quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Capítulo 1

Capítulo Um 
O Presente 
Bela saltou na cama, seus olhos arregalados, descobrindo a escuridão que a cercava. Acreditando que ainda estava presa, o pânico a atingiu. Ofegando, cheiros familiares encheram seu nariz, sugerindo que foi apenas um sonho.
Não, uma memória, corrigiu. Virou-se e cegamente foi em direção à mesa do lado da cama. As pontas dos dedos apalparam ao longo da madeira, até achar a base do abajur de metal. O brilho da luz artificial que encheu o quarto a ajudou a escapar do estado de sonho.
O pequeno apartamento que lhe foi atribuído dentro do dormitório das mulheres em Homeland era sua casa agora. Ela foi libertada e não era mais chamada de Lixo. Empurrou as cobertas, esticou as pernas e saiu da cama. Os pesadelos estavam ficando piores e todos os seus antigos medos retornaram.
Passeou pelo carpete enquanto batalhava com a forte emoção da vergonha. Nunca se recuperaria da humilhação que sentiu, em ter feito aquilo com o estranho que usou seu corpo para protegê-la, quando aquele atirador os emboscou. Shane realmente queria ser seu amigo, mas ela não entendeu os motivos. Percebeu o porquê de ele ter ficado horrorizado quando o afagou inadequadamente, agora que teve tempo de se ajustar a sua nova vida.
Era seu trabalho salvar Novas Espécies. Não estava se oferecendo para se tornar seu novo Mestre se concordasse em fazer sexo sem lutar com ele. Apenas não queria que o atacasse e o forçasse a contê-la. Gemeu, achando que ele deveria ter pensado que era patética ou louca. Talvez um pouco de ambos.
Um som fraco alcançou seus ouvidos, e ela caminhou para mais perto da parede em comum com o apartamento ao lado. Sua orelha apertou contra o gesso frio para escutar, enquanto Kit e um homem compartilhavam sexo. Os sons de suas respirações pesadas, grunhidos e corpos golpeando sempre penetravam as paredes quando uma das mulheres trazia alguém para casa, em ambos os lados do seu apartamento. Isto a fazia ansiar por qualquer conexão que tinham. 9

Kit gritou, o homem rosnou mais alto, e sua respiração abrandou.
— Isso foi muito bom. — Kit riu. — Obrigada, Book.
— O prazer foi meu. — ele falou. — Quer que eu vá ou fique?
— Vá. — Kit respondeu.
— Tem certeza? — Ele não soou feliz. — Gostaria de te abraçar.
— De jeito nenhum. Você não é um macho que eu queira me apegar. É apenas sexo.
— Está bem. — Seu tom ficou mais áspero. — Da próxima vez podemos usar a cama.
— Não. — Kit mudou de lugar. — Pois eu ficaria por muito mais tempo do que deveria para lavar seu cheiro do meu corpo, e do ar do quarto. Teria que lavar a roupa.
— Você é fria. — Raiva transformou a voz dele para um pequeno grunhido. — Vou cair fora daqui. Boa sorte com o próximo macho que pedir para compartilhar sexo. Pobre bastardo. Uma porta abriu e fechou com força dentro de um minuto.
Bela ergueu a cabeça, escutando as passadas pesadas se moverem por sua porta, no corredor. O som da água corrente veio do apartamento de Kit. Tristeza tomou conta de Bela. Se um homem quisesse ficar com ela permitiria que dormisse em sua cama, e apreciaria seu cheiro em seus lençóis. Não o expulsaria assim que o sexo terminasse. Claro que significaria ter um homem dentro de sua casa, mas os homens Espécies a evitavam. Recusavam-se até mesmo a encontrar o olhar dela, e mantinham uma longa distância.
Fêmea Presente. Aquelas duas palavras asseguravam seu destino singular. Suspirou e caminhou para a cozinha, sabendo que o sono não retornaria. Era lei que todos os homens evitassem assustar uma Fêmea Presente. Era sabido que foram abusadas, provavelmente temiam sexo, e a evitavam.
Ela abriu a geladeira para pegar um refrigerante, mas uma risada masculina profunda assustou-a. Sua cabeça virou naquela direção, e percebeu que vinha de seu outro vizinho. O vento soprou sua cortina próxima a pia, onde tinha deixado a janela bem aberta. Chegou mais perto e olhou a noite pela janela.
