CAPÍTULO UM Í
Becca Oberto olhou para o pai dela, resistindo à vontade de gritar.
— Você o quê?
Tim encolheu os ombros.
— Preciso que venha morar comigo agora. Em menos de uma hora alguém vai estar se mu-dando para sua casa. Coloquei lençóis limpos no seu antigo quarto.
— Não. — Balançou a cabeça com veemência e se encostou no carro. Havia acabado de anunciar que concordou em permitir que algum homem se mudasse para a casa dela, mas a casa era dela. — Você não pode simplesmente me fazer morar com você ou dar permissão a alguém para se mudar para a minha casa. Vovô deixou a casa principal para você e a casa de hóspedes para mim. Você que escolheu isso, então o leve para sua casa.
— Isso não vai funcionar. Ele é, hum, diferente. Precisa de seu próprio espaço, Rebecca.
— Também não me importo o quão diferente ele é ou o quanto a situação possa ser. Ele não vai ficar na minha casa. Eu te amo pai, mas tenho vinte e nove anos de idade, sou viúva e velha demais para viver com meu pai novamente. — Respirou. — Além disso, você me deixa louca. Tra-ta-me como se eu tivesse dez anos de idade e morei sozinha por muito tempo para reverter isso. De maneira nenhuma. Está claro o suficiente? Dê-lhe o meu antigo quarto.
Seu pai mudou sua postura.
— Ele é um Nova Espécie, Rebecca. Precisa de seu próprio espaço e tem um problema com o quão próximo a casa principal é da rua. Disseram-me que ele precisa de acomodações tranquilas ou o som do tráfego vai mantê-lo acordado. A casa de hóspedes fica voltada para o fundo da pro-priedade e tem todas aquelas árvores para torná-la isolada. Ele iria gostar. Jurei para a ONE que daria a ele uma vida segura e tranquila, e sua casa é perfeita. Não será por muito tempo. Por fa-vor?
Atordoada, Becca apenas olhava para seu pai. Ele chefiava uma força tarefa secreta que tra-balhava diretamente com a Organização das Novas Espécies - ONE. Nunca havia encontrado um Nova Espécie, mas já viu alguns deles na televisão e em manchetes de jornais. Seu pai a manteve ignorante sobre o que fazia no trabalho, mas pensava que provavelmente fosse perigoso. Seu pai trabalhou com os militares por 25 anos, se aposentou há quase dois anos e era um viciado em adrenalina. Vivia para ser baleado ou para atirar em qualquer coisa. Encontrava e salvava Novas Espécies que ainda estavam sendo mantidas em cativeiro. Isso era praticamente tudo o que sabia.
— Por que um deles precisa estar aqui? Todos eles ou vivem aqui na ONE Homeland ou vi-vem na Reserva da ONE. Não sou estúpida, pai. Leio os jornais e nenhum deles jamais viveu fora daqueles portões. Seria muito perigoso com todos os idiotas que os perseguem.
Tim franziu o cenho. — Não tenho que explicar isso para você, querida.
— Tem sim, se quiser que eu deixe alguém morar na minha casa por algum tempo. — Um xingamento saiu de seus lábios.
— Tudo bem. Você se lembra de Jessie Dupree? Laurann Dohner Brawn
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— A ruiva selvagem? Com certeza. Ela é a única mulher em sua equipe e a vi algumas vezes quando oferecia bebidas para a equipe. O que ela tem a ver com um homem querendo morar na minha casa?
— Ela foi ferida no trabalho e teve de ser substituída. A ONE nos ofereceu um dos seus para preencher a sua posição. Jessie fazia o primeiro contato quando recuperávamos um Nova Espécie prisioneiro de guerra vivo. Nós pensamos, eu pensei, que desde que não temos Jessie devemos ter então um Nova Espécie para fazer o primeiro contato. A coisa é que ele vai ter que viver aqui ou teríamos que enviar nosso helicóptero só para buscá-lo a cada missão. Seria um desperdício de dinheiro e recursos, quando temos pouco para gastar. Desta forma ele estará no lugar certo quan-do precisarmos dele e tivermos que nos mover rápido.
Becca deixou todas as informações se aprofundarem.
— Prisioneiros de guerra? Você os chama de prisioneiros de guerra?
