CAPÍTULO TRÊS Í
Becca acordou com um sobressalto, confusa no início sobre onde estava, antes da lembrança vir à tona. Estremeceu, se lembrou da maior parte da sua conversa de bêbada com seu hóspede e prometeu que pedir desculpas a Brawn seria a primeira coisa que faria pela manhã. Olhou para seu relógio de cabeceira e viu que era quase três da manhã. A razão pela qual acordou aos pulos soou novamente.
Franziu a testa, escutando os latidos persistentes de Boomer, o cão amado de seus vizi-nhos. Não era normal para o pequeno cão ser tão barulhento, especialmente no meio da noi-te. Empurrou as cobertas para sair da cama. Atravessou o quarto, agarrou a cortina e puxou al-guns centímetros para olhar por cima do muro que separava a propriedade da outra por trás da dela.
Podia ver a casa de Mel e Tina do segundo andar de seu quarto e franziu a testa à visão que seu olhar sonolento encontrou. A casa estava totalmente iluminada, cada cômodo aceso o que não era normal também. Seus vizinhos estavam em seus quarenta e tantos anos, trabalhavam das nove as cinco durante a semana e normalmente só via algumas luzes acessas a qualquer hora. Era alta-mente duvidoso que estivessem fazendo uma grande festa no meio da semana, pois nunca fize-ram.
Boomer latiu rapidamente, um som agudo veio dele e ficou assustadoramente silencioso. O coração de Becca parou e ela se virou, correu para seu armário e o abriu. Seus dedos traçaram a prateleira superior, encontrou o material de seda e o puxou para baixo. Correu para a janela com o binóculo de Bradley e o levou aos olhos enquanto puxava a cortina com o cotovelo. A manipulação rápida das lentes colocou a casa do vizinho em foco.
No início, não viu nada de anormal. Mel e Tina não tinham cortinas ou persianas na parte tra-seira de sua casa. As casas eram muito distantes para se preocuparem com a necessidade de tê-las. Todos os terrenos das casas eram grandes para que as pessoas que viviam no bairro tivessem, naturalmente, privacidade, a menos que alguém usasse binóculos para espiá-los.
A sala estava vazia. Moveu os binóculos até a cozinha aparecer, ainda não encontrando qual-quer movimento. Moveu-se para a sala, onde Tina estava sentava em uma cadeira. O cabelo loiro platinado da mulher era algo fácil de notar, sua cabeça se agitava freneticamente e teve uma visão de algo prateado sobre a sua face inferior.
— Que diabos? — Becca estava confusa com o que viu no rosto da outra mulher e depois en-tendeu. — Oh meu Deus! — Alguém cobriu a boca de sua vizinha com fita adesiva. Precisava ligar para a polícia. Estavam sendo roubados!
Enquanto começou a se virar para procurar o telefone, alguém grande, vestido de preto, en-trou na sala de Tina. Apesar de estar de costas, sabia que era um homem pelo seu tamanho. Sua mão se levantou. Um leve som de estalo chegou ao seu ouvido quando Tina caiu para trás na ca-deira. Laurann Dohner Brawn
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— Merda! — Becca sussurrou. O rosto de Tina foi destruído. Sangue, sangue e uma massa disforme com cabelo loiro platinado eram tudo o que restava. O ladrão assassinou sua vizinha, com um tiro no rosto.
Becca se virou, jogou os binóculos de lado e correu para sua mesa de cabeceira. Sua perna bateu na cama e quase caiu no quarto escuro, mas encontrou o telefone na mesinha. Seu ouvido encontrou silêncio em vez do tom de discagem, quando levantou o receptor. Estava com medo de acender a luz, não queria se arriscar a alertar o assaltante caso se aproximasse para olhar o quin-tal. Discou o número. A droga do telefone estava mudo.
Não entre em pânico e pense! Meu celular! Deixou a bolsa lá embaixo em algum lugar perto da porta da frente. Abriu a primeira gaveta bem devagar, seus dedos procuraram e encontraram o frio metal e pegou a arma. Pesava em sua mão, mas que se dane se iria deixar aquele idiota tam-bém matar Mel e escapar. Poderia ainda estar viva e poderia não ter tanto tempo até a polícia chegar.
Tropeçou na porta, bateu na parede ao lado dela e deixou-a aberta. Becca ignorou o inter-ruptor da luz no corredor, sabendo que o ladrão iria ver as luzes se acenderem se estivesse olhan-do em direção ao quintal dela. Um soluço escapou de sua garganta.
