CAPÍTULO DOIS ÍI
Becca parou na porta fechada de Brawn, ouviu o som de água corrente e sabia que estava tomando banho. Tinha se acalmado após a discussão com seu pai e agora queria uma bebida for-te. O que sempre a ajudou a superar mágoas depois de terem uma briga verbal e ainda tinha o fato de que um desconhecido sexy estava vivendo em sua casa.
A sala tinha um bar totalmente abastecido, algo que apreciou quando tomou posse da casa e substituiu cada garrafa de licor, não tinha certeza de quantos anos elas tinham. Serviu-se de vodca pura e bebeu de uma vez. Queimou todo o caminho de sua garganta até o estômago. A respiração sibilou quando colocou o copo no bar e serviu outro.
Seu pai a deixava louca e viver na mesma propriedade era uma péssima ideia. Embora não fosse como se estivesse presa lá. Tinha dinheiro para se mudar, mas a ideia de desistir de seu oásis na propriedade a deixava com um pouco com medo. Viveu no exterior com Bradley e não acabou bem. Bebeu mais algumas doses quando o som da campainha a tirou de sua depressão.
Abriu a porta esperando seu pai, mas era outra pessoa. Lançou-lhe um sorriso genuíno. — Bem, se não é Trey Roberts. Você não parece bem!
Ele sorriu. — Trouxe os mantimentos e uniformes para o cara novo. — Carregava duas bolsas grandes e tinha uma grossa sacola de roupas envolta por cima do ombro. — Me mostre onde é a cozinha. Ele já está aqui?
Assentiu e levou Trey para a cozinha. Avaliou o homem que era o favorito de seu pai. Se seu pai tivesse um filho, sabia que desejaria que fosse Trey, e a empurrava para Trey há anos esperan-do que se casasse com o homem. Flertou com ele, mas não estava interessada. Era muito seme-lhante a seu pai, exceto que Trey era legal e tinha senso de humor.
— Ele está, na verdade, tomando banho no andar de cima.
Trey olhou para o teto antes de estudar Becca. — Como ele é?
— Seu nome é Brawn. Ele é enorme, tem olhos lindos e é legal. Parece que vai se dar bem com vocês. Embora não brincaria de braço de ferro com ele. Ele é durão.
Trey acenou com a cabeça e começou a descarregar as bolsas. — Onde o velho foi?
— Ele tem um encontro.
Trey riu. — Uh-oh. Gostaria de saber quanto tempo este vai durar.
— Provavelmente duas semanas. Esse é o limite. Ele começa ladrando ordens e elas correm para as montanhas. Estou esperando para ver o tipo de madrasta idiota que ele finalmente vai en-contrar. Vai ter que ser a vencedora do primeiro lugar do campeonato de total idiota se pensa que seu autoritarismo é bonito.
— Agora vejo por que você não namora comigo. Gosto de dar ordens.
— Sou muito inteligente. — Ajudou a descarregar os mantimentos até que tomou conheci-mento do que estava acontecendo em sua geladeira e freezer. — Que diabos?
Ele sorriu. — Fomos informados pela ONE para nos certificar de que ele seja abastecido com muita carne vermelha. Laurann Dohner Brawn
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— Acho que ele vai ficar feliz então. Você deve ter comprado vinte e dois quilos de bifes e carnes assadas.
— Só estou seguindo a lista que nos foi dada. Era para saber se você tem alguma frigideira de ferro fundido. Eles gostam de grelhar a carne nelas.
Apontou. — Bem aqui.
Abriu o armário da parte de baixo e olhou para o conjunto. — Isso deve servir. — Colocou a maior em cima do fogão assim era impossível não ver.
— Mais alguma coisa?
— Não. Se ele precisar de alguma coisa, nos dirá. Deixe-me pegar os refrigerantes na cami-nhonete.
Becca segurou a porta da frente aberta e sua boca se abriu. Trey trouxe três engradados de refrigerante.
— Eles vão vender?
— Novas Espécies têm uma predileção por cafeína. — Trey descarregou tudo e se encostou no balcão. — Então, quem você está namorando agora?
