terça-feira, 4 de novembro de 2014

Capítulo 10

Capítulo Dez
True sorriu quando Jeanie girou lentamente na frente dele com sua calça de
moletom. Ela estava enrolada nos tornozelos e algumas vezes na cintura para ficar
estreita o suficiente e evitar que caísse do quadril. O resultado era engraçado, mas
inquietante ao mesmo tempo. O excesso de tecido em seu estômago debaixo da camisa
muito folgada dava a ela uma aparência leve de gravidez.
Sua mente ficou ali, imaginando como seria se ela carregasse seu filho. Suspeitava
que a leve sensação de dor em seu peito fosse desejo. Ter uma companheira e criar uma
vida com ela era algo que todo macho queria. Significaria que poderia estar sempre com
Jeanie.
Afastou esses pensamentos.
— Vamos. Você precisa tomar sol e precisamos conseguir lhe algumas roupas que
sirvam. As minhas são muito grandes. Flame levará minhas coisas para a nova casa no
corredor abaixo quando sairmos.
Ela hesitou. — Você tem certeza que não podemos apenas fazê-los enviarem
nossas coisas aqui
Inalou, captando o rastro leve de medo em seu doce cheiro. Esticou a mão. —
Confie em mim. Sair será bom para você já que não quero que se sinta presa dentro da
minha casa e poderá escolher o que quer vestir. Caso contrário eles trarão o acham que
poderia gostar.
Ela mordeu o lábio inferior.
Ele suspirou. — Você não quer ver Homeland? Não tem curiosidade?
— Sim. — Interesse finalmente faiscou em seus olhos. — Eu sempre desejei que
alguém mostrasse fotografias de Homeland nos artigos sobre os Novas Espécies, mas
nunca mostraram.
— Não permitimos que repórteres entrem em Homeland ou na Reserva. É mais
seguro que ninguém conheça as curvas das ruas e os edifícios para o caso de querer nos
atacar. A terra da ONE é uma zona sem trafego aéreo. Também a lei proíbe que subam
em árvores ou usem telescópios para olhar por cima dos muros ou fazer vídeos. Todas as
conferências de imprensa são fora dos muros.
— Eles não têm seis metros de altura?
— Nove na maioria dos lugares.
— Isto é bem alto.
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Ele puxou a mão dela, levando-a pela porta quebrada no corredor. Flame sorriu
para os dois, mas continuou em silêncio e fora do caminho. Jeanie caminhava devagar,
então ajustou seu passo ao mais curto dela. A conversa pareceu distraí-la então
continuou compartilhando informações que ela pudesse achar interessante.
— Nós não permitimos que fotografem nossas fêmeas.
— Eu sabia. Apenas não sabia porquê.
— Todos os homens que foram fotografados ou compareceram à conferências de
imprensa sofreram ameaças de morte e receberam cartas de ódio. Não queremos que
nossas mulheres passem por isto.
— Isso faz sentido.
Seguiu-o para dentro do elevador e sorriu enquanto as portas se fechavam. Seu
comportamento mudou uma vez que alcançaram o andar principal, entretanto. Os homens
na sala comunitária grande pararam de assistir a televisão de tela grande para fixar suas
atenções nela em vez do jogo.
— Está tudo bem. — Disse, agarrando-a pela cintura e usando seu corpo para
protegê-la de muitos dos olhares fixos. Ela olhou ao redor da sala enquanto ele a
arrastava em direção às portas principais.
Um dos homens se levantou. — True? Tem um momento?
O primata tinha antecedentes de aversão aos humanos. True parou, guiando
Jeanie para trás dele para mantê-la longe do macho. — O que você quer?
O macho grunhiu. — Eu não gosto dela aqui. Ofende-me que esteja sob o mesmo
teto. Você a está retornando aos humanos? Ali é onde pertence em vez do final do
corredor onde eu durmo.
— Retroceda. — Advertiu. — Ela está comigo e aqui é onde ela permanecerá.
Sente-se, 861.
O macho inchou seu peito e fechou os punhos. — Ela é nossa inimiga.
— Não minha.
— Ela é perigosa e uma ameaça.