Tentou se manter calma enquanto corria pelo corredor escuro, calculou mal a posição da mesa e bateu nela. Becca xingou baixinho e segurou o joelho. Pulou alguns passos e agarrou a ar-ma mais apertado para evitar que caísse.
Um movimento a fez ofegar quando uma forma escura se moveu a sua frente. Abriu a boca para gritar, mas se lembrou que Brawn estava em sua casa. A sombra escura ficou na frente de seu quarto. Um grande alívio se apoderou dela enquanto mancava para mais perto.
— Acabei de ver minha vizinha ser assassinada. — Sussurrou. — Não acenda as luzes. O ho-mem pode vê-las e ir embora. Estou chamando a polícia.
— Você tem certeza?
— Atirou no rosto dela. — Becca engoliu seco e sentiu as lágrimas quentes escorrendo por seu rosto. — Você não ouviu o som de... — Fez um som chorando — Ela está morta. Seu rosto es-tava destruído e havia sangue. Meu celular está na minha bolsa lá embaixo. A linha telefônica está muda no meu quarto. Não quero que o homem escape. — Passou por ele até as escadas.
Um par de mãos, de repente agarrou seu braço.
— A linha telefônica está muda?
— Sim.
Rosnou.
— Deixe-me ir. Tenho que pegar meu celular e tenha cuidado, peguei a minha arma. Esse idi-ota não vai fugir se eu tiver que atirar no desgraçado para mantê-lo ali até a polícia o prender.
— Quantos homens você viu?
— Um. Deixe-me ir. Tenho que chamar a polícia e chegar lá antes do cara fugir.
— Você não acha preocupante o fato de sua linha telefônica estar muda e sua vizinha ter sido assassinada? — Sua voz era suave. — Fique aqui. Tenho um telefone celular no meu quarto. Não se mova. Laurann Dohner Brawn
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Becca se encostou na parede, percebendo que suas emoções estavam embaralhadas pelo sono e o choque e que provavelmente não era uma ideia brilhante escalar um muro para enfrentar um assaltante com uma arma. Enquanto não descobrisse que alguém o viu, tomaria seu tempo roubando a casa e ela não viu Mel. Poderia estar com Tina ou já estar morto.
— Certo.
As mãos a soltaram e ele voltou para o quarto. Ela ficou ali segurando a arma, tentando se recompor. Enxugou as lágrimas, se acalmou o suficiente para perceber que ainda estava um pouco bêbada e Brawn estava certo. Chamar a polícia era fundamental. A voz suave de Brawn acalmou seus nervos em frangalhos quando se aproximou dela. Sua forma escura parou a centímetros dela.
— Envie a polícia e ajuda. — Ordenou, a luz tênue de seu telefone celular morreu quando fe-chou.
— Entrei em contato com meu povo e nos enviarão ajuda em breve.
— Dê-me seu telefone. Precisamos ligar para a polícia.
— Eles estão fazendo isso agora. Estão nos enviando ajuda.
— Nós não precisamos de ajuda. Você precisa me dar o telefone. A polícia precisa chegar à casa de Tina. Mel está lá e ainda pode estar vivo. Me dê o telefone celular. Ele não pode se safar dessa. Precisam pegá-lo e ainda estou um pouco bêbada. Quero ir lá para explodir o desgraçado do jeito que fez com Tina e o enviar para o inferno, mas provavelmente vou ser presa por matá-lo embriagada. Não posso acreditar que isso está acon...
— Fique quieta. — Brawn de repente sussurrou baixinho.
— Sei que eu... — Uma mão tampou sua boca e girou ao redor dela, puxando-a com força contra o corpo dele. Um dos braços envolveu sua cintura e sua respiração soprou em seu ouvi-do. Seus longos cabelos faziam cócegas em seu braço.
— Alguém está lá embaixo. — Sussurrou.
Terror a invadiu... mas poderia ser seu pai. Talvez tivesse ouvido Boomer latir ou o som da arma disparando. Boomer nunca latia a noite, o tiro soou fraco, diferente de qualquer som que já ouviu, seu pai era um especialista em armas. Conhecia todas pelo som quando disparadas e teria identificado instantaneamente.