— Do que você os chamaria? Meu trabalho é encontrar as Novas Espécies presas e libertá-las. Não estão lá para se divertir e jogar. Estão presas e normalmente é uma luta para libertá-las — voltou à carga novamente. — De qualquer forma, agora que você sabe a situação, espero que co-mece com o programa. Vou trocar de roupa enquanto você pega seus pertences. Estarei lá em cer-ca de quinze minutos para ajudá-la a se mudar. Ele deve estar chegando dentro de uma hora. — Fez uma pausa e seus olhos se estreitaram. — Quero que você fique longe dele. Isso é uma ordem, Rebecca Marie Oberto.
— É por isso que mamãe deixou você e o motivo de ainda estar sozinho após oito anos de di-vórcio. — Becca estava chateada. — Não me diga o que fazer. Sou uma mulher adulta. Você come-ça com o programa. Posso falar com quem eu quiser, até mesmo sair com ele e eu não recebo or-dens de você.
— Você não vai. — Sua voz engrossou e assumiu um tom severo. — Sou seu pai e você vai fa-zer o que eu disse. Está decidido.
Seus olhos se arregalaram de espanto. Suas mãos se fecharam em punho e as empurrou con-tra seus quadris. — Nossa! Realmente? Você decidiu? Estou tendo flashbacks da minha adolescên-cia e ambos sabemos que não foram tão bons para você. Fugi de casa muitas vezes quando se re-cusou a me permitir que tivesse uma vida. Não funcionou naquela época, e com certeza não vai funcionar agora. Eu já falei.
— Maldição, Rebecca Marie. Pare de ser infantil.
— Escute, pai. Fui casada e sobrevivi ao enterrar um marido. Cresci. Não sou a garotinha cu-jas fraldas, às vezes, você trocava quando estava em casa nessas raras ocasiões entre as guerras que não podia esperar para ir lutar. Não me trate como se ainda fosse uma criança. Amo você, mas juro por Deus, vou parar de falar com você, se continuar com esta besteira. Não sou um dos seus soldados que saltam quando você diz bu. Sim, você decidiu, pois eu também, aprenda a lidar com isso!
— Você ainda está com raiva por eu não ter sido muito presente quando você era criança? Estava trabalhando.
— Você sempre foi voluntário! Não pense que eu não sabia que pedia as mais duras tarefas para mantê-lo fora de casa a maior parte do tempo, apenas porque você e minha mãe não se da-Laurann Dohner Brawn
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vam bem. Você raramente estava lá. Não estou mais com raiva, porque cresci e superei. O que me deixa furiosa é que dificilmente estava lá para me dizer o que fazer quando criança, e o que o faz pensar que pode falar dessa forma agora? Gostaria de repensar. Pare de me dizer o que fazer, on-de posso viver, ou com quem posso falar.
— Ele é um Nova Espécie, Rebecca. Você já aprendeu o suficiente sobre eles para saber por que não quero você perto dele. Eles estiveram presos por toda a vida como cobaias e foram prisio-neiros que sofreram abusos físicos e emocionais. Ninguém poderia estar completamente bom da cabeça depois disso. São todos grandes e os encheram de porcarias alteradas. Ele é parte homem e animal. Você é uma mulher de boa aparência e ele vai perceber isso. Não quero você perto dele e isso é uma ordem que você seguirá. Não fale com ele ou passe tempo com ele.
Becca riu.
— Você não me dá ordens. Ainda não disse que poderia ficar em minha casa. Entendo por-que ele precisa, mas isso não significa que você tem o direito de emprestar minha casa ou me fazer voltar a morar com você. Isso não vai acontecer.
— Você vai fazer o que eu digo.
Seu bom humor acabou.
— É isso aí. Estou cheia. Aqui está o acordo e é melhor você aceitar. Ele pode ficar no meu quarto de hóspedes. Há dois. Vou dar-lhe o do final do corredor do meu quarto. Odiaria viver em sua casa e nunca faria alguém passar por isso. Enquanto ele estiver aqui, posso falar com ele se quiser. Que se dane, posso sair com ele. Posso fazer o que eu quiser com ele e você não pode fazer nada sobre isso.
— O que você gostaria de fazer comigo? — A voz atrás dela foi um estrondo profundo.