True bufou. — Você devia conversar com um daqueles psicólogos que nos
obrigaram a ver quando fomos libertados se tem medo de uma fêmea. Isso, ou pedir a
Fury por mais treinamento já que pensa que é incapaz de se defender de alguém tão
pequeno.
861 silvou. — Entendo a atração de montá-la, mas depois a envie de volta para sua
cela. Deve sempre guardar no lugar seus brinquedos quando terminar de brincar com
eles.
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True empurrou Jeanie mais para trás dele e a soltou para livrar suas mãos. O
homem parecia disposto a atacar e esperar poder fazê-lo sangrar pelo insulto. Olhou ao
redor para ver se havia outras ameaças. Alguns dos homens que foram liberados de uma
instalação no Colorado se levantaram também, mas ficaram para trás. Eram conhecidos
por sua real aversão a todos os seres humanos, o tratamento que sofreram durante seu
cativeiro os deixou amargurados. Book se levantou, inclinou-se agarrou uma das
luminárias da mesa. Deu um puxão e o arrancou da parede.
— Ordeno que todos os machos marchem para seus quartos. — Book exigiu com
um grunhido suave. — A fêmea está aqui com permissão de Darkness. Não querem irritálo.
— Pausou. — True e eu seríamos a menor de suas preocupações.
True ficou contente pois o macho não estava disposto a atacar. Ainda o
preocupava que os outros pudessem decidir lutar. Um deles poderia passar por ele e
Book para ir atrás de Jeanie.
861 se recusou a recuar. — Eu não a quero aqui.
— Talvez deva fazer algo melhor com seu tempo do que assediar uma humana
indefessa. — Book aproximou-se de True, colocando seu corpo entre os machos e Jeanie
também. — Faça isto agora. Você não quer ir atrás de outra humana como fez uma vez.
Breeze e nossas fêmeas não deixaram você exatamente se esquecer, não é? Não é
nenhuma surpresa que tente insultá-lo por realmente ter uma mulher em sua cama.
— Amante de humanas. — 861 rosnou.
— Eu amo todas as mulheres. — Book grunhiu de volta. — Está com ciúme por
não poder montar uma? Nota-se. — Sorriu maliciosamente, quase se atrevendo a
avançar.
— Vai haver uma briga se minha audição aguda não ouvir o programa de televisão.
— Um novo macho entrou na sala comunitária do corredor. — E é sobre uma fêmea. É
rude insultar uma.
True olhou para Query, identificando o macho como um de Drackwood. O macho
rodeou os sofás e olhou de volta para True, obviamente localizando Jeanie. Pareceu
surpreso antes de seus lábios se torcerem em uma careta enquanto observava 861 e
seus dois companheiros.
— Ele trouxe uma humana para debaixo de nosso teto. — Um deles cuspiu. — Ela
é nossa inimiga. A única coisa para que servem é serem montadas e jogadas em uma
jaula depois.
Query alargou seus passos, ficou atrás dos três machos e agarrou o que falava
pela parte de trás do seu pescoço. Ele se inclinou mais perto, colocando seus lábios perto
da orelha.
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— Eu vou arrancar seu pênis, — ameaçou, — depois alimentarei você com ele e
assistirei como sufoca até a morte se sequer pensar novamente em tocar nessa fêmea.
Você me entendeu?
Suas palavras chocaram a todos. Ele deu uma sacudida forte no macho e o soltou,
mostrando seus dentes.
— É melhor você correr. Sabe que tenho um temperamento ruim.
Os três machos olharam um para o outro, obviamente assustados, e subiram em
direção aos degraus, dois de cada vez. True relaxou e olhou de volta para Jeanie. Ela
estava pálida, mas não parecia com medo. Ele a cheirou, achando seu cheiro não doce
demais. Olhou para Query, depois para Book.
— Obrigado.
Query encolheu os ombros. — Aqueles três são inconvenientes. Que nossas
fêmeas os desprezem apenas os deixa mais irritados.
True não estava certo do que isso significava e deve ter mostrado em sua
expressão.