Iria verificá-la primeiro e viria armado, uma vez que dormia com as armas em sua gaveta de criado-mudo. Inferno, ele colocou uma arma no criado de Becca no caso de alguém invadir a ca-sa. Estava sempre carregada, pronta para disparar. Queria dizer a Brawn quem podia ser, mas a mão dele sobre sua boca a impediu.
Becca pulou quando um ruído veio de baixo, um som estranho que nunca ouviu antes e não tinha ideia do que o causou. Foi um suave som de motor e logo houve um som brando. Seu pai teria golpeado as escadas, procurando por ela. Estaria tão preocupado e viria atrás dela como um touro para protegê-la.
Seu coração bateu mais forte e falhou quando percebeu que não era seu pai lá embaixo fa-zendo os ruídos. Brawn apertou a mão dele sobre sua boca e fez o mesmo com o braço em volta da cintura. Seus dedos deixaram o chão quando a ergueu na altura do seu corpo, os levando para den-tro seu quarto.
— Não faça nenhum barulho. — Sussurrou. Laurann Dohner Brawn
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Becca manteve os lábios bem fechados quando a mão saiu de sua boca. Ele usou a mão livre para muito calmamente fechar a porta do quarto, trancando-a. Moveu-se então, rápido o suficien-te para deixá-la tonta e a ergueu ainda mais, pois suas pernas bateram no lado de sua cama quan-do os manobrou para o pequeno banheiro.
— Sinto o cheiro de quatro homens dentro de sua casa. — Manteve sua voz baixa para que só ela pudesse ouvi-lo. — Sinto o cheiro de sangue também, mas acho que é de animal. Quero que você se sente no chão, no canto e fique muito quieta. Não faça nenhum ruído. Você me enten-deu? Balance a cabeça se você entendeu. Não fale ou atire em mim por acidente. — Fez uma pau-sa, colocou uma mão em volta da dela e pegou a arma de seus dedos. — Vou ficar com isso. Você ainda está embriagada.
Balançou a cabeça, não entendia como ele sabia disso, mas não podia protestar.
Ele a desceu e o metal tilintou quando colocou a arma no chão. Ambas as mãos agarraram-na, a virou de frente para ele, antes de soltá-la e agarrar o topo de sua cabeça. A empurrou, for-çando-a a descer.
As mãos dela esfregaram o peito dele, quente e nu quando usou seu corpo para acalmar seu tremor. A adrenalina e o álcool ainda em seu sistema tornavam seus movimentos instáveis. Ela abaixou, suas mãos deslizando em sua pele até que atingiu o algodão de seu moletom e percebeu que em qualquer outra circunstância isso provavelmente seria indecente enquanto se agachava diante dele até que seu rosto esteve em sua virilha.
Suas costas roçaram na parede, o que a fez perceber que a encurralou perto da pia e da pra-teleira das toalhas. Ele soltou sua cabeça e se afastou. Ela levantou o queixo, mal detectando o movimento da sua sombra escura até que ele chegou à porta, onde a luz tênue do lustre da ca-sa principal, que seu pai sempre mantinha acesa, ficava mais fácil de ver, iluminava algo em seu quarto inclusive através das cortinas fechadas da sala.
Se agachou ali, percebeu que sua camisola estava enrolada na cintura e as pernas nuas esta-vam expostas. Se a luz estivesse acesa Brawn seria capaz de ver sua calcinha e estava numa posi-ção indigna com as pernas abertas. Não se mexeu, porém, com medo que caísse ou fizesse algum barulho. A ajuda estava chegando e Brawn estava perto. Não estava sozinha.
Novas Espécies possuíam uma incrível audição e visão noturna. Seu pai lhe disse isso uma vez. A outra coisa que contou era que tinham a capacidade de farejar dos cães de caça. Foi assim como ele chamou. Disse que a maioria deles poderia sentir cheiros que outros não podiam. Brawn disse que cheirou quatro homens dentro de sua casa.
Como ele sabe que são homens? Mordeu o lábio para se impedir de sussurrar a pergunta pa-ra ele. Disse que também sentiu o cheiro de sangue de animal. Boomer. Ele fez aquele som horrível antes do latido ter parado. Será que sentia o cheiro do sangue de Boomer? Esse pensamento dei-xou-lhe muito sóbria.