Rusty e um homem estavam na sacada do apartamento ao lado. Estava perto o suficiente para que ouvisse suas palavras enquanto falavam. Bela, depressa, recuou temerosa que a descobrissem espionando. Parecia que quase toda mulher no dormitório tinha um visitante. Ela estava sempre sozinha.
Virou-se e apressou-se para a porta da frente, desesperada para escapar. Não era justo e isto machucava, as mulheres Espécies que viviam de ambos os lados dela, não tinham nenhuma ideia do quão sortudas eram em não saber o profundo desejo que sofria. Kit acabou de expulsar um homem farta dele. Rusty provavelmente faria o mesmo depois de compartilhar sexo com quem estava rindo.
Bela ultrapassou o elevador correndo para os degraus, e usou o corredor para sair pelas portas laterais do edifício, evitando as principais áreas habitadas. A última coisa que queria era se chocar com alguém. Irrompeu do outro lado e pausou, enquanto a porta se fechava atrás dela. O céu estava cheio de nuvens, bloqueando as estrelas e a lua. Sentia que uma tempestade se preparava.
Parte dela sabia que precisava retornar ao seu apartamento. O ar parecia pesado e o vento um pouco frio em seus braços e pernas nuas. Olhou até perceber que nem se vestiu. A camisola branca solta caia apenas acima de seus joelhos, e seus pés nus descansavam no chão frio. Girou e tentou abrir a porta, mas descobriu que estava trancada.
— Droga. 10

Teria que ir pela frente do dormitório para entrar. Fugiu sem seu crachá e outra pessoa teria que deixá-la entrar. Isso significava que teria que explicar o porquê de estar do lado de fora, tarde da noite e vestida com tão pouco. Provavelmente deixaria as mulheres preocupadas sobre seu estado mental. Hesitou.
Uma grossa gota de chuva caiu sobre seu ombro nu, e ela levantou o braço para ajustar a fina alça de sua camisola. Outra gota molhou seu nariz. Raios relampejavam no céu, iluminando a área com uma linha violenta de brilho intenso. Contou até quatro antes do estrondo de outro trovão.
Prometeram-lhe que a vida seria melhor depois de ser libertada, mas as coisas eram apenas diferentes. As correntes que a escravizaram não existiam mais, mas ainda estava sozinha. As memórias de ser trancada dentro do porão vieram à tona. Uma vez sonhou em ter deixado essa vida para ver o mundo lá fora, mas não estava vivendo naquele mundo. Os fatos não podiam ser negados enquanto abraçava o peito, ponderando sua realidade. Era quase mais cruel ver o que nunca podia ter. Pelo menos no passado não sabia o que podia ser possível.
Um raio riscou o céu novamente, ela girou com as mãos em punhos e correu. Suas pernas se moviam rápido, enquanto corria pela calçada em direção ao parque. Ela precisava se sentir viva. A chuva caía mais rápido, encharcando seus cabelos e a camisola, e o trovão retumbou mais alto. O coração acelerou e quase riu. Estava correndo livre e ninguém podia tirar isso dela. Hoje à noite podia ir aonde quisesse, quando quisesse, e isso tinha de ser suficiente.
Ela deixou a calçada e seus pés afundaram na grama suave e encharcada. Evitou as árvores, sua vista se ajustando a escuridão, apenas quebrada pelos raios. Era perigoso estar do lado de fora em uma tempestade, mas deu boas-vindas a sensação da chuva em seu rosto.
* * * * *
Shadow estacionou o carrinho de golfe, e suavemente rosnou de frustração, enquanto arrastava-se para o centro do assento para evitar ficar molhado quando o céu desabou. Estava de folga e esperava conseguir chegar ao dormitório antes da tempestade. Não teve sucesso. Podia continuar dirigindo e estar encharcado quando chegasse em casa, ou podia esperar pacientemente o aguaceiro cessar.