Book sorriu, fixando a luminária em uma mesa. — 861 uma vez tentou atacar a
companheira de Valiant. Breeze não tomou isto muito bem já que gostava dela e as
fêmeas evitaram compartilhar sexo com aqueles três. Eles estão cheios de ódio. — Ficou
sério. — Se recusaram a escolher nomes e minha suposição é que isto os ajuda a manter
sua amargura. — Empurrou sua cabeça em direção a Jeanie. — E você a trouxe para
casa. Fique de olho neles. Entendeu? Não me estranharia que fizessem algo tolo. Eles
são legais para passar o tempo, mas eu iria querê-los perto de uma humana que me
importasse? De jeito nenhum.
True cerrou seus dentes. — Você acha que eles poderiam vir atrás dela em minha
casa?
— Não depois disto. — Query sussurrou, esticando seu pescoço para dar outra
olhada em Jeanie.
True avançou e olhou para o macho. — O que você está olhando?
Book limpou sua garganta. — Eu terei uma conversa com eles para me certificar
que entenderam o quão estúpido seria ir atrás de sua humana. Darkness também será
informado do comportamento deles. Onde você a está levando? — Ele cruzou seus
braços sobre seu peito. — Não me diga que enfrentou todos apenas para recuar agora a
devolvê-la à custódia de Tim.
— Nunca. Ela precisa de roupas.
— Certo. — Book se virou. — Eu vou lá em cima ter aquela conversa com eles e
encontrar Darkness para atualizá-lo.
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True virou-se para Jeanie e odiou ver a dor em seus olhos. — Está tudo bem.
— Eu sabia que sair do seu apartamento não era uma ideia tão boa.
Pegou sua mão. — Nem todo Espécie superou o passado. Não permita que eles a
assustem. Eles não ousariam te machucar. — Eu os matarei se eles tentarem, disse
silenciosamente.
— Shiver. — Query disse. — Tinha a esperança de que pudesse ser você quando
ouvi os rumores de uma humana em Drackwood. Não podia entender por que um dos
nossos machos protegeria alguém de outra maneira.
True girou, rosnando uma advertência. Não gostava do jeito que o macho
avançava ou o interesse óbvio que demonstrava.
* * *
Jeanie olhou do lado de True e viu 716. Cuidou do homem depois de uma surra
severa que ele levou por se recusar a lutar com outro Nova Espécie. Os imbecis que o
treinavam quebraram ambos seus braços. Ela o alimentou diariamente até que seus
braços se curassem e conseguiu lhe dar alguns doces.
True soltou sua mão e ficou entre eles. — Ela não é nossa inimiga.
— Eu sei disto. Eu não fico por aí ameaçando machucar outros machos só pelo
prazer. — Sua expressão suavizou. — Oi, Shiver. — Sorriu de forma cálida. — É bom ver
você novamente. Eu sou agora conhecido como Query. — Riu. — Sou muito inquisitivo.
Pensei que o nome combinava. Ouvi que foi baleada, Shiver. Você está bem?
Emoções a sufocaram ao vê-lo parecendo tão saudável e forte. — Estou bem.
Você parece ótimo. Como estão os braços?
Ele os moveu e fechou os punhos. Os músculos se agruparam em seus braços
nus, exibidos claramente pela camiseta que vestia. — Ótimos, graças à você. — Tentou
se aproximar, mas True bloqueou seu caminho. Ele olhou-o, franziu a testa, mas pareceu
decidir encolher os ombros. — Você conseguiu me deixar viciado em biscoitos de aveia.
Nenhum deles é tão bom quanto aqueles que você me levava, entretanto.
O medo que sentiu por True quase entrar em outra briga acabou sob seu elogio. —
O segredo é que eu ponho molho de maçã e canela na mistura quando os asso. Eu posso
te dar a receita.
— Eu gostaria. — Girou para True. — Ela está com você?
— Sim.
Query franziu a testa. — Como?
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Jeanie se moveu, agarrando a mão de True mais uma vez. Ela ficaria de coração
partido se ele e Query lutassem do modo que ele lutou com Flirt. — Ele está me
protegendo. — Depressa declarou. — Ele me salvou de ser mandada para a prisão.