Manteve seu olhar fixo na sombra de Brawn, enquanto se agachou, e pegou algo debaixo de sua cama e voltou para o banheiro. Permaneceu ali, como se a protegesse e isso a fez se sentir me-lhor até que um rangido chegou aos seus ouvidos. Sabia que era o terceiro degrau no topo da es-cada. Sempre fazia aquele som quando alguém pisava e isso significava que estavam subindo as escadas. Laurann Dohner Brawn
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Nada fazia sentido. Por que o homem que matou Tina estaria dentro de sua casa? Brawn dis-se que cheirou quatro. Se disse isso, provavelmente era verdade. O homem que matou Tina não poderia ter invadido sua casa tão rápido, o que significava que havia pelo menos cinco de-les. Poderia ser uma quadrilha de arrombadores visando o bairro. Queria avisar Brawn, mas temia fazer barulho.
A porta do quarto repentinamente abriu com um estrondo e algo bateu nela com força. A madeira se estilhaçou e Becca colocou a mão sobre a boca para abafar o grito. Saltou, pressionan-do as costas firmemente na parede e continuou com o seu olhar aterrorizado fixo em Brawn.
Ele não se moveu, o som não pareceu assustá-lo, mas então algo caiu no chão de madeira. O quer que fosse soou como metal e rolou fazendo um som característico. Isso fez o grande Espécie se mover. Se levantou, girou e seus olhos se arregalaram enquanto seu corpo bateu no dela antes que ela percebesse o que estava acontecendo.
O ar foi empurrado de seus pulmões pela força do corpo pesado dele atingindo o dela. Bateu no chão a seu lado e seu peso a esmagou impiedosamente enquanto a cobria. A explosão de dor, em proporções ensurdecedoras penetrou cabeça dela e uma luz brilhante a cegou, embora esti-vesse com as pálpebras fechadas. O chão tremeu sob as costas e coxas com a força da explosão.
Um rugido saiu de Brawn, ainda mais ensurdecedor desde que sua boca estava a centímetros de seu ouvido, e rolou para longe. O peso foi embora de seu corpo, abriu os olhos e lutou para ins-pirar o ar de volta para seus pulmões. O viu correndo para fora do banheiro quando as luzes do quarto foram acesas e a fumaça pairava perto do teto. Era branca e subia rapidamente.
Brawn abriu fogo, o som dos tiros a fez recuar e ficou boquiaberta ao vê-lo em apenas uma calça de moletom cinza-escuro, uma arma do tipo Berretta bem apertada em sua mão. O cano bri-lhou quando balas foram disparadas. Alguém gritou, mal distinguível na confusão. Brawn rugiu novamente, um som feroz e aterrorizante, e jogou seu corpo para trás, para o banheiro.
Estranhos artefatos de metal bateram na porta do banheiro a centímetros dele. Pelo menos seis deles, com poucos centímetros de comprimento, cavaram na madeira fina. Brawn pulou para fora do banheiro, lançou seu corpo grande na cama e abriu fogo novamente. Só saiu dois tiros an-tes da arma travar ou ficar sem balas.
Becca estava ofegante, chocada demais para se mover e seus olhos se arregalaram quando três homens todos de preto de repente se jogaram em cima do Nova Espécie. Ele usou as pernas para jogar um deles por cima de seu corpo enquanto ela olhava em choque horrorizada. O homem bateu no teto forte o suficiente para chover gesso antes dele cair na cama, bateu ao lado da cama e saltou para o chão.
Mexa-se! Sua mente gritou e de alguma forma se esforçou para rolar. Sentia seus membros pesados, desarticulada de seu cérebro e seus ouvidos zumbiam com os ruídos altos. Estava tonta quando se levantou e golpeou a palma da mão dolorosamente na bancada da pia. Metal roçava nas pontas dos dedos e a fez lutar mais para ficar de joelhos. Virou a cabeça para olhar para Brawn.
Outro atacante foi jogado em direção à porta do quarto no corredor. Brawn torceu o corpo, virou as pernas e saltou para fora da cama em um piscar de olhos, com a cama agora entre ele e a Laurann Dohner Brawn
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porta do quarto. Recuou, rosnou ferozmente e rugiu. Seus dedos em ambos os lados curvados em garras e os dentes afiados. O homem que bateu no teto sentou-se e lutou para ficar em pé.
Becca agarrou a arma, oscilado em seus pés e tropeçou perto da porta do banheiro quando colocou o dedo no gatilho. Brawn estava indefeso, sem uma arma, preso entre a cama, as janelas e enfrentando o perigo. Sabia como atirar e era muito boa. Seu pai a criou para nunca disparar uma arma, a menos que estivesse pronta para matar. E estava.