Um movimento pelo canto dos olhos o fez virar a cabeça. O clarão de um raio o cegou, mas iluminou a área. Viu algo. O trovão retumbou. Piscou. Sua mente tentando fazer sentido com o que acabou de testemunhar. Isto não poderia ser o que parecia. Seus olhos tinham de estar pregando peças, caso contrário tinha acabado de ver uma fêmea em um vestido branco, correndo pelo atalho em direção à lagoa.
Um raio relampejou novamente e pegou outro vislumbre dela. A visão de pernas pálidas, longos cabelos escuros voando atrás dela e aquele vestido branco era real. Havia uma intrusa em Homeland. Lançou-se diretamente do carro para a chuva. A chuva pesada imediatamente o encharcou.
Suas botas afundaram na grama molhada quando saiu da calçada, e um rosnado escapou dele, seus instintos imediatamente ficaram acesos. Cace. Ache. Capture. Seus passos largos devoravam o chão enquanto a procurava. Precisava achar a humana depressa e forçá-la a dizer-lhe o que fez de errado para correr tão rápido. Ela tinha colocado uma bomba que detonaria logo? O conceito o motivou a aumentar sua velocidade. 11

Estreitou os olhos e avistou uma mancha branca na frente dele. Ela estava definitivamente fugindo em direção ao parque. Era um lugar grande o suficiente para um helicóptero aterrissar se alcançasse a área próxima à lagoa. Olhou para cima por um segundo para examinar o céu, mas a chuva o cegou. Enxugou o rosto com o braço enquanto rosnava novamente. Alguém a ajudou a entrar em Homeland para fazer o estrago, mas não escaparia. Ele a pegaria antes que chegasse ao ponto de origem e a faria dizer o que fez.
Esquivou-se pela esquerda atravessando o bosque denso, evitado bater nas árvores e atravessou o campo aberto e relvado onde praticavam esportes. Um raio relampejou e a viu sair mais ou menos a uns seis metros adiante. Estava de costas para ele e o trovão escondeu seus sons de ultraje enquanto fechava a distância. Mais detalhes ficaram aparentes. Não era uma grande fêmea e tinha se livrado da maior parte de sua roupa, talvez para ficar mais fácil fugir na chuva.
Ele mergulhou e a agarrou. A sensação da cintura pequena em suas mãos imediatamente o fez reagir. Torceu-se no ar antes que suas costas batessem com força no chão. O corpo dela caiu sobre o dele, impulsionando-o a deslizar ao longo da grama escorregadia. No segundo que a derrapagem terminou, ele rolou, prendendo-a debaixo de seu corpo. Foi cuidadoso para não esmagá-la. Seus cotovelos afundaram na terra encharcada, apoiando seu peito para ter certeza de que ela pudesse respirar. Puxou os pulsos dela para cima e a segurou com as mãos.
— Quem é você? E o que fez? — Sua voz saiu mais animalesca do que pretendia, mas não pode evitar. Seu coração martelava pela adrenalina que pulsava em suas veias, e o desejo de rosnar novamente era forte. — Diga-me, fêmea.
Ele não conseguiu distinguir seu rosto. Não havia nenhuma luz naquela seção do parque. Ela ofegava fortemente, assegurando-o de que podia respirar e falar se desejasse.
— Diga-me. — exigiu novamente, rosnando agora. Ele estava enfurecido. A vida de seu povo podia estar em jogo.
Um raio faiscou acima deles e iluminou o chão. Os olhos escuros dela estavam arregalados com medo, enquanto encarava-os fixamente. A luz manteve-se apenas por um piscar de olhos, mas deu uma olhada em seu rosto. A surpresa o fez praguejar.
— Merda. — O choque o paralisou por um momento, antes que apressadamente aliviasse seu aperto dos pulsos dela. Eles eram pequenos e delicados em suas mãos. A culpa o encheu imediatamente, enquanto tentava erguer seu peso dela.
Ela não disse nada e esperou que não a tivesse ferido. A chuva batia em suas costas com mais força, e a tempestade se intensificava. Hesitou em rolar de cima dela completamente. Ela estaria à mercê da tempestade. Apenas ele era seu abrigo no momento.
— Você está machucada? — Forçou seu tom a abaixar para um nível mais tranquilo. — Pensei que fosse humana. Uma intrusa.
— Não estou machucada. — respondeu suavemente.