— Não estou.
— Você quer sair para jantar comigo? — Ele sorriu.
Ela sorriu de volta. — Não, mas obrigada pela oferta.
Ele piscou. — Você quer pelo menos fazer um sexo incrível e alucinante?
Ela riu. — Vou passar essa.
Seu sorriso desapareceu. — Você já superou? Faz mais de um ano desde sua morte.
Seu sorriso morreu também. — Saí algumas semanas atrás com um homem que conheci através do trabalho e me diverti. Ele me beijou, mas tudo o que eu podia pensar era que esse não era o jeito que Bradley fazia. Isso acabou rompendo o momento e o mandei para casa. Recusei um segundo encontro. Era uma pessoa legal e não queria dar corda.
— Não vou te beijar. — De repente, sorriu de novo. — Eu poderia fazer aqui mesmo. — Apontou para a parede. — Aposto que não vai se lembrar dele. Não consigo vê-lo te levantando e segurando-a no lugar enquanto a tem cegamente.
— Vá para casa. — Balançou a cabeça para ele, rindo. — Com esse tipo de conversa prova-velmente é o motivo de você ainda estar solteiro. Isso funciona com as mulheres?
— Às vezes. Só estou tentando ajudá-la.
— Certo. Você quer me ajudar a tirar a roupa.
Todo o humor desapareceu de seus intensos olhos castanhos. — Pode ser o tipo de ajuda que você precisa. Já ouviu aquele ditado que para esquecer alguém, você precisa ficar sob alguém, não é? Realmente funciona. Me preocupo com você, querida. — Estendeu a mão e colocou para trás uma mecha de seus cabelos ruivos. — Estou aqui a qualquer hora que você quiser conversar, se precisar de alguém para te abraçar ou apenas para ter uma ótima foda. — Sorriu. — Meu corpo está à sua disposição.
— Vá para casa. — Deu-lhe um aceno. — Mas agradeço.
— Você quer conversar?
— Não sobre isso. Laurann Dohner Brawn
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— Você tem certeza? Pode ajudar.
— Agradeço, mas estou bem. Prometo chamá-lo se isso mudar.
— Você pode me ligar a qualquer momento. — Se inclinou para mais perto para dar um beijo suave em sua testa. — Se mudar de ideia você sabe o meu número. Não me oponho a uma “cha-mada para sexo casual” 1 às duas da manhã.
1 Booty call.
2 É uma gíria para quando as pessoas têm relações sexuais.
Becca riu. — Aposto que não.
— Sou bom nisso. — Sua mão se afastou dela e balançou as sobrancelhas de maneira cômi-ca. — Pelo menos foi isso o que me disseram. Você poderia me levar para um test drive e avaliar o meu desempenho.
— Sem chance! Você não tem outro lugar para ir ou alguém para irritar? Mova-se, solda-do. Sua ordem de marcha já foi dada.
Ele se afastou. — Continuo tentando me mover, maldição, mas você não está deixando eu te mostrar o movimento do oceano2. — Riu, acenou e fechou a porta atrás de si. Ligou o carro um pouco depois e foi embora.
Becca colocou as mãos no balcão e olhou pela janela da cozinha em direção à grande árvore, apreciando a visão de pássaros voando ao redor dos grossos ramos. Agradecia a preocupação de Trey, o conhecia há muitos anos, mas nunca iria aceitar suas ofertas de fazer sexo ou ficar muito perto dela. Tinha stress suficiente em sua vida, sem acrescentar seus fardos sobre os ombros lar-gos.
— O que é chamada para sexo casual? — Colocou a mão no coração e girou para encontrar o hóspede.
— Você me assustou. Não o ouvi descer as escadas. Elas rangem um pouco.
Brawn estava na porta da cozinha. Seu cabelo estava molhado, puxado para trás em um rabo de cavalo, e tinha trocado de roupa. Usava uma calça jeans desbotada e confortável com uma ca-misa preta de uma banda de heavy metal. Seus pés estavam descalços.