Becca parou e virou-se para o dono daquela voz masculina. Era realmente muito alto e seu cabelo liso preto caia sobre seus amplos ombros até a cintura em uma cortina de seda. Era bem mais alto do que sua altura de um metro e sessenta. Seus olhos azuis de gato encontraram os olhos chocados dela. As maçãs do rosto eram salientes, o nariz mais plano do que o normal e um conjunto de lábios cheios se curvavam para baixo. No geral, era estranhamente bonito e muito grande. O cabelo era apenas sexy como poderia ser, um bônus.
Sua pele era de um tom dourado e podia ver um monte dela pois usava uma camiseta verme-lha esticada ao longo do peito largo. Braços grossos, musculosos eram exibidos aos seus olhos agradecidos. O homem foi construído com um corpo de um stripper. Becca instantaneamente o imaginou tirando a roupa junto com a música e seu estômago se apertou. Definitivamente coloca-ria algumas notas em sua cueca fio-dental.
Seu foco foi para a cintura em boa forma e a calça preta com muitos bolsos que moldavam suas coxas naquelas pernas longas. Era o tipo de calça que muitos dos homens de seu pai usavam e teria achado que era um militar se não fosse pelo fato de que ele era, obviamente, Novas Espécies. Silenciosamente se perguntava se seu pai ou um membro de sua equipe escolheu a dedo as roupas do homem. Ah sim, decidiu. Definitivamente queria vê-lo sair de suas roupas.
— Você já chegou. — Seu pai não tentou esconder seu aborrecimento. — Esta é minha filha, Rebecca. Ela está se mudando da casa de hóspedes na qual você vai ficar enquanto estiver aqui. — Moveu-se para frente e estendeu a mão. — É bom ver você de novo. Laurann Dohner Brawn
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— Sou Brawn. — O olhar do homem grande se desviou de Becca, e deixou cair à mochila azul-marinho no chão e apertou as mãos de seu pai.
— Eu me lembro. — O pai admitiu rispidamente. — Você é um dos membros do conselho e fomos apresentados recentemente em uma reunião. Só não queria me adiantar chamando você pelo seu primeiro nome sem permissão. Não fui informado se já possuía um sobrenome.
— Não possuo. É só Brawn.
Rapaz, é ele. Becca engoliu seco e deu um passo adiante, sorrindo para o homem grande e decidiu que era totalmente gostoso. Poderia levar algum tempo para se acostumar com suas fei-ções estranhas, mas sua atratividade a cativou. Estendeu a mão. — Sou Becca Oberto. Prazer em te conhecer.
Brawn voltou sua atenção pra ela novamente e ela olhou para os olhos azuis mais escuros que já viu. Lembravam um céu noturno, tão escuro, mas com apenas um toque de azul suficiente para ser marcante. Seus cílios eram extraordinariamente longos e pretos, combinando com seu cabelo. A forma felina de seus olhos era marcante e bela. Sua íris não era redonda como de um ser humano. Eram ovais, semelhantes às de um gato e eram de tirar o fôlego.
Estava tão envolvida observando suas feições que não percebeu que havia algo errado, até que ele sorriu e seu olhar brilhou divertido, antes de olhar para baixo. Becca seguiu aquele olhar e o calor aqueceu seu rosto. Esqueceu que deveriam apertar as mãos, estava muito embasbacada. Uma risada borbulhou enquanto segurava sua mão grande, notando como sua pele era quente e sentiu a textura áspera dos calos na palma da mão e dedos. Seu olhar se ergueu quando suas mãos se entrelaçaram.
— Desculpe. Seus olhos são surpreendentes.
Seu sorriso se ampliou.
— Acho que sou o primeiro da minha espécie que você conhece? Você parece... fascinada.
— Sim e sim, estou. Você tem os olhos mais bonitos que eu já vi. — Se absteve de continuar, percebeu que, provavelmente, soou idiota e tagarelou sobre seus olhos duas vezes.
O aperto na mão dela com os dedos enrolados envolvendo sua mão inteira fez alguma emo-ção desconhecida cintilar em seus olhos.
— Obrigado pelo elogio.
— Você pode soltá-lo agora. — Seu pai deu a ordem com os dentes cerrados. — Você deveria apertar, não ficar de mãos dadas. — Becca riu e liberou o rapaz.
