Eu vi seu rosto.
— Nos dará mais detalhes. — Ela usou sua mão livre para apontar o receptor do
telefone. — Pensamos que vieram da Prisão Fuller. Temos dois machos humanos
registrados na entrada e são os únicos estranhos. Localizamos seu furgão, mas não eles.
O humano que você pegou… — Ela pausou e olhou para Jeanie sussurrando. — Um, era
impossível identificá-lo com a foto que foi tirada no local, com tanto dano facial, então foi
enviado para Segurança. Temos gravações destes homens entrando em Homeland e
precisamos vê-las.
— Darkness permitiu que o outro macho escapasse?
Breeze fez uma careta. — Eu não diria que ele permitiu, está um pouco irritado, ao
julgar pelas palavras que ouvi. Captou seu cheiro e estava atrás do homem, mas este
cruzou uma de nossas estradas e desapareceu. Ele e outros machos que ajudavam não
puderam seguir o cheiro.
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Uma fúria assassina apertou seu peito outra vez enquanto olhava para Jeanie. Ela
piscou para ele e um pouco de seu medo aliviou. Ele aproximou-se, olhando em seus
bonitos olhos.
— Você está bem?
Ela piscou uma vez.
— Diga novamente para ter certeza. Pisque duas vezes agora se estiver realmente
bem.
Ela piscou duas vezes.
— Eu preciso fazer algo, mas voltarei logo. Está tudo bem? Um para sim, dois para
não.
Ela piscou uma vez.
Ele não queria deixá-la. Era contrário a seus instintos, mas o homem loiro estava lá
fora livre. Precisava ser encontrado. Jeanie estaria em risco até que ele fosse capturado.
— Tenho dúzias de homens vigiando o Médico. — Breeze pareceu ler sua mente.
— Estão preocupados e horrorizados com o que aconteceu. Ela está totalmente segura
aqui, True. Esse humano será despedaçado se ousar entrar neste edifício em uma
tentativa de chegar a ela. Este é o lugar mais seguro em Homeland agora mesmo.
Midnight ficará aqui também.
Ele buscou o olhar da outra mulher. Ela sorriu um pouco tensa. — Eu não deixarei
seu lado. Como cola, de acordo? Sei o muito que significa para você. Eu morreria antes
de deixar que algo acontecesse. Juro.
— Maldição. — Dr. Harris murmurou. — Eu darei você um cartão se isso fizer com
que vá. — Ele estudou o monitor. — Ela parece estável. Eu preciso de um exame de
sangue completo.
True olhou para Jeanie. — Eu voltarei logo. — Ele roçou um beijo em sua testa e
ela fechou os olhos. Ele afastou-se antes que pudesse mudar de ideia, lançando a
Midnight um olhar preocupado.
— Como super cola. — Ela jurou. — E sabe que esta merda é tão forte que se não
tem cuidado gruda nos dedos e arranca sua pele ao tentar separá-los.
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