— O que é chamada para sexo casual? Nunca ouvi isso antes.
Ela sorriu. — É um termo usado para chamar alguém apenas para fazer sexo com você e de-pois ir embora. Não há apego ou envolvimento emocional.
Balançou a cabeça. — Vou me lembrar. Isso é um costume humano normal?
— Para alguns, mas não para mim. Estava apenas brincando.
— Aquele homem que estava aqui é seu amante?
Ela balançou a cabeça. — Ele é meu amigo. Vai trabalhar com você na força-tarefa. Vai ser seu chefe de equipe se substituir Jessie Dupree. Vai gostar dele. Tem senso de humor, por isso espero que aprecie isso em uma pessoa. Sei que aprecio. Sua alimentação e uniformes estão aqui. Ele também trouxe muita soda. Laurann Dohner Brawn
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— Obrigado. É normal os amigos humanos oferecerem essas ligações para o outro? Estou tentando aprender sobre a interação humana. Vou trabalhar com eles e preciso tentar entender seus costumes.
— Não. A maioria dos amigos não oferece ligações desse tipo. Trey me ofereceu, porque está tentando me convencer a dormir com um homem novo e ele está, em parte, provocan-do, tentando me animar. Pensa que se ele me levar para a cama vou achar mais fácil fazer quando for para um encontro com alguém, que vai resultar em sexo.
— Ele quer compartilhar sexo com você assim você vai fazer sexo com outro macho? Esse macho é um bom amigo dele? Tenho visto esse tipo de situações em filmes pornográficos, mas não acreditava que eram representações reais dos hábitos sexuais humanos. Esta é uma prática co-mum entre os humanos do sexo masculino? Não quero fazer amigos, se isso significa que vão ofe-recer suas mulheres. — Fez uma careta. — Não quero te ofender, mas é nojento. Não quero ver outro macho montando alguém. Não me faria desejá-la e a última coisa que eu quero ver ou sentir é o cheiro de outro macho, enquanto compartilho sexo com uma mulher. Seria matar a minha exci-tação e não quero uma mulher humana.
Becca riu fortemente com sua interpretação. Inclinou-se e abraçou seu estômago.
— Peço desculpas se insultei suas preferências sexuais, mas sou uma Espécie e não é preciso dois de nossos homens para satisfazer uma fêmea sexualmente. Seus homens não têm a nossa resistência durante o sexo. Temo que uma de suas fêmeas possa ser esmagada por um de nós, se pudesse até mesmo lidar com a violência do sexo compartilhado.
Tais informações mataram seu senso de humor e parou de rir. — É complicado, mas não acredite no que vê nos filmes pornôs. Aqueles são atores com roteiros muito ruins na maior parte, não são situações verdadeiras e esse não é o motivo. Ele não quer me convencer a fazer um trio com ele e um de seus amigos. Fui casada, mas agora sou viúva. Meio que parei de namorar depois disso e Trey pensa que vou parar de pensar no meu marido se me levar pra cama. Acha que se eu apenas fizer sexo com alguém, qualquer um, vou estar mais propensa a seguir com a minha vida. Você pode fazer amigos e eles não vão pedir-lhe para dormir com suas namoradas ou espo-sas.
— O que é uma viúva?
— Meu marido tinha um coração defeituoso. Viúva é uma mulher cujo marido morreu.
Brawn encostou-se à parede. — Sinto muito. Nosso povo era morto também, se fossem achados defeitos físicos pelas Indústrias Mercile.
Sentiu um soco no estômago. — Eles fizeram isso? Aqueles idiotas matavam alguém com de-feitos físicos? Jesus. Não. Meu marido não foi assassinado. Nós não apenas acabamos com a vida de alguém, se não estiverem saudáveis. Ele tinha um defeito no coração e morreu quando um vaso grande dentro de seu coração se rompeu. Aconteceu muito rapidamente. Simplesmente agarrou seu peito, engasgou e desmaiou. Provavelmente não sabia o que estava acontecendo antes de ter morrido. O médico com quem falei me assegurou que não sofreu e a morte aconteceu em poucos minutos.