Query olhou para ela de sua altura maior. — Vocês são um casal?
Não tinha certeza de como responder. True a levou para sua casa e se envolveram
fisicamente, mas isso significava que eles estavam em uma relação real? Não estava
certa.
— Nós somos. — True declarou.
Jeanie olhou para ele, mas parecia muito atento em encarar o outro macho para
dar a ela qualquer atenção. Olhou a expressão de Query para ver como ele recebia as
notícias. Suas feições tensas relaxaram.
— Bom. Ela me tratou bem e deixou minha vida mais fácil enquanto estava em
Drackwood. Eu lutaria com você por ela se não tivesse boas intenções.
True tentou escapar de sua mão, mas ela o agarrou. — Ele nunca me machucaria
ou faria qualquer coisa ruim. — Forçou um sorriso e de propósito mudou o assunto. — Eu
gosto do seu nome.
Os dois homens olhavam fixamente um para o outro, mas Query finalmente voltou
sua atenção para ela. — Obrigado. Eu faço muitas perguntas. — Olhou de volta para
True. — Eles estão a acusando porque trabalhou em Drackwood?
True encolheu os ombros. — Eu não sei. Ela também trabalhou em Cornas. Estou
tentando achar provas de que ela estava em ambos os lugares para ajudar nosso povo.
Query assentiu. — Nós podíamos juntar aqueles de nossa instalação e fazê-los
testemunhar sobre sua generosidade e as coisas que ela fez para deixar nossas vidas
melhores.
— Poderia ser útil. — True hesitou. — Um humano a estava usando para juntar
evidência e cobrar as recompensas.
Query assentiu. — Posso contatar com todos de nossa instalação de testes e
podemos formar uma equipe para trabalhar juntos na busca deste humano. A maioria de
nós trabalha com segurança e temos acesso a computadores. Este humano deve ter uma
carteira de motorista ou alguma forma de identificação que possamos localizar por
registros. O mundo lá fora nós dá acesso a seus bancos de dados.
True assentiu. — Pedi a nossa equipe especial que procurem este homem, mas
quero que o façamos também.
— Feito. — Query concordou. — Ligarei para nos reunirmos depois de meu turno e
teremos uma chuva de ideias.
— Você precisará das informações dela.
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— Por que não a traz para a biblioteca às sete horas? Deve ser grande o suficiente
para caber todos e eles terão muito prazer em ver Shiver.
— Tudo bem.
Query olhou para Jeanie, depois de volta para True. — É provável que queira
mantê-la em casa até então. Ainda há muita hostilidade em alguns dos nossos com
relação a qualquer ser humano associado às instalações de provas. Estes três homens
são excelentes exemplos. Nem todos tiveram experiências positivas para entenderem
porque lutamos para mantê-la a salvo.
— Vou levá-la para comprar roupas.
— Entendo. Evite áreas grandes com muitos dos nossos. — Query advertiu. — Eu
iria com você, mas preciso me preparar para trabalhar. Fury fica irritado quando apareço
sem uniforme ou se chego atrasado.
True assentiu. — Tudo bem.
Query colocou a mão dentro do seu bolso dianteiro e tirou um conjunto de chaves.
— O carro dezenove é meu. Use-o e deixe as chaves debaixo do banco quando voltar.
Irei correndo para minha estação. Ela está sem sapatos e não deve caminhar tão longe.
— Eu planejava carregá-la.
Query olhou para Jeanie e riu. — Ela certamente não te esforçaria.
— Não. Ela não iria. — Aceitou as chaves.
— Vejo você às sete. — Query sorriu para Jeanie novamente. — É bom ver você e
adoraria aquela receita.
— É sua. Eu a escreverei na primeira chance que tiver.
Query girou e foi em direção ao elevador.
Jeanie olhou para True. — Eu posso esperar pelas roupas. Você quase entrou em
outra briga.
— Não importa. Nós vamos mesmo assim. — Ele se inclinou um pouco, olhando
fixamente em seus olhos. — O quão íntima você era dele?
Olhou para Query enquanto entrava no elevador antes de segurar o olhar de True.