Quase chegou à porta quando o bastardo estúpido que se levantou do chão tentou atacar Brawn. Congelou enquanto via o Espécie dar um golpe com sua grande mão na garganta do ho-mem de preto, então o empurrou com força com a outra mão. O homem voou em sua direção.
Algo quente e úmido salpicou seu rosto quando o homem que Brawn golpeou caiu no chão entre a cama e a porta do banheiro. O rosto do atacante virou em seu caminho e não havia como impedir a visão terrível de seu rosto cortado, da orelha até a boca. Os olhos do estranho estavam abertos, apavorados e piscava. Sangue fluía da ferida horrível, agrupando-se no chão debaixo da sua boca e fez um som sibilante. Olhos sem vida encararam Becca depois que deu seu último suspi-ro.
O tempo congelou. Era surreal, muito impactante para sua mente processar os acontecimen-tos até que o sangue se espalhando lentamente pelo chão quase tocou os dedos dos seus pés. Isso a fez voltar para o presente. Apenas alguns segundos se passaram e percebeu que a umidade em seu rosto era também sangue.
Algo metálico atingiu o piso de madeira na sala ao lado e rolou. Se desvencilhou, curvou-se, tentando se proteger da granada de atordoamento. Tinha certeza de que foi isso que fez o som. Brawn rugiu novamente, mas não conseguia ouvir nada além da grande explosão que destru-iu o quarto e parecia perfurar seu cérebro. Mesmo com os olhos bem fechados e de costas para a luz, ficou cega por um segundo pela luminosidade branca e chamuscada.
Conseguiu ficar de pé, se recuperou rápido e girou em volta enquanto se endireitava. Ergueu a arma em suas mãos dormentes para apontar para a porta e ficou boquiaberta com a visão de Brawn esparramado imóvel na cama. Tinha acabado de cair de joelhos, a parte superior do corpo descansou no colchão e seu cabelo estava sobre os lençóis. Não se moveu, mas notou seu peito se movendo um pouco e se assegurou que respirava.
Alguém pisou na frente da porta, impedindo a visão de Brawn e cambaleou para trás. O ho-mem estava todo de preto, com o rosto coberto por uma máscara e óculos de proteção que es-condia até mesmo seus olhos. Eram redondos e coloridos, não aqueles de visão noturna, mas me-nor. Sua mão tremia quando se lembrou de manter a arma apontada para ele.
— Calma. — Exigiu rispidamente.
As mãos do homem lentamente se ergueram ao longo do corpo, em linha reta, e Becca viu uma arma estranha em sua mão. Nunca viu qualquer coisa parecida. Era volumosa com um cano largo, uma versão maior de um revólver, com um cilindro redondo na base. Olhou para as coisas de metal na porta antes de sua atenção voltar para o rosto e olhos cobertos. Aquela coisa atirou essas coisas. Sabia disso, embora não soubesse o que era.
— Não se mexa. — Sua voz tremeu. — Vou atirar. Laurann Dohner Brawn
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— Calma. — Repetiu, sem mover um músculo. — Você não tem chance de sobrevivência se me matar. Puxe o gatilho e meus homens te matarão. Você me entende? — Terror tomou conta dela. Sabia que havia mais deles, que não estava blefando, mas mataram Tina. E a matariam tam-bém. Não eram assaltantes. Esse fato foi compreendido rapidamente e fortemente. Se vestiam da forma como os homens de seu pai quando iam para operações secretas. Viu o suficiente das rou-pas de seu pai para conhecer uma roupa militar quando via uma. Que maldição estava acontecen-do?
— Viemos pelo Nova Espécie. — Manteve sua voz baixa e calma. — Isso é tudo. Abaixe a ar-ma, moça. Você não é o nosso alvo.
— Você não pode tê-lo.— Sua voz saiu um pouco mais forte. — Não sou estúpida e não vou abaixar essa arma. Não vou errar. — Ajustou a mira para se certificar de que ele soubesse que apontou para o centro de seu crânio. — Diga a seus homens para dar o fora ou vou limpar seu cé-rebro das paredes por semanas. Chamei a policia. A polícia deve chegar aqui a qualquer segundo.
— Merda. — Sussurrou uma voz masculina do outro lado, dizendo-lhe que outro homem es-tava a centímetros da porta e dentro do alcance do imbecil que explodiu a porta do banheiro.