— Sinto tanto. — Ficou horrorizado de saber que tinha acabado de atacar uma Fêmea Presente. Ele não a conhecia, mas suas características não podiam ser negadas. Imaginou que fosse primata pela forma arredondada de seus olhos, e seu delicado narizinho. Isto o deixou ainda pior. As fêmeas primatas eram ainda mais frágeis que as caninas ou felinas. — Você está a salvo. Não a machucarei.
Virou a cabeça freneticamente procurando por ajuda. Precisava de uma oficial Espécie no local para lidar com a Presente, mas o parque estava vazio. Ninguém estaria correndo na tempestade. Eram apenas eles, e tinha que consertar a bagunça ele mesmo. Queria praguejar novamente, mas se conteve. 12

— Sou Shadow. — Sussurrou, esperando que a fizesse se sentir menos ameaçada. — Juro que está segura. Eu me moveria, entretanto você ficaria na chuva. Está realmente forte. Estou esmagando-a?
— Não.
Ela não moveu seus braços quando os largou, e ajustou seu peito um pouco mais alto acima dela para certificar-se de que estava protegida do tempo. Precisava apenas impedi-la de entrar em pânico até a chuva diminuir o suficiente para movê-la. Seu carro e o rádio não estavam muito longe. Teria que pedir assistência emergencial.
Fury e Justice iriam acabar com ele. Inferno, todos os machos iriam. Ele caçou uma Fêmea Presente. Não apenas isso, agarrou-a como se fosse um cervo. Pelo menos estava agradecido que reconheceu que era uma fêmea pequena, e certificou-se de fazer seu melhor para receber o impacto do choque com o chão quando a agarrou.
— Sou Bela.
As palavras sussurradas da fêmea o fizeram olhar para ela. Ele mal conseguia distinguir a forma de seu rosto na escuridão.
— O que estava fazendo aqui, Bela? Algo a assustou? — Tentou compreender por que corria com pouca roupa. Um pensamento ruim o atingiu e lançou um olhar perscrutador ao redor deles. —Alguém estava perseguindo você? — Sua voz intensificou com apenas o pensamento de alguém tentando machucá-la. Seus instintos protetores vieram completamente à tona.
— Não. Queria apenas me sentir viva.
A resposta o surpreendeu e chamou toda a sua atenção para ela novamente. Desejou que pudesse ver seu rosto. Um trovão agitou o chão debaixo deles. A tempestade parecia estar chegando mais perto. Sabia que assim seria mais seguro movê-la apesar do aguaceiro. Estavam ao ar livre. Relâmpagos brilhantes iluminavam acima deles, e ele levantou a cabeça para vê-los. Estava muito perto. O trovão veio em seguida, quase imediatamente.
— Estou movendo-a. Apenas permaneça calma. Tem minha palavra como um oficial Espécie que nunca a machucaria, Bela. Sei que deve estar apavorada, mas não há razão. Não sou um humano.
Odiou expô-la a chuva, mas não viu nenhuma outra escolha. Levantou-se depressa ajoelhando, as mãos deslizaram pela grama lisa debaixo dos braços dela, para agarrar suas costelas e suavemente erguê-la. Ela não pesava muito quando se levantou segurando-a firmemente contra seu corpo. Debruçou-se e dobrou a cabeça para manter a chuva afastada dela tanto quanto possível. Virou e apressou-se em direção ao carro. As pernas dela roçaram nas dele.
— Não estou com medo.
Ele ouviu suas palavras e respirou mais facilmente.
— Bom. Você é muito corajosa. — As Fêmeas Presente tinham horror a todos os machos, depois de serem abusadas por humanos.
Passou os braços ao redor do pescoço dele, e um segundo mais tarde as pernas dela ergueram-se para se envolverem ao redor de sua cintura. Deixou mais fácil que a levasse, e apreciou que confiasse nele o suficiente para se agarrar a ele. Aumentou o ritmo e chegou até as árvores espessas. Tinham acabado de adentrá-las quando um barulho soou alto, colocando-o completamente em alerta. Pausou antes de virar em uma nova direção e correr para a segurança.
— Espere. Isto é granizo.