Sua expressão era a mesma de quando a interrogou sobre Flirt. Entendia porque estava
perguntando isto. — Eu cuidei dele quando foi ferido. Se estiver perguntando se ele já
mostrou um interesse sexual por mim, a resposta é não.
Piscou. — Certo. Vamos.
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True a levou para fora para os raios brilhantes de sol e soltou sua mão. Ofegou
quando a agarrou pela cintura com um braço, curvou, a enganchou atrás de seus joelhos
com a mão e a ergueu em seus braços.
— O chão está quente e seus pés são muito delicados para não queimar.
Envolveu seu braço ao redor dos seus ombros largos. — Obrigada. Eu poderia
caminhar, entretanto.
— Não há necessidade. — Girou, caminhou a passos largos para uma linha de
carrinhos de golfe estacionados ao lado do edifício. Cada um tinha números impressos no
lado próximo a roda dianteira. — Eu não arriscarei você ser ferida.
Suavemente a colocou no banco e circulou o carro. O assento era pequeno então
acabaram apertados. Não importava. True ligou o motor, recuou e começou o passeio. O
tráfico consistia em alguns outros carros de golfe e um SUV. Alguns Jipes estavam
estacionados na frente de edifícios e Novas Espécies caminhavam ao longo das
calçadas. Não havia muitos, mas aqueles que ela viu se viraram para olhar para ela à
medida que passavam.
— É como uma cidade pequena. Há tanta grama e dificilmente quaisquer veículos.
— Nós temos um bar aqui onde dançamos.
Isso a surpreendeu um pouco por alguma razão. Olhou para ele em vez de ao
redor. — Você dança?
Olhou para ela. — Sim.
— O quê? — Ela era realmente curiosa.
— Música.
— Eu quis dizer que tipo?
— Algo com uma boa batida. É uma das melhores coisas que descobrimos desde
que fomos libertados.
Ficou quieta, mentalmente tentando imaginar True em uma pista de dança. Ele era
grande, musculoso, e as mulheres provavelmente adorariam uma desculpa para esbarrar
nele. Ciúme voou por sua cabeça quando se perguntou quem o ensinou, se foi rápido ou
lento e se levou a sexo.
O carro diminuiu a velocidade até parar e Jeanie forçou sua atenção para o
exterior. Eles estacionaram na frente de um edifício grande. As janelas eram escuras e as
duas portas da frente estavam fechadas. Nenhum sinal declarado do que era.
— Edifício de Abastecimento. — Ele a informou, desligando o motor. — Fique aqui.
Vou pegar você. Não esqueça que o chão está quente. — Ele a ergueu em seus braços.
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— Nós também temos uma pista de boliche aqui em Homeland. Apreciamos este esporte
e até temos um cinema. Todos adoram assistir filmes em uma grande tela.
Jeanie envolveu seus braços ao redor de seu pescoço. Gostava de True
segurando-a apertado contra seu peito e notou novamente o quão bem ele cheirava. Suas
palavras foram entendidas e ela riu.
— O que é engraçado? — Parou, olhando fixamente para ela.
— Jogo de boliche. Eu nunca joguei, mas acho engraçado chamar isto de esporte.
Eu pensei que fosse um jogo.
— Assim como futebol e beisebol, mas são considerados um esporte.
Ela sorriu. — Você está absolutamente certo.
— Eu te levarei para jogar boliche para poder experimentar. — True começou a
andar novamente.
As portas eram automáticas e se abriam quando eles se aproximaram.
Rapidamente piscou para se ajustar ao interior mais escuro. Parecia ser um armazém
com toneladas de prateleiras altas. Havia um Nova Espécie sentado atrás de uma
escrivaninha, usando um computador. Ergueu sua cabeça e se levantou enquanto True a
levou direto para ele. Suavemente a colocou em pé.
— A fêmea precisa de roupas, artigos pessoais e sapatos se você tiver.
O felino franziu a testa. — Ela é a de Mercile?
— Ela é de Drackwood e não use esse tom. — True advertiu. — Você tem itens
das Presentes ou não?