— Diga para seus homens recuarem. — Seu dedo apertou um pouco o gatilho. — Estou as-sustada, apavorada, e poderia atirar em você, se vir um menor movimento.
— Saia. — O homem que parecia no comando ordenou. — Ela tem uma Berretta apontada diretamente para a minha cabeça.
— E sei como usá-la. — Disse para assustar. Olhou para o espaço entre a cabeça do homem e a porta e viu Brawn ainda imóvel. Sua atenção se voltou para a ameaça. — Mova-se bem devagar e solte sua arma. — As mãos se abriram e a arma estranha pousou no homem morto no chão.
— Você é uma policial?
— Não, mas não vou errar a mira. — Limpou a garganta.
— Você é seu segurança?
— Não, mas te matarei para protegê-lo. Você não vai levá-lo. Dê ordens para seus homens deixarem a minha casa, mas você não se mova. Você é minha garantia de que eles não tentarão nada estúpido. E se o fizerem, você está morto.
— Sua casa? Ele vive com você?
— Cale a boca e faça o que eu disse. Mande seus homens para fora. — Hesitou.
— Certo. — Os dedos de sua mão aberta se sacudiram a seu lado em um movimento de on-da.
Relaxou um pouco, um erro da parte dela, pensando que silenciosamente ordenou aos seus homens saírem com o sinal de mão. Em vez disso balas explodiram através das paredes. Puxou o gatilho e jogou seu corpo no chão. Um peso caiu sobre suas costas. Não conseguia nem gritar com a dor de estar sendo esmagada e a arma foi arrancada de seus dedos. Quem quer que estivesse a esmagando, deslocou seu peso e uma mão se fechou dolorosamente em seu cabelo, forçando sua cabeça para trás. Engasgou ar e gritou.
Um cotovelo se cravou nas costas dela, cortando o som causado pela dor e o corpo se levan-tou. Viu a arma perto do banheiro, longe demais para agarrar antes que fosse arrastada pelo aper-Laurann Dohner Brawn
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to violento em seu cabelo na base do pescoço. Balançou em seus pés, agarrou a mão enluvada e percebeu que errou, não matou o filho da puta.
— Alguns centímetros fora de sua marca, mas você acertou a minha bochecha. — Parecia ir-ritado. — Você vai pagar por isso, vadia.
Empurrou-a com força. Ela bateu na parede e gemeu. Virou-se, sabia que iria morrer e rezou para que seu pai tivesse tido sorte no encontro. Senão teria ouvido as explosões e tiros da casa principal. Os imbecis ou mataram seu pai antes de atacarem sua casa ou passou a noite em outro lugar. Caso contrário já teria ido atrás dela. Olhou para o filho da puta que a prendia. Foi gratifican-te ver o rasgo no material preto perto de sua orelha, a cor vermelha apareceu da sangrenta ferida que a bala infligiu e esperava que deixasse uma cicatriz horrorosa. Seu queixo se levantou quando olhou para ele e seus dedos se fecharam em punho de lado.
— Foda-se — Mais duas figuras vestidas de preto entraram no banheiro, puxaram as armas estranhas e apontaram para ela. Um deles falou. — Você está bem, Randy?
— Tudo bem. — Suspirou seu líder. — Ela acertou minha bochecha, mas me esquivei. — Ela olhou para cima e percebeu que atiraram no alto da parede que separava o quarto e o banheiro, para acertarem onde estava de pé. Era confuso, pois tinha certeza que estavam tentando matá-la.
— Quem é você? — Randy chegou de repente e agarrou-a pelo pescoço, a puxou para longe da parede pelo cabelo novamente. Puxou forte o suficiene para empurrar sua cabeça para trás enquanto a puxava apertando contra ele. Podia detectar cigarros em sua respiração, que se espa-lhou através do material sobre sua boca.
— Ela é um deles? — Um de seus homens foi para o lado dela.
— Não. Humana. Tenho certeza. Não é um Nova Espécie. Seus olhos são normais. Alguém entrou no banheiro.
— Estamos conectando uma conversa. Nossa segunda equipe acaba de interceptar a polícia. Estão chegando. Temos quatro minutos.