— Desculpe. — Deu um passo para trás, ainda olhando em seus olhos, incapaz de parar.
— Está tudo bem. Estou grato que não a assustei. Algumas fêmeas humanas ficam aterrori-zadas quando nos conhecem ou congelam e apenas olham.
Ela olhou. Droga. Becca riu levemente. — Admito que sou culpada disso. Desculpe. — Esfor-çou-se a olhar para seu pai. Parecia pálido quando retribuiu o olhar.
— Vá arrumar suas coisas e se mudar para o seu antigo quarto agora, Rebecca.
O sorriso desapareceu. — Pai, caia fora dessa. Não tenho mais dez anos. Não vamos gritar na frente do Sr. Brawn. Não causaria uma boa primeira impressão de nós, não é? Devemos, pelo me-nos, permitir ao homem se instalar antes que perceba que somos uma família disfuncional.
— Você tem que se mudar por minha causa? — Choque soou em sua voz. Laurann Dohner Brawn
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— Não é um problema. — Garantiu Tim, soando menos irritado. — A casa de hóspedes que minha filha é dona está localizada na parte de trás do terreno e está mais afastada do tráfego da rua. Há um monte de árvores e é mais silenciosa. Estou enviando mantimentos para você e sei que alguém pediu seu tamanho de roupa. Seus novos uniformes serão entregues aqui dentro de algu-mas horas. Nada está previsto para hoje para dar-lhe tempo de desfazer a mala e se ajustar a sua nova vida antes de começar o trabalho. Você vai trabalhar comigo todos os dias. Vou buscá-lo pela manhã, às oito horas e vou te dar o meu número no caso de alguma dúvida ou se precisar de aju-da.
Brawn concordou. — Tudo bem. Obrigado, mas tenho certeza de que posso me virar.
Tim apontou o polegar na direção da casa maior. — Você pode vir comigo para casa, en-quanto minha filha vai para a casa de hóspedes para embalar suas roupas. Não deve demorar mui-to tempo. —
Becca olhou para o pai enquanto o encarava totalmente. — Eu tenho uma ideia melhor. Vou levar o Sr. Brawn para a casa de hóspedes e mostrar-lhe a casa. Ele pode começar a se mudar ime-diatamente.
— Agora, Rebecca...
Sua coluna endureceu quando reconheceu seu brilho temperamental e sabia que estavam prestes a discutir novamente, mas o telefone celular dele tocou. Salva pelo gongo. Soltou um sus-piro aliviado quando tirou o telefone do bolso, olhou para a tela para ver quem ligava e suavemen-te xingou.
— É do trabalho.
Becca acenou, toda a tensão a deixando.
— Tchau. Sei que você tem que correr para responder. Merda confidencial e qualquer outra coisa para não te ouvir dizer sim e não a alguém. — Se virou e sorriu para Brawn. — Vamos. Vou fazer uma turnê e mostrar-lhe qual quarto será o seu.
Brawn hesitou antes de se inclinar para levantar sua mochila.
— Obrigado. Agradeço muito. Por favor, só me chame de Brawn. Não sou um senhor.
Becca sorriu sobre a forma como suas maneiras eram educadas enquanto descia o trajeto com Brawn logo atrás. Seu pai queria que ela acreditasse que o homem era perigoso, mas não se sentia ameaçada, no mínimo. O levou para um portão que separava as propriedades e sorriu quando sua casa apareceu. Era seu orgulho e alegria.
— É isso. São dois andares, como você pode ver, um pouco grande para uma casa de hóspe-des, mas meu avô tinha muito dinheiro. Construiu há vinte anos depois que seu irmão sofreu um derrame. — Fez uma pausa, sentindo-se um pouco parecida a uma guia de turismo, mas o olhar de Brawn ávido e interessado a incentivavam. — Não queria que ele vivesse em uma casa de repouso então tinha homens trabalhando contra o relógio para construí-la em tempo recorde. Foi feita em cinco meses o que é bastante rápido, mas é uma casa grande. Há três quartos, três banheiros e há ainda um elevador.
Sobrancelhas negras se levantaram quando pararam no quintal da frente.