— Os médicos não conseguiram consertar o defeito antes de sua morte? Laurann Dohner Brawn
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— Não sabíamos disso. Era um defeito raro que só se descobre depois, quando realizam a au-tópsia. — Respirou fundo para evitar engasgar. Sempre engasgava quando se lembrava de Bradley e evitou discutir os detalhes sombrios. Uma mudança de assunto foi necessária para evitar as lá-grimas. — Está com fome?
— Faminto.
— Vou sair da cozinha e deixá-lo fazer a sua refeição. Trey disse que precisava de frigideira de ferro fundido e coloquei uma em cima do fogão para você usar. Há mais sob esse gabinete lá. — Apontou. — Sinta-se em casa.
Ele balançou a cabeça. — Você vai sair agora?
Ela hesitou, percebendo que ele não entendeu a situação. — Na verdade, sobre isso... — Respirou fundo. — Não estou me mudando para a casa principal com meu pai. Ele me deixa louca e confie em mim quando digo que você está melhor aqui do que vivendo com ele. Ele é um pouco imbecil, às vezes, e tende a controlar tudo. Vou ficar aqui. Dificilmente você vai me ver e eu man-tenho uma agenda muito ocupada. — Puxou ar para seus pulmões. — É uma grande casa e vamos fazer isso funcionar. Vai ser quase como se eu não estivesse aqui.
Olhou para ela. — Vou viver com você? — Um franzido apareceu em seus lábios.
— Realmente sinto muito que isto não seja o que você esperava, mas ninguém me perguntou antes desse acordo ser feito. Meu pai não tinha o direito de oferecer-lhe a minha casa, mas estou disposta a compartilhá-la com você. Há uma cópia da chave pendurada num porta-chaves do lado direito da porta da frente. Fique com ela e use-a.
Seu queixo se empinou e os ombros se ergueram o suficiente para expor seu peito enor-me. — Entendo. Estou aqui para aprender sobre os humanos e para me ajustar ao estar ao redor deles. Esta será uma boa experiência, compartilhar uma casa com um. Você me ensinou muito em tão pouco tempo e pretendo aprender mais. Obrigado.
Tinha que dar-lhe crédito por receber a notícia melhor do que esperava. — Ótimo. Vou dei-xá-lo com sua refeição agora. Estou retornando para a sala para ficar bêbada. Você vai descobrir que faço isso depois de ter uma discussão com meu pai. Ele me leva a beber.
Virou-se e foi embora antes que ele pudesse questioná-la ainda mais. Toda aquela conversa sobre seu marido a deixou triste e vulnerável. Uma dor intensa apertou seu coração quando entrou na sala, sentou-se no bar e serviu outra bebida.
A parte ruim era que seu pai estava certo sobre Bradley, mas não poderia jamais admitir isso em voz alta porque ele nunca permitiria que esquecesse. Esfregaria e usaria como um exemplo em todas as discussões que tivessem. Seria tão frequente que não seria engraçado. Tomou outra do-se, fechou os olhos e assobiou pela queimação do álcool escorregando em sua garganta.
Brawn observou Becca sair da cozinha e suspirou. Sabia o que bêbado significava. Ela plane-java beber em excesso, ficar completamente embriagada e esperava que sua companheira de casa nova não fosse um daqueles humanos que fazem isso muitas vezes. Odiava o cheiro de álcool e viu nos filmes pessoas bêbadas o suficiente para querer evitá-las.
Isso não estava acontecendo do jeito que pensou que seria. De jeito nenhum. Prometeram uma casa isolada, privacidade, mas em vez disso vivia com uma mulher humana. Pior, a achava atraente. A lembrança de seu corpo debruçado sobre a cama que ia dormir mais tarde ficaria com Laurann Dohner Brawn
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ele por um tempo. Tinha um corpo com curvas exuberantes, muito ao contrário das mulheres das Espécies. Parecia flexível, frágil e provavelmente gritaria se ele alguma vez descarregasse o seu desejo por ela.