Ele evadiu os troncos das árvores e os clarões dos raios mostraram-lhe o caminho, enquanto ia para o prédio de equipamentos de esportes. Mal parou antes de erguer a perna e lançar sua bota 13

na porta. A fechadura abriu facilmente com o poder de seu chute. Entrou na mesma hora que os pedaços de gelo bombardearam o telhado. Soltou sua cintura com um dos braços, para cegamente procurar pela porta e fechá-la.
Estava barulhento dentro do pequeno edifício — mais para uma cabana — enquanto o exterior era martelado pelo granizo. Sua mão explorou a parede até que achou o interruptor. A lâmpada no teto não era muito brilhante, mas estava agradecido por isto enquanto olhava ao redor do espaço limitado.
— Estamos seguros aqui. Inclinou-se para trás o suficiente para ver seu rosto, procurando por danos.
Os grandes olhos estavam mais curiosos do que com medo, enquanto o estudava tão atentamente quanto ele a estudava. A cor deles era um suave marrom e tinha cílios muito longos e escuros. Todas as suas características eram delicadas e o assegurou uma vez mais que era Espécie primata.
— Você está bem?
— Sim.
Ele olhou para frente da sua camisola fina e esqueceu como respirar. O tecido estava molhado, grudado nela como se fosse uma segunda pele, e transparente o suficiente para que visse exatamente como ela era nua. As pontas escuras e tensas de seus mamilos estavam claramente visíveis. Eram tentações bonitas que imediatamente quis tocar e explorar.
Mal. Muito mal, puniu a si mesmo, virando o olhar para outro lugar, exceto nela. Odiou como seu corpo reagiu muito facilmente com a visão de seus seios. Seu pau encheu de sangue e teve de engolir, já que estava quase salivando por sugar um deles em sua boca para prová-lo.
Permitiu que seus instintos assumissem o comando enquanto a perseguia, e ainda estavam muito perto da superfície para que pudesse facilmente recuperar o controle de suas respostas. Freneticamente procurou por um lugar seguro para colocá-la no chão, e sua atenção se prendeu no grande banco-baú alojando o equipamento de beisebol. Ele avançou e a abaixou.
— Sente-se.
Os braços e as pernas dela o largaram, e ele a soltou no segundo que soube que não cairia. Shadow girou, procurando por um rádio de emergência, mas não achou nenhum. Olhou fixamente para a porta. O barulho da tempestade intensificou e o vento batia nas paredes.
— Você está bem?
Sua voz era tão suave que mal se ouvia. Não. Seu pau estava duro e não podia arriscar que notasse. Ela provavelmente gritaria, temendo que a atacasse.
— Estou bem. — Mentiu, mantendo-se de costas para ela. — Vou lá fora e tentar pedir ajuda pelo rádio.
— Você não pode. — Sua voz ficou mais alta, menos tímida. — Isso parece perigoso.
Ele girou a cabeça tentando explicar o porquê que precisava partir. Inocência olhava fixamente de volta para ele, quando encontrou seu olhar.
— Meu carro não está muito longe daqui. Preciso contatar a Segurança e informá-los do que aconteceu. Precisamos de uma oficial em cena.
— Por quê?
Ele hesitou.
— Você é uma Presente.
Ela piscou e sua boca fechou como se não entendesse.
— É procedimento chamar outra fêmea para cuidar de você. — ele explicou. 14

— Estou bem.
Seus braços se ergueram para abraçar o peito e esconder os mamilos, mas os montes ainda eram numa visão tentadora. Seus pulsos eram muito pequenos para cobrir muito. Shadow experimentou culpa em notar aquele fato, e ergueu o olhar para seu rosto. Ela era uma fêmea bonita com características pálidas. Alguns fios de seu cabelo estavam presos em sua bochecha.
— Você está molhada e não é tão forte quanto outra Espécie. Você precisa de cuidados médicos.
— Não posso negar a parte de estar molhada. Agarrou um punhado de cabelo gotejando que caia em sua cintura, e depois olhou para ele. Um sorrisinho apareceu. — É uma boa coisa eu não ser parte rato.
Shadow olhou fixamente para ela, surpreso que estivesse tão calma. Quase pareceu divertida pela situação.
— Sabe, como “rato afogado”? Foi uma piada. Embora tenha ouvido que macacos não podiam nadar. Pergunto-me se isso é verdade. Nunca tentei antes.