Jeanie ouviu esse termo antes e quis perguntar o que era uma Presente, mas se
conteve. O Nova Espécie com cara severa atrás da escrivaninha não parecia feliz por têla
dentro de seu armazém. Ficou tensa, esperando que True não estivesse prestes a
entrar em outra discussão com alguém por causa dela. A culpa parecia inevitável porque
continuava colocando True na posição de ter que defendê-la. Os dois machos olharam
um para o outro. A tensão era tangível.
— Está tudo bem se não tiver nada de meu tamanho. — Sussurrou, desejando que
convencesse True a ficar em casa.
— Não. Você conseguirá as coisas. — True não desviou o olhar do outro macho.
— Ela é uma convidada aqui, ficará em minha casa.
O outro macho cedeu desviando o olhar. — Tudo bem. Quanto tempo ela ficará
com você?
— Indefinidamente.
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O Novo Espécie olhou para o corpo de Jeanie, parecendo examinar seu tamanho.
— Qual é sua preferência de cheiro?
— Baunilha e coco para seu cabelo. — True imediatamente respondeu.
Chocou Jeanie que ele se lembrasse qual o cheiro de xampu e condicionador que
ela normalmente usava. Espécies tinham um ótimo olfato, mas ela tomou banho no
hospital, usou os produtos deles, antes que a levasse para casa com ele. Tinha estas
informações do passado.
— Eu tenho. — O macho confirmou. — Posso adivinhar seu tamanho. Eu a
abastecerei por duas semanas, mas deve comprar mais coisas pela internet. As
Presentes fazem isto. — Girou, desaparecendo atrás de uma estante alta.
True girou para ela e seu sorriso pareceu forçado. — Ele não demorará muito.
— O que é uma Presente? — Manteve a voz baixa.
— Fêmeas Espécie pequenas.
— Por que elas são chamadas assim?
Um músculo junto a sua mandíbula se torceu. — Elas foram criadas pela Mercile
para serem usadas como presentes para investidores. Nós recuperamos algumas
informações nos poucos registros que encontramos.
— Presentes para investidores? O que isso quer dizer?
Seus olhos bonitos refletiam ira. — Elas foram propositalmente criadas menores e
mais fracas assim eficazmente não podiam lutar. — Hesitou. — Mercile era financiada por
alguns machos humanos ricos que sexualmente abusavam das fêmeas. As Presentes,
por serem parte animal, eram consideradas como uma gratificação e pagavam muito
dinheiro para consegui-las. A maior parte dos registros foi destruída, deixando difícil
descobrir de onde o dinheiro vinha e quem poderia tê-las, evitando assim que
salvássemos as fêmeas.
Jeanie olhou fixamente para ele enquanto absorvia suas palavras. Balançou-se em
seus pés e poderia ter caído se ele não a tivesse agarrado pelos quadris. — Oh meu
Deus. — Ficou enjoada, imaginando algo tão apavorante.
— Eu sinto muito. Deveria ter falado de forma mais gentil.
Agarrou seus braços, feliz pelo suporte. — Eu destruí o computador central em
Cornas. — Sentia náuseas. — Eu não sabia, True. Apaguei informações que poderiam ter
ajudado a encontrar algumas delas?
Ele a puxou contra seu corpo. — Eu não sei.
Ela se agarrou nele, fechou seus olhos. Suas mãos deslizaram pelos braços para
agarrar os ombros dele. Suas pernas pareceram se tornar geleia. — Apenas queria
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impedir que os seguranças jogassem gás nos Novas Espécies que estavam presos em
Cornas.
— Está tudo bem. — Descansou seu queixo no topo da cabeça dela e envolveu os
braços firmemente ao redor de sua cintura em um abraço apertado. — Você sentiu que
não tinha nenhuma escolha. Acredito nisto. Você fez o que pensou que fosse melhor.
Salvou suas vidas.
Mas a troca de quantas? Esta pergunta a assombrava. Não ousou dizer em voz
alta. Não é de admirar que a equipe da força tarefa quisesse tanto saber o que estava
naqueles computadores e por que agiram como se uma coisa tão terrível o que fez.
Poderia tê-los ajudado a encontrar algumas daquelas mulheres.
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