Sua mão era pequena e muito macia quando a segurou após a sua chegada. A ideia de tê-la tocando-o fez seu pau se contrair. É claro que o pensamento de prendê-la sob ele só piorava a si-tuação. Provavelmente a esmagaria sob seu peso ou acidentalmente a quebraria de alguma for-ma. Resmungou baixinho enquanto se movia na cozinha para se familiarizar com ela. Tirou alguns bifes, aqueceu a frigideira e encontrou um prato, em seguida, pegou o garfo para virar seus bifes enquanto os grelhava.
Sentou-se no balcão para comer enquanto pensamentos de Becca Oberto o atormenta-vam. Era uma complicação que não tinha certeza se queria lidar. Poderia pedir para seu pai deixá-lo viver na casa maior perto da estrada. Iria simplificar as coisas, mas seria covardia. Ergueu o olhar para a geladeira, estudando as fotos que estavam nela - Becca com diferentes humanos. Sorria em todas elas e parecia feliz. Era uma confusa contradição se estivesse bebendo muito álcool. Não estava muito certo dos fatos humanos, mas isso implicava que ela tinha problemas graves. Seu companheiro morto seria a causa disso.
Terminou seu jantar, limpou a bagunça e lavou os pratos. Ouviu a música quando desligou a água e secou as mãos. Estava muito cedo para ir para a cama e seu quarto não tinha televi-são. Precisaria pedir uma, já sentia falta dos seus canais a cabo e já se arrependeu de ter se voluntariado para ir nessa missão pelo seu povo. Alguém precisaria trabalhar com a força-tarefa humana, de qualquer forma. Uma fêmea das Espécies seria perfeita para o trabalho, mas não que-riam expor qualquer uma delas para os machos humanos. Tudo o que aprendeu até agora sobre eles o fazia acreditar que a assediariam. Era um mundo de homens fora dos portões da ONE, ou então foi o que disseram. Mulheres deveriam ser protegidas a todo custo. A ideia de permitir que uma corresse perigo fez com que seu corpo inteiro endurecesse. Iria lutar e lidar com o que viesse no seu caminho. Melhor ele do que uma das fêmeas.
Preocupava-se por Becca enquanto colocava o pé no degrau para voltar ao seu quarto. Não era uma mulher grande e a lembrança de um filme que assistiu o fez voltar atrás. Ela poderia beber o suficiente para tornar-se violentamente doente e queria ver como estava de saúde. Seguiu a mú-sica de rock e fez uma pausa na entrada da sala. Becca estava sentada no bar com uma garrafa e um copo pequeno na frente dela. Parecia senti-lo e virou a cabeça. Deu a ele um sorriso amplo e demasiadamente brilhante, seus olhos azuis asseguraram-lhe que bebeu demais. Acenou para ele, seus movimentos desajeitados.
— Olá, lindo. Quer beber?
Sua voz estava um pouco arrastada e o chocou por chamá-lo assim. — Meu nome é Brawn. Não sei de nenhuma Espécie que escolheu ser chamado assim.
Uma risada fez tremer os ombros e ela bufou suavemente. — Sei o seu nome. Você tem uma boa aparência, mas você sabe disso, não é?
O achava atraente. Esse fato o deixou sem palavras.
Deu um tapinha no banco ao lado. — Quer beber? Não queima mais ao descer.
Ele avançou pela sala. — Não bebo álcool, mas obrigado pela oferta. Quantos você já bebeu? Laurann Dohner Brawn
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— Não sei. — Quase caiu da cadeira enquanto se ajustava no assento. — Não foi o suficien-te. Ainda estou consciente.
— Beber álcool inebria você, retarda seu tempo de resposta e deixa a lógica difícil de prati-car.
Ela riu. — Você é tão fofo.
As sobrancelhas se levantaram. Ninguém nunca o chamou assim antes. Feroz, bastardo, en-tre outros, escolhiam nomes desse tipo, mas nunca algo que implicava essa definição. Se preocu-pou mais com seu estado mental. — Talvez você devesse ir para a cama e dormir. Ouvi dizer que as coisas sempre parecem melhores pela manhã.
— É cedo. — Deu um tapa na banqueta ao lado dela. — Venha até aqui. Não vou morder.
— Você não tem medo que eu a morda? — Não pôde resistir abrir a boca e mostrar-lhe seus caninos, curioso porque não parecia ter medo dele. Mulheres humanas sempre tinham.
— Não. — Deu um tapinha na banqueta novamente. — Chegue mais perto. — Seus olhos se estreitaram. — Você está borrado. — Riu. — Não bebo com frequência, mas, quando bebo, ho-mem, eu bebo direito.
Nunca ouviu falar essa frase antes e se aproximou dela com cautela. Foi uma má ideia, deve-ria ir para seu quarto, mas a preocupação o mantinha lá. Ela precisava de alguém para cuidar de-la. Seu companheiro não estava mais por perto para fazer isso e seu pai não vivia dentro de sua casa. Dependia dele para ter certeza de que ela não teria nenhuma desventura nesse estado inde-feso.
Sentou-se na banqueta, muito próximo a ela em sua estimativa e esperava que não vomitas-se da maneira como viu as mulheres fazendo nos filmes. — Não entendo por que você iria fazer isso de propósito a seu corpo.
— Você quer dizer as calorias? — Ela olhou para baixo. — Poderia perder alguns quilos. Fico muito sentada sobre o traseiro no trabalho, mas não é como se eu tivesse que impressionar mais ninguém.
— Calorias?
— Você sabe, porque estou um pouco acima do peso.
Estudou seu corpo. — Você é muito pequena. Não deve pesar muito.
— Peso setenta e três quilos. — Riu, então apertou a mão sobre a boca e riu antes de abaixá-la. — Costumo mentir. — Inclinou-se mais perto dele. — Digo que peso nove quilos a menos do que realmente peso.
— Por que você faria isso?
— Mentir? — Ela se aproximou e pressionou a palma da mão em seu peito. — É o que as mu-lheres fazem. Mentimos sobre o nosso peso, nossa idade e nossa história sexual.
Confusão apoderou-se dele novamente e tentou ignorar o calor de sua mão através do algo-dão fino de sua camisa. — Por que você faria isso?
— Você quer saber sobre os humanos? Eles mentem. Somos bastardos sorrateiros ou vadias, às vezes. Se nossas bocas estão se movendo, bem, espere alguma besteira. É apenas a natureza humana. No meu caso, odeio admitir que só dormi com dois homens. Parece patético e minto so-Laurann Dohner Brawn
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bre minha idade, porque estou chegando ao grande três - zero. Trinta. Isso é uma coisa ruim para as mulheres. Quanto ao peso, vestimos coisas, tentando esconder a flacidez.
— Flacidez?
— Você sabe, aquelas protuberâncias extras.
Olhou seu corpo até embaixo, fez uma pausa em seus seios e franziu a testa. Seu olhar se le-vantou. — Não há nada desagradável em você.
Sua mão livre pegou a dele e ele permitiu que a movesse para seu lado. Colocou-a em sua cintura. — Aperte.
Gentilmente fez o que ela pediu, surpreso com o quão suave era através de suas rou-pas. Sorriu para ele.
— Sente isso? Pneuzinho sexy. Eu tenho.
Abriu a mão e a soltou. — Você parece tão suave.
— Não é tão sexy. — Ela deu um tapinha no peito dele. — Você é tão legal. Espero que os homens da equipe do meu pai não estraguem você. Homens podem ser realmente uns imbecis mentirosos, mas você é diferente.
— Sou honesto.
Seus olhos se estreitaram e ela lambeu os lábios, a língua cor de rosa saiu para molhar o lábio inferior e sua mão deslizou um pouco mais pousando sobre o seu coração.
— Continue assim.
— Não gosto de falsidade.
— Também não. — Ela inalou profundamente, recostou-se, tirou a mão e enfrentou o bar. — Mas é necessário.
— Não entendo. Você tem segredos que precisam ser protegidos?
Envolveu a mão no vidro, ergueu-o e tomou um gole. Uma careta torceu suas feições e o dei-xou. — A queimação já passou, mas tem gosto de merda.
Inalou, o mau cheiro do álcool estava lá, mas nada que indicasse o gosto de excremento. — Não beba isso.
— Isso ajuda. — Ela ficou no bar. — Às vezes quero esquecer as coisas e quando estou ma-chucada e ele me ajuda a adormecer.
Preocupação apoderou-se dele. — Você precisa de cuidados médicos? — Cheirou de novo, se inclinou um pouco mais perto e tentou inalar mais profundo para sentir seu perfume. Cheirava a morangos, sabão em pó, aveia, mas não pegou qualquer traço de doença.
Ela virou a cabeça e sorriu. — O que você está fazendo?
— Você não tem o cheiro químico dos humanos que tomam medicamentos. São expelidos pelos poros. Você está doente?
— Não. Só tenho um gosto horrível para homens e meu pai me deixa louca. Acho que meu avô me deixou a casa de hóspedes, porque sabia que eu nunca falaria com meu pai de outra for-ma. Nós não nos damos bem.
— Ter um pai é difícil?
Largou a bebida e se virou para ele. — Você não tem ideia! Ele me deixa louca. — Colocou a mão em sua coxa perto do joelho e ele olhou para baixo para vê-la curvada sobre seu jeans. — Ele Laurann Dohner Brawn
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é um babaca às vezes, tão controlador e crítico. Sempre tive que ser perfeita ou me dava um ser-mão sobre isso. Ele não é, mas eu tenho que ser.
Seu olhar se levantou. — Os humanos sempre tocam nas pessoas quando falam?
Ela olhou para baixo, riu e apertou-lhe a perna. — Desculpe. — Levantou a mão e olhou para seu rosto. — Seus olhos são realmente incríveis. Já te disse isso? Acho que são tão bonitos. Você pode ver as cores e tudo mais?
— Sim. Minha visão é perfeita.
— Meu pai acha que você está misturado com um leão ou uma pantera. Você tem um rabo?
O surpreendeu o fato dela ter perguntado isso. Seus lábios se separaram, mas nada saiu.
— Tudo bem se tiver um. Ainda acharia você quente.
— Minha pele é mais quente que a sua naturalmente, mas não tenho um rabo.
Isso a fez começar a rir. Ele gostou do som e das covinhas que apareceram em seu rosto. Ela lambeu os lábios novamente. — Você é tão engraçado. Sabe dançar?
— Sim.
— Aposto que sabe. — Ela abertamente encarou seu peito. O pegou e suspirou. — Fora dos padrões. Imaginava. Tenho uma sorte de merda. Já te contei isso.
— Você gostaria de dançar? — O álcool havia afetado sua lógica uma vez que ela não estava fazendo muito sentido. — Você me perguntou se eu sei e disse que sim.
— Não tenho nenhum dólar. — Teve um ataque de risos e quase escorregou da banqueta.
Ele se aproximou e envolveu suavemente uma mão ao redor de sua cintura para se assegurar de que ela não perdesse o equilíbrio. — Dança comigo? — Ele estava parado e suavemente a dei-xou em pé. Ela balançou sobre seus instáveis, pés descalços, seus sapatos sob a banqueta, o qual não havia notado até aquele segundo. — A lentidão talvez faça você dormir. Não vou permitir que caia.
— Você quer que eu vá dormir. — Se inclinou sobre ele, seu corpo relaxado contra o dele e se sentiu pequena em seus braços. — Imaginava isso também. A maioria dos homens iria despir uma mulher e fodê-la enquanto estivesse bêbada.
— Você está intoxicada e irracional. Nunca iria fazer sexo com você.
— Que pena. — Sussurrou e virou sua cabeça, descansando em seu peito. — Agarrou seus bíceps. — Me mostre o quanto é bom nisso. Gostoso.
Ignorou a batida forte da música de rock e ajustou seu abraço para ela não cair caso des-maiasse. Movia seu corpo apenas o suficiente para ela se equilibrar em seus próprios pés.
— Seu cheiro é muito bom. — Seus dedos roçaram sua pele. — E você é tão grande.
— Obrigado. Não sou um perigo para você.
Ela se aconchegou mais e ele olhou para baixo, viu seus olhos fechados enquanto dançavam. — Não tenho medo de você.
As unhas dela se arrastaram na parte de fora do seu braço e ele reprimiu um rosnado en-quanto seu pau endurecia ainda mais com a leve carícia. Foi uma péssima ideia compartilhar, espe-cialmente com uma mulher que bebia álcool e admitia ser enganosa.
— Você tem namorada, Brawn?
— Não. Laurann Dohner Brawn
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— Alguém está perdendo. Você foi um amor por dançar comigo.
— Esse é outro termo que nunca ouvi quando estou conversando. — Ele sorriu. — Você é di-vertida quando bebe, Becca.
— Obrigada. — Soltou seus braços e se esticou para agarrar o topo dos seus ombros. — In-sultei você quando perguntei se tinha um rabo ou se podia ver cores? Não quis perguntar isso. Apenas escapou da minha boca. Essas são perguntas proibidas?
— De jeito nenhum. Você está curiosa sobre mim e eu sobre os humanos.
Ela levantou a cabeça e abriu os olhos. Parou de se mover contra ele, assim ele ficou parado, segurando seu olhar. — Você é uma mistura de leão ou de pantera?
— Não sei. Meus dados não foram recuperados.
— Posso tocar o seu cabelo? É tão longo e bonito que eu queria te perguntar mais cedo. É uma pena que você prenda para trás.
O pedido o surpreendeu. — O mantém fora do caminho. Vá em frente. Cresce muito rápido. Preciso cortá-lo novamente em breve.
Inclinou-se mais para ele e jogou um pouco do cabelo para seu peito. Seus dedos escovaram seu longo rabo de cavalo e sorriu. — Por favor, não faça isso. É tão macio quanto parece ser e seria um crime se você o cortasse.
A urgência de perguntar se podia tocar na sua cintura novamente, sem a blusa, para sentir sua pele macia o golpeou, mas resistiu. Seria inapropriado, sabia disso. Segurou a língua.
— Eu deveria ir para a cama. — Liberou seu cabelo, deslizou sua mão para o peito próximo do cabelo. — É, devo.
— Vou escoltá-la até sua porta, para ter certeza que não vai cair. Você está um pouco dese-quilibrada.
— Tudo bem. Obrigada.
Se afastou dele e ele soltou seus quadris. Cambaleou um pouco, mas conseguiu ficar em pé e andou para o corredor. A seguiu bem de perto e se preocupou enquanto subia as escadas. Não caiu e conseguiu fazer todo o percurso até seu quarto. Pausou, o espiou sobre seus ombros e olhou em seus olhos.
— Boa noite, Brawn. Belos sonhos.
Assentiu, se recusou a admitir que quando sonhava, eram lembranças desagradáveis do seu passado no cativeiro. Não queria contar sobre os pesadelos que o acordavam no meio da noite. Suando frio e certo de que a liberdade era apenas um desejo.
Fechou a porta, mas continuou lá ouvindo seus movimentos pelo quarto, caso ela desmaias-se. O sussurro de suas roupas sendo removidas reagiu em seus ouvidos aguçados e fechou os olhos, tentando pensar em outra coisa. Estava mais do que curioso em saber como ela seria nua. A cama acomodou seu peso, mas ficou esperando até sua respiração diminuir, para se assegurar de que estava dormindo.
Soltou uma respiração profunda, abriu os olhos e desceu as escadas para desligar o som e ve-rificou se o andar de baixo estava seguro. Sentia-se como um peixe fora d’água na casa de Becca, longe de seu povo, no mundo exterior com os humanos. Laurann Dohner Brawn
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Awwwwn Brawn é tão fofo 🥰💜🥰💜🥰💜💜
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