Isto não estava indo como imaginou. Pensou que ela estaria gritando, talvez explodindo em lágrimas, mas apenas jogou seu cabelo para olhar em torno do quarto apertado.
— O que é este lugar?
— Armazenamos equipamento de esporte aqui.
— Oh. Eles são divertidos de jogar? Não tenho permissão. Eu os assisti e parece agradável.
— Depende do esporte. — Quase se virou, mas lembrou do por que se mantinha de costas para ela. Seu pau recusava-se a concordar com seu cérebro que estava ordenando para não ficar interessado na Fêmea Presente.
Um calafrio percorreu o pequeno corpo e Shadow suavemente rosnou. Ela olhou para ele e arregalou os olhos. Um indício de medo finalmente apareceu em seus olhos.
— Desculpe. — ele falou. — Não estou bravo ou qualquer coisa. Só odeio que esteja com frio. Preciso conseguir ajuda para você. — Ele agarrou a porta.
— Pare!
Sua mão pairou em cima da maçaneta enquanto olhava para trás. Ela estava parada. A camisola branca abraçava todas as curvas de seu corpo, e o deixou ciente de que não era semelhante às fêmeas Espécies que estava acostumado. Seus quadris eram mais cheios, sua barriga mais suave e era pequena. Achou que não deveria ter mais do que um metro e meio. Uma coisa era certa, não estava vestindo roupa íntima. Seu olhar pausou no material fino grudado em sua cintura, antes dele olhar fixamente para o chão.
— Por favor, não arrisque sua vida saindo nessa tempestade. Apenas espere passar. Isso é minha culpa. Não devia ter deixado o dormitório, mas não estava pensando racionalmente no momento. Nunca me perdoaria se algo acontecesse com você.
— Ficarei bem. — Seu peito inchou um pouco, o orgulho ferido. — Sou mais durão do que um pequeno granizo.
— Não duvido disso. Parece feroz em seu uniforme e é muito grande.
Ele olhou para o rosto dela, preocupado que pudesse ter medo se notasse essas coisas. Nenhum medo apareceu em seu olhar enquanto examinavam um ao outro. Não estava certo do que fazer.
— Por favor, não vá. — Ela chegou mais perto. — Seria tão ruim esperar a tempestade passar comigo?
Ele conteve um gemido. 15

— Você é uma Presente e precisa da ajuda de outra fêmea.
O queixo dela ergueu e raiva relampejou em seus olhos.
— Conheço as regras, mas não tenho medo de você. É uma grande burrice sair daqui para conseguir ajuda quando não preciso.
— Sou um macho.
— Estou vendo isto.
Ele tentou uma nova linha de raciocínio.
— Não devia estar sozinha com um.
Seus braços abraçaram o peito novamente.
— Você vai me machucar?
— Nunca.
— Exatamente o que quero dizer. — Ela olhou ao redor. — Precisamos ficar aquecidos primeiro. Leio muito e é isso o que os livros dizem. Devíamos tirar nossas roupas molhadas e achar algo seco para vestir.
A boca dele escancarou.
— O que?
Ela olhou fixamente para algo acima da cabeça dele à esquerda e apontou.
— O que é aquilo lá em cima?
Ele seguiu a direção de seu dedo.
— São bandeiras.
Bela se preocupou que o grande homem fugisse. Ele parecia pronto para isso enquanto encarava a porta mais uma vez. Shadow era realmente alto e seu cabelo muito curto. Era esquisito ver um Espécie com o corte tão rente à cabeça. Seus olhos azuis eram verdadeiramente bonitos e estava certa de que era canino pelo modo como rosnou e grunhiu.
— Bandeiras?
Ele suspirou ruidosamente e virou-se parcialmente em sua direção, olhando para ela calmamente.
— Bandeiras. Nós temos times e alguém achou que seria legal pô-las nos bancos quando jogamos.
— Você pode me dar uma?
Lentamente alcançou o material dobrado e o puxou. Ela chegou mais perto. Ele erguia-se sobre ela quase meio metro. Sua cabeça nem alcançava os ombros largos. Shadow foi cuidadoso em não tocá-la quando entregou. O material macio e sedoso estava seco e era mais grosso do que esperava. Ela o desdobrou para olhar o tecido branco com a cabeça laranja de um leão impressa no centro.