— Merda. — Randy sussurrou. A soltou e empurrou contra a parede. Agarrou sua orelha ilesa e deu um tapinha. — É o cão alfa. Temos uma mulher dentro do banheiro. Ela está, obviamente, fodendo com ele desde que admitiu que é sua casa e estavam ambos trancados em seu quarto. — Parou por alguns segundos. — Ela está viva. Verifiquei e não é um deles, ela é humana. — Parou de novo. — Entendido. Vou levá-la com ele. — Bateu em seu ouvido para cortar a transmissão.
Agarrou os cabelos, puxou-a para longe da parede e agarrou sua camisola também enquanto a girava. — É seu dia de sorte. Você vai viver. Mova-se. Se tentar alguma coisa vou machucá-la muito. Recebi ordens de levá-la respirando, mas ninguém disse que não posso fazê-la sofrer. — Parou na porta do banheiro. O homem morto estava a centímetros de seus pés descalços. Sentiu o calor úmido no chão como xarope quente. Não olhou para baixo para verificar se estava pisando em sangue. Não precisava ver para saber. Náuseas surgiram e fez um som de engasgo.
Uma mão apertou sua blusa e o homem a puxou. — Vomite e vou quebrar a merda de sua mandíbula.
Becca lutou freneticamente para frustrar a vontade. Observou, impotente, dois homens le-vantarem Brawn da cama. O agarraram sob as axilas e o arrastaram para a porta. Quem são esses idiotas? Estava apavorada. Qualquer agência de aplicação da lei teria se identificado antes de ata-Laurann Dohner Brawn
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car. Isso era totalmente o oposto da aplicação de lei. Talvez mercenários? Becca tremeu com o pensamento. Seu pai disse que a diferença entre eles e um soldado era de que seus homens só matavam quando emitidas ordens.
Mais três homens vestidos de preto, seus rostos e cabelos escondidos, entraram no quar-to. Um deles puxou outra dessas armas incomuns, mirou Brawn na perna e disparou. O dardo atin-giu a coxa de Brawn, mas não se mexeu, ainda inconsciente.
— Com esse são dois. — O homem que atirou nele suspirou. — Vamos manter o contro-le. Não queremos matá-lo. Em 15 minutos vamos dosá-lo novamente.
— Maldição. — Outro homem xingou suavemente. — Isso não vai matá-lo? É muito.
— Eles têm tolerância elevada a drogas por causa de todos esses anos de testes e têm um metabolismo rápido. Você não quer que esse filho da puta acorde até colocá-lo numa cela. Seria o último erro que você iria querer cometer.
— Não foi tão difícil pegá-lo.— Randy riu. — Foi mais fácil do que pensava.
O homem que disparou o dardo em Brawn, balançou a cabeça. — Foi a mulher. Não podia fugir então teve que lutar. Se não fosse por ela não o teríamos pego. Teria fugido pela janela e cor-rido milhas daqui antes de chegarmos ao quarto. Ele trancou a porta e estava esperando por nós quando atacamos, para protegê-la. Nos ouviu chegar.
Becca se sentia mal. Brawn não teria sido capturado se tivesse passado a noite na casa de seu pai. Merda.
— Vamos sair. A polícia estará aqui em breve. — Randy a empurrou por trás. — Ande.
O atirador mantinha a arma volumosa no coldre em sua coxa, se moveu para frente e agar-rou a perna de Brawn. Três deles o carregaram para fora e foi forçada a seguir atrás do trio. Randy a segurava bem apertado e não se incomodou em lutar. Eram muitos para ela vencer. Obviamente foram bem treinados enquanto que o pai dela a obrigou a fazer artes marciais, era realista. Saíram pelo fundo da casa onde a porta de correr foi totalmente removida, deixando um buraco na pare-de.
Carregaram Brawn pelo muro do fundo da casa de Tina e Mel. Um homem soltou a perna de Brawn e escalou a parede, enquanto os outros dois ergueram os membros para levantar o corpo. O som distante de uma sirene fez Becca lutar contra a urgência de atacar Randy. Poderia o surpreen-der, talvez, e correr para a escuridão. Não teriam muito tempo para encontrá-la antes da policia chegar, mas também poderiam atirar em suas costas. Matá-la.
Brawn foi capturado por que se recusou a fugir sem ela. Cerrou seus dentes quando o imbecil a empurrou no muro. Não iria deixar Brawn. Estava indefeso, drogado e poderia ter alguma opor-tunidade de salvá-lo.
Nunca deixe um homem para trás. Esse era um dos lemas preferidos de seu pai. Merda! Não iria abandonar Brawn.
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