— Nunca usei o elevador, mas meu tio usava uma cadeira de rodas e precisava de cuidados constantes. Duas enfermeiras viviam aqui com ele para cobrir diferentes turnos. É por isso que tem Laurann Dohner Brawn
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o quarto extra quando a maioria das casas de hóspedes só tem dois. Morou aqui por seis anos an-tes de sua saúde dar uma guinada para pior e o hospitalizaram. Ele morreu algumas semanas de-pois e a casa ficou vazia até que meu avô morreu há quatro anos. Deixou essa casa para mim e a casa principal pertence a meu pai.
Começou a andar novamente, pescou as chaves de sua bolsa e destrancou a porta da frente, deixando-a bem aberta e pediu para Brawn entrar primeiro. Ele sacudiu a cabeça e indicou que ela deveria precedê-lo. Isso a fez gostar dele ainda mais e entrou na casa, olhou para trás e notou que mal conseguia vê-lo da porta. Estava grata por toda a casa ter tetos altos e abobadados, assim não se sentiria fechado com sua altura acima da média.
Entrou e fez uma pausa. Seu olhar viajou lentamente ao longo da sala e se perguntou o que pensava de sua casa. Olhou ao redor também, feliz por ter limpado recentemente e que tudo pare-cia arrumado. Seu olhar finalmente encontrou o dela e ele sorriu.
— Ele fez muito bem. Obrigado. Você tem uma casa linda e tem um cheiro bom. Posso sentir o cheiro de madeira e um desconhecido, mas agradável perfume de limão.
Lembrou-se então que as Espécies tinham sentidos mais aguçados.
— Há um piso de madeira e detalhes esculpidos na casa. Meu avô queria construir rapida-mente, mas não estava disposto a cortar custos em artesanato. O limão que cheira é do óleo que uso quando esfrego o chão. Ele mantém limpo e brilhante, sem ser escorregadio. Duas vezes por ano alguém vem aqui polir a escada e as prateleiras embutidas na sala da família. É demais para eu fazer tudo sozinha.
Apenas olhou para ela, sem dizer nada.
Ela balançou a cabeça.
— Deixe-me mostrar-lhe o resto da casa.
Ele a seguiu enquanto andava pela cozinha e sala de jantar. Havia também um lavabo e la-vanderia no primeiro andar. A sala de estar era a última. O levou para cima para a primeira porta à direita, o menor quarto com banheiro. Becca abriu a porta para mostrar-lhe o escritório.
— Este é o meu escritório, mas está convidado a usar o computador.
— Quase não uso essas coisas. Ainda estou aprendendo, mas obrigado.
Ela se virou, quase roçou nele e percebeu o quão bem ele cheirava. Carregava um aroma pi-cante, masculino, talvez a sua loção pós-barba. Avançou ao redor de sua grande massa para abrir a porta do outro lado do corredor.
— Este será o seu quarto e tem um banheiro privado também. — Seu foco dirigiu-se para a cama antes de olhar para ele com um olhar franzido enquanto olhava para seu corpo de cima abai-xo. — Teremos que provavelmente mudar as camas. Essa é apenas um tamanho grande e acho que você vai ter problemas com ela por ser tão alto. Tenho uma cama do tipo Califórnia King em meu quarto. — Seu olhar vagueou sobre seu corpo mais uma vez. Balançou a cabeça e encontrou seu olhar. — Você definitivamente vai ter que dormir na minha cama.
Seu olhar se estreitou e um pequeno som que saiu de sua garganta a surpreendeu. Se não soubesse, acharia que acabou de rosnar suavemente para ela. É claro que deveria ter ouvido erra-do, porque ele era tão educado.
— O que foi isso? Laurann Dohner Brawn
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— Limpando minha garganta — Explicou em voz baixa. — Desculpe. Por isso, precisamos tro-car as camas?
— Definitivamente a menos que você queira que seus pés balancem sobre o colchão.
— Nós podemos mudar as camas.
— Deixe sua mochila e me siga. Vamos ter certeza se você se encaixa nela primeiro. Se não, me desculpe. Talvez meu pai possa encomendar uma cama maior. — Saiu do quarto e o levou para o último quarto, no corredor. Entrou e ficou feliz por ter se lembrado de fazer a cama antes de sair para o trabalho, um hábito que formou por ter um pai militar. — Aqui estamos. Você acha que po-de caber na minha cama?
Brawn olhou para o colchão enorme. — Vai ficar bom. Obrigado.
Ela sorriu, divertindo-se com sua postura rígida e era óbvio que não estava confortável den-tro de seu quarto feminino. — Você pode querer deitar-se primeiro para ter certeza. Odiaria remo-vê-la e então perceber que não vai funcionar.
Brawn tirou os sapatos e subiu na cama sem protestar. Era baixa. Parecia em desacordo com a forma de se deitar no começo, mas quando se estendeu de costas seus pés não ficaram pendu-rados —faltou pouco. Se inclinasse um pouco, poderia dormir confortavelmente. Seu olhar encon-trou os dela e lhe deu um sorriso sexy.
Droga. Becca engoliu em seco, pensando em como incrivelmente atraente parecia em sua colcha cor de rosa, o tom rosa-avermelhado o fazia parecer ainda mais masculino se isso fosse pos-sível. A visão daquele corpo grande e impressionante estendido a fez desejar que não estivesse usando roupas.
O desejo de subir na cama nua com ele aumentou e cerrou os dentes para evitar suspirar. Realmente precisava transar, uma vez que um estranho fazia seu corpo se contorcer. Tentou ser íntima de uns poucos homens com quem saiu, mas sempre acabava pensando em seu falecido ma-rido, Bradley, e a culpa a consumia. Quando sua atenção voltou para o corpo do homem a única coisa que a consumia era o desejo bde testar seu colchão novo com ele.
— Está ótimo.
Teve que se lembrar de que ele estava falando sobre o tamanho de sua cama, não querendo pular em seus ossos.
— Ótimo. Vamos trocar então.
Rolou graciosamente e se levantou. Entre os dois, não demorou muito para mudar as camas. Becca olhou para a cama king-size no quarto quando a troca foi feita. Estava um pouco grande de-mais para o espaço, mas havia uma pequena passagem no final do colchão para permitir o acesso ao banheiro.
Inclinou-se para remover a colcha da cama, querendo dar-lhe lençóis frescos e limpos.
— Vai ficar apertado, mas acho que você pode se espremer sem muito esforço.
Brawn rosnou alto, um som animalesco que a surpreendeu.
Becca virou a cabeça para olhar para Brawn, apenas para encontrá-lo a alguns metros atrás dela com as pernas separadas e as mãos fechadas em punho do seu lado. Seus olhos estavam fixos no traseiro dela enquanto se curvava em frente a ele. Sua última frase se repetia em sua cabeça e ela riu, se endireitando. Laurann Dohner Brawn
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— Estava falando sobre você ser capaz de andar entre o final da cama e a parede e se espre-mer através da porta do banheiro. — Ela sorriu.
Brawn encontrou seu olhar.
— O que mais você estava falando? Arqueou uma sobrancelha para ela e escondeu as mãos atrás das costas em uma postura relaxada que parecia forçada.
Ela riu.
— Não sabia que estava bem atrás de mim quando eu disse isso. Você rosnou, o que me fez ter consciência de como isso soava e parecia. Percebi que precisava expandir o que estava falando, pois caso contrário soava como um convite de natureza sexual.
Seu olhar se estreitou.
— Você é muito direta.
— Sou. Compreendo as pessoas. Isso reduz a baboseira.
— Gosto de franqueza também. Entendi errado de primeira e mentalmente concordei que seria um ajuste apertado. Você é pequena. Por um segundo, enquanto admirava a sua forma do-brada, esqueci por que nunca toquei numa mulher humana e rosnei em apreciação. Minha espécie faz isso quando estamos excitados. Você tem uma forma agradável. — Ele olhou para a cômoda no canto. — Posso usar para armazenar as minhas roupas?
— É claro. O armário está vazio. Este é seu quarto enquanto estiver aqui e não duvide em se sentir em casa. — Ela fez uma pausa. — Posso te perguntar uma coisa pessoal? Estou curiosa.
Seu olhar voltou para ela. — Pergunte.
— Por que você nunca tocou uma mulher humana?
— Você quer uma resposta educada ou uma direta?
— Gosto de respostas diretas.
Ele hesitou, parecendo inseguro.
— Não vou ficar ofendida. — Estendeu a mão para atravessar o dedo sobre o coração e sor-riu. — Você não pode dizer algo assim, sem querer que eu saiba o porquê. Estou um pouco curiosa e por meu pai ser quem ele é, há segredos demais que não tenho permissão para saber. Você não tem que responder, mas agradeceria se respondesse.
— Sou maior e mais forte do que os machos humanos. Gosto de sexo mais selvagem do que as fêmeas humanas conseguiriam suportar. Iria acabar machucando sem querer.
Deixou isso ser absorvido
— Sei. Bem, é meio confuso, mas acho que tenho uma ideia. Obrigada por responder.
— Que parte é confusa?
— A parte do sexo selvagem. Há um monte de maneiras de fazer isso.
Ele balançou a cabeça.
— Eu não bato, nem estou nessa de escravidão ou brinquedos. Já vi alguns de seus vídeos pornográficos. Gosto de inclinar minhas fêmeas e tomá-las por trás. Não gosto de ser gentil duran-te o sexo, como os seus machos são, mas não estou nessa de asfixia ou machucá-las do jeito que vi seus machos fazerem nesses filmes.
— Apenas gosto de pegar uma mulher forte, rápido e profundo. Fêmeas das Espécies são maiores e mais resistentes do que a maioria das fêmeas humanas e faria mal a uma humana, uma Laurann Dohner Brawn
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vez que são frágeis. Não há prazer nisso para mim. Seria inútil fazer sexo com uma mulher como você, porque iria acabar acidentalmente deixando hematomas ou a possuindo muito severamente. Como eu disse, sou maior e mais forte do que o seus machos. Quando digo grande, não estou ape-nas falando da minha altura e peso. Vi seus homens nus e sou mais grosso e mais longo. — Olhou para baixo em seu corpo antes de encontrar o seu olhar de novo. — Você entendeu ou preciso especificar a parte do corpo a que estou me referindo?
Becca ficou chocada com a forma crua como o homem respondeu, mas ela pediu. Deixou ab-sorver essa informação e escondeu um arrepio de medo. Sim, definitivamente poderia machucar uma mulher, se não se segurar. Toda a atração sexual que sentia por ele morreu rapidamente ao saber disso. Não estava a fim de sentir dor e isso o deixava fora da lista dos gostosos para ela.
— Agora compreendo totalmente. Obrigada pelo esclarecimento.
— De nada. Você precisa de ajuda para tirar a roupa?
Becca riu de repente.
— Pensei que você disse que eu não era seu tipo? — Levantou as sobrancelhas para ele, in-capaz de não provocá-lo um pouco. — Decidiu experimentar.
Suspirou.
— Tirar a roupa de cama.
— Somos uma dupla, não somos? Continuamos dizendo coisas que soam errado. — Riu de novo. — Adoraria que você me ajudasse a tirar a roupa.
— Que diabos? — Seu pai gritou, com os passos pesados correndo pelo corredor perto do quarto. — É melhor não.
Becca olhava seu pai pela porta e o viu dar uma parada brusca quando seu ombro bateu na entrada. Sabia que obviamente, entrou na sua casa e ouviu a última parte da conversa. — Oh, en-tão você vai me ajudar a tirar a roupa? Ótimo, pai. Você vai do outro lado da cama e puxa o lençol lá.
— Lençol? Pensei... — Ele franziu a testa.
Becca arqueou as sobrancelhas.
— Você pensou o quê? — Piscou para ele inocentemente.
— Nada. Prossiga. Só vim para checar... quero dizer, ajudá-la a mudar suas coisas. Vou ao seu quarto puxar as malas para fora do armário. — Saiu em seguida.
Becca piscou para Brawn quando estavam sozinhos. — Adoro mexer com ele. É tão fácil.
— Por quê?
— Ele é mandão e sempre me trata como criança. Divirto-me um pouco às custas dele sem-pre que me é dada a oportunidade. Isso nos deixa quites.
Assentiu, mas não comentou. Ajudou a tirar e mudar a roupa de cama para um tema branco e preto. A única meio masculina que tinha e depois saiu do quarto para deixá-lo desfazer as malas.
Seu pai andava pelo quarto, mas parou quando a viu entrar. Seus olhos verdes se estreitaram e uma careta entortou suas feições, criando linhas ao redor da boca.
— Feche a porta.
Fechou e cruzou os braços sobre o peito.
— Qual é o seu problema agora? Laurann Dohner Brawn
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— Você estava flertando com ele?
Levou a mão ao coração.
— Eu? Flertando? Nunca.
— Que droga, Rebecca. Esse não é o homem que você quer provocar. Ele não é parecido com seu marido ou a qualquer homem que você conheça. Bradley era um fraco, te deixava pisar nele e ainda pedia mais. Esse homem no final do corredor pode te comer no café da manhã e falo sério. Ele é metade animal e não se pode confiar nos seus instintos animais. Se parece conosco, mas nun-ca duvide que tem um lado predador.
A raiva brilhou forte, rápida e quente.
— Você nunca. — Gritou — NUNCA fale de Bradley desse jeito. Só por que ele não te bajula-va ou se juntou a força militar logo que saiu do colégio, não significa que era fraco. Ele era gentil, amável e doce. Era inteligente e tinha uma voz suave. Ele...
— Era fraco. — Soltou as palavras. — Te criei para ser uma mulher forte e ele não conseguiu lidar com isso.
— Saia da minha casa agora mesmo. — Abriu a porta escancarando-a.
O pai dela empalideceu.
— Não quis dizer isso. Desculpe. Só estou preocupado querida. Aquele homem no final do corredor não é um gatinho de estimação. Acho que é misturado com leão ou talvez com pantera em seu DNA por causa do cabelo preto. Os conheço mais do que você jamais conhecerá e se o pro-vocar, ele pode não entender o que você quis dizer. Pode atacar você.
— Pare! A única pessoa nessa casa que pode ser atacada é você, por mim. Sempre odiou meu marido por que ele não era como você. Costumava ser grata por isso todos os dias que passa-va com ele. Agora, saia da minha casa e se você simplesmente entrar sem a minha permissão atiro em você. Você me ensinou a atirar e ainda tenho a arma que comprou para mim. Saia agora.
— Volto em quinze minutos para te ajudar a fazer sua mudança para a casa principal. — Pa-rou perto da porta.
— Não se incomode.
Diminuiu seu ritmo quando passou por ela.
— Certo, mas vai te custar algumas viagens para levar toda a porcaria que acha que precisa. Já te vi fazendo as malas e aposto que vai precisar de no mínimo três malas.
— Me recuso a morar com você novamente. Ficarei aqui mesmo com Brawn. Ele é um ho-mem legal, que não está interessado em mim e nunca estará. Ele está bem do jeito que está. Você é o único que quero que saia.
Seu pai franziu a testa.
— Você não pode ficar aqui com ele.
— Observe. — O encarou. — Saia da minha casa. Falo sério. Disse para nunca falar de Bradley, mas você nunca escuta.
— Deixarei você se acalmar. Sabe onde a chave extra está. Terei um encontro hoje à noite e não estarei em casa até tarde. Estarei numa reunião amanhã de manhã quando acordar, mas con-versaremos depois que eu chegar. Desculpe Rebecca. Foi apenas um dia estressante e deixei meu Laurann Dohner Brawn
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temperamento falar mais alto. Quero o melhor para o meu bebê e sabia que tinha problemas com Bradley. Acho que se tortura por causa dele. Todo mundo tem falhas.
Becca fechou a porta do quarto na cara dele e trancou. Ouviu seu pai conversar com Brawn por alguns minutos e depois a casa ficou em silêncio. Estava irritada e pior, estava machucada. Es-perou mais cinco minutos e depois abriu a porta. Laurann Dohner Brawn
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Passou de qualquer limites, primeiro não deveria oferecer a casa dela como se fosse dele e segundo não deveria falar do marido morto dela como se o cara fosse um lixo. Eu realmente peguei raiva do Tim.
ResponderExcluirEu já não gostava muito do Tim, agora peguei ranço afffffff como tu dá a casa da sua filha sem nem PEDIR ela antes queridão?????? Pqp viu
ResponderExcluirE ainda por cima tem aquele preconceito retido pelos novas espécies, com um pai desses, aff
ResponderExcluir📌LI📌
ResponderExcluir• Início & Fim •
📍15/02/23📍