— Parece como se fosse feito de chamas. É bonito.
— Eu acho. Ele mudou de posição. — A outra tem o rosto de um lobo. Ou um cachorro. Não estou certo qual era a intenção.
— Existe uma terceira para os primatas?
— Não. Apenas as duas. Não sei por que, mas provavelmente deveria existir uma. — Ele pareceu desconfortável.
— Estas são grandes. O que você acha? Talvez um metro e meio por cinquenta centímetros?
— Não estou certo.
— Nós devíamos vesti-las. 16

Sua boca fechou em uma linha apertada.
— Não.
— Você poderia amarrá-la ao redor da sua cintura como se fosse uma toalha, e esta aqui caberá em mim se enrolá-la ao redor do meu corpo como um vestido.
— Não. — Sua voz aprofundou. — Irei dizer sua localização pelo rádio para a Segurança e enviarão uma oficial.
O vento ainda batia dos lados do pequeno prédio, mas o granizo parou.
— A chuva ainda está muito forte. Não devia ir lá fora.
— Eu devo. — Agarrou a maçaneta.
— Não! — Odiou o modo como quase suplicou para ele, mas a verdade era que não queria que partisse. Nunca esteve sozinha com um homem Espécie antes, mas ele não a assustava. Curiosidade levou a vantagem e só queria passar algum tempo com ele. — Por favor?
Sua cabeça virou ao redor e seus olhos estreitaram.
— Você tem medo de ser deixada sozinha? — Sua expressão suavizou. — Vou avisar pelo radio e retornarei imediatamente.
A culpa devorava Bela enquanto mentia. Era errado fazer isso, mas não queria que se fosse ainda.
— Ficaria apavorada. Fique comigo.
Ele fechou a porta.
— Este edifício é bem construído e é seguro.
— Não me deixe.
Ele cedeu.
— Ficarei.
— Obrigada. — Ela percebeu que sobreviveria a culpa e a decepção. — Colocarei isso e você pode pegar a outra. Ficaremos secos para esperar a tempestade passar.
— Estou bem. — Ele olhou para longe. — Troque de roupa. Você está com frio.
Afastou-se dele e soltou a bandeira na caixa onde estava sentada. A camisola grudava em seu corpo enquanto a tirava por cima da cabeça. Um frio transpassou por ela enquanto o ar tocava sua pele nua. Estava frio. Espremeu o cabelo o quanto pôde antes de pegar a bandeira. Não era muita proteção contra a temperatura fria, mas estava seca enquanto a prendia ao redor de seu corpo. Aquilo a cobriu apenas da altura dos seios até os joelhos.
— Estou decente. — Sua atenção focada nele. — Fecharei meus olhos. Precisa realmente remover essas roupas molhadas. Por favor? Sei que é durão, mas me preocuparei.
Ele virou a cabeça para olhar fixamente para ela.
— Não é uma boa ideia.
— Por que não?
Seu peito expandiu enquanto dava algumas respirações profundas.
— Deixa pra lá.
Diversão faiscou. Ela não era estúpida.
— Acha que ficarei apavorada se ficar parcialmente despido comigo? Não ficarei. Você é Espécie.
O cintilar em seus olhos se tornou quase severo.
— Sou macho.
Ele lentamente abaixou seu olhar pelo corpo dela. O interesse acelerou as batidas do coração de Bela. Ele não precisava dizer mais. Ouviu que homens eram sempre ávidos para 17

compartilhar sexo com uma mulher. A ideia dele tocá-la não a deixou em pânico. Os sons que suas vizinhas faziam quando tinham companhia, quase asseguravam que sexo consensual não era uma coisa ruim.
— Por favor, tire suas roupas molhadas e vista a bandeira? — Propositalmente ficou de costas para dar-lhe privacidade, do jeito que fez com ela.
Um grunhido suave foi a resposta, mas sua roupa farfalhou. Estava tirando-a. Bela abraçou sua cintura para manter o material sedoso no lugar e sorriu para a parede. Ele não estava indo embora, e ficariam apenas os dois juntos até a tempestade passar. Finalmente conheceria um homem.

9 comentários: