sábado, 11 de outubro de 2014

Capítulo 11


Capítulo 11 
— Não vou vender a casa da minha avó. — Tammy franziu o cenho para Valiant e então para o advogado que estava sentado na sala de estar da suíte. — Eu tenho que vender? Tenho algum dinheiro guardado para pagar os impostos deste ano. Foi a casa onde eu cresci. É tudo o que tenho.
Valiant rosnou baixo.
— Você não precisa mais daquela casa. Vai viver em nossas casas aqui. A minha casa é sua agora. Não há razão para ficar com ela.
Charlie Artzola clareou a garganta.
— Ela possui várias coisas que gostaria de manter. É normal. Foi o lugar onde cresceu e está cheio dos seus pertences e lembranças.
Valiant hesitou.
— Tudo bem, mas você não vive mais lá. Pode ficar com ela, mas nunca mais morará lá outra vez. Seu lugar é comigo, aqui, em nossa casa. Não é seguro para você sair da Reserva. Já foi atacada uma vez.
O advogado exalou de alívio e deu um sorriso para Tammy.
— Agora, podemos seguir com a papelada? Você precisa assinar isso para que eu possa obter a licença de matrimônio.
Tammy hesitou. Valiant queria casar com ela e fez o advogado vir com os papéis prontos para iniciar o processo. Parecia que ele queria pressioná-la a um casamento às pressas. Não esperava que quisesse selar o acordo tão imediatamente quando tinha dito que sim à sua proposta, mais cedo naquela manhã.
Tammy virou-se para olhar Valiant.
— E se eu quiser voltar a trabalhar? Gosto de trabalhar às vezes.
Ele rugiu e seus olhos dourados se estreitaram.
— Estará ocupada demais para querer trabalhar. Eu a manterei muito ocupada. — fechou a boca. — Quero que fique em casa comigo. Cuidarei de você.
Ela fechou os olhos e contou até dez. Valiant tinha uma tendência a ser extremamente controlador. Não era um traço sempre atraente nele. Era a única coisa que a tirava do sério. Ela abriu os olhos para ver Valiant fitando-a com o olhar sensual que sempre fazia efeito nela.
— Eu te amo.
As palavras fizeram seu coração derreter.
— Ama?
— Você é tudo para mim. — Valiant de repente deslizou do sofá e caminhou nos joelhos para encará-la de frente. As mãos dele tocaram seu rosto. — Estou feliz pela primeira vez na minha vida e você é o motivo. Quero passar o resto da vida com você, 133

Tammy. Eu sei que está surpresa por eu querer me casar com você agora, mas sei o que quero. E o que eu quero é você.
— Hum. — O advogado limpou a garganta outra vez. — Devo voltar mais tarde?
— Não. — Valiant rosnou. Sua expressão suavizou. — Eu te amo. Você é minha e eu sou seu. Iremos resolver essas coisas. Nós queremos ficar juntos. Estamos felizes e somos companheiros.
Tammy olhou em seus olhos, incapaz de desviar. Ele falava sério, cada palavra. Podia ver isso tão claro quanto as pintinhas douradas nos seus olhos exóticos. Os últimos dias juntos tinham sido os melhores de sua vida. Eles tinham muito o que resolver, mas todos os casais não tinham problemas? Ela sabia que sim. A ideia de uma vida sem ele parecia fria. Queria ir para a cama, que a abraçasse em seus braços todas as noites e acordar com ele mordiscando seu corpo e fazendo amor. Sabia o que sentia por ele. Era impossível não se apaixonar perdidamente por um homem daqueles.
— Ok. Eu amo você também. — Tammy sorriu para Valiant. — Estou dentro. Saia da frente e me deixe assinar os papeis.
O advogado parecia aliviado quando Valiant voltou a sentar e Tammy se inclinou para assinar os formulários, onde ele indicava. Podia estar cometendo um engano, mas quando olhou para Valiant, viu que ele mais que valia a pena o risco. Às vezes você tem que dizer foda-se. Sorriu. Merda acontece. Às vezes a merda é das boas.
— Bem, tudo pronto. — O advogado guardou rapidamente os papeis na pasta e se levantou. — Foi um prazer conhecê-los. — Ele quase correu pela porta de saída da suíte.
Tammy riu.
— Que mentira das grandes. Ele queria tanto ir embora que eu quase consegui sentir essa vontade na língua.
— Eu o assusto. Pude sentir o cheiro do seu medo.
— Sério? Só achei que ele estava chateado por eu não ter assinado logo a linha pontilhada sem enrolar. Ele não parecia feliz de estar aqui.
Valiant sorriu.
— Eu o assusto. O medo tem um cheiro, sexy. — Ele se aproximou dela. — Eu senti o cheiro do seu medo quando a conheci. Seu cheiro é doce quando tem medo e isso me excitou.
— Bem, nesse caso, aposto que você lamenta não poder me assustar mais.
— Você fica assustada quando fico com raiva de outra pessoa. Você acha que eu vou machucá-los. — Ele se aproximou mais. — Eu sempre me pergunto se o seu medo é por eles ou por mim.
— Por eles. Definitivamente. Eu sei que você acabaria com qualquer um, não importa o nome da vítima.
— Eu não ligo para o nome de ninguém quando quero arrebentar um.
— É apenas modo de dizer. — ela riu. Pressionou o corpo contra Valiant e esfregou as palmas em seu peitoral, querendo que ele estivesse sem camisa. Amava tocar a sua pele 134

nua. — Estou tentando dizer que sei que você ganharia qualquer briga, mas não quero que acabe matando alguém.
— Por que não?
— Bem, tem todo aquele motivo do passar a vida inteira detrás das grades.
Ele deu de ombros.
— As nossas leis aqui não são as mesmas a que você está acostumada. Eu jamais mataria sem uma boa razão. Não seria punido por isso.
A campainha tocou, assustando Tammy. Valiant franziu o cenho antes que levantasse do sofá, fosse até a porta e a abrisse.
Tammy fitou o homem Nova Espécie que estava do outro lado. Era alguém que nunca tinha visto, mas de alguma forma ele parecia familiar. Só não conseguia se lembrar dele. Era alto, mais de um metro e oitenta e cinco, tinha um cabelo preto comprido e solto, e os olhos de gato mais escuros que já havia visto.
Ele deu um grande sorriso para Valiant, mostrou alguns dentes afiados e bateu as mãos nas laterais do corpo. Usava um terno preto feito sob medida caríssimo, mas que não camuflava as vibrações perigosas que ele transmitia. Tammy ficou tensa.
Valiant não retribuiu o sorriso.
— É uma honra você estar aqui.
O estranho assentiu.
— Obrigada por dizer isso. Eu ouvi as novidades e quis parabenizá-lo pessoalmente por encontrar uma companheira. Sei o quanto deve estar animado. É uma notícia maravilhosa.
Valiant sorriu.
— Sim. Obrigado. — Ele saiu da frente para permitir que o estranho entrasse. — Justice North, eu gostaria de apresenta-lo à minha Tammy.
Justice North? É por isso que ele parecia conhecido.
Tammy forçou um sorriso, tentou não olhá-lo de boca aberta, mas ele era uma celebridade. Era o líder e o cabeça da Organização Novas Espécies e o mais conhecido deles. Na televisão e nos veículos impressos seus olhos e cabelo não pareciam tão escuros. Tammy não tinha certeza se deveria continuar sorrindo para ele ou se deveria tentar apertar sua mão.
— É um prazer te conhecer. — ela ficou de pé, mas permaneceu onde estava.
Ele sorriu para ela, mas notou que tomou extremo cuidado para evitar que seus dentes afiados não fossem notados quando a encarou. Ela quase deu um tapa na testa quando percebeu por que não o havia reconhecido. Era por isso que não tinha sacado que era ele. Não eram apenas os olhos e o cabelo, mas ele sorria sem mostrar os dentes toda vez que o via na TV ou nas fotos.
— Também é bom conhecê-la, Tammy.
— Viu o bebê? — Valiant fechou a porta. 135

Justice riu.
— Vi. Ele é perfeito. Slade e Trisha estão muito orgulhosos e felizes. Todos nós estamos radiantes com o seu nascimento saudável.
— E o garoto é um Espécie.
Justice parecia irradiar alegria.
— Ele definitivamente é um Espécie.
— Eu tinha me perguntado se os traços humanos seriam mais fortes que os de Slade. — Valiant falou em voz baixa. — Espero, se a minha companheira e eu tivermos filhos, que ele se pareça comigo. Tammy crê que o nosso bebê seria adorável.
— Todos esperávamos que os traços das Espécies passassem quando o bebê nascesse. É bom não estarmos mais sozinhos e sabermos que viveremos nos nossos filhos nas gerações futuras. — Justice fez uma pausa. — Nas ter um filho que parecesse completamente humano também seria uma benção. Só ter o dom de gerá-los é o suficiente.
Tammy se manteve calada, incerta sobre o que dizer, enquanto observava os dois homens conversarem. Se perguntava se devia lhes dar algum tempo para que ficassem sozinhos, mas então Justice olhou para ela. Ele riu e olhou para Valiant.
— Você é tão pequena. — Justice a estudou. — Me perdoe por rir, mas Valiant foi insistente em algumas discussões que tivemos que nunca deveríamos ficar com humanas e se algum de nós virasse o companheiro de uma, ela deveria ser uma fêmea grande e robusta. Acho graça por ele ter reivindicado você. Não quero ofender, mas realmente é — ele sorriu, ainda escondendo os dentes. — engraçado.
— Entendo. — Tammy sorriu. — Não fico ofendida. Ele é enorme e eu não. Gostaria de se sentar?
— Infelizmente não posso ficar. Minha vida está cheia de compromissos que sempre me deixam com pressa. Ficarei aqui o dia inteiro para me reunir com o pessoal da segurança e para uma hora com a pessoa que cuida do meu cabelo. — Ele levantou a mão para tocá-lo. Suspirou pesadamente. — O nosso time de relações públicas exige que eu o clareie antes de aparecer na frente das câmeras. — Ele encontrou o seu olhar. — Eu pareço mais assustador com o cabelo escuro para você?
— Eu não o reconheci a princípio. Achei que parecia familiar, mas não soube por que até ouvir o seu nome. Seus olhos também parecem mais escuros.
— Também sou forçado a usar lentes de contato. Como disse, eles parecem achar que humanos me aceitarão mais facilmente se a minha aparência for mais suave. Eles também a mudam quando eu viajo em público para tentar esconder a minha verdadeira identidade já que sou tão conhecido.
— Você me parece ótimo. — ela admitiu. — Mas diferente.
— Obrigado.
Valiant estudou o outro homem.
— Vai ficar no hotel esta noite? Gostaríamos de jantar com você. 136

— Eu queria poder, mas tenho que dar uma coletiva à noite em Homeland para o noticiário noturno. Um helicóptero me levará depois da minha última reunião aqui. Provavelmente jantarei no caminho. Desejo um dia poder tirar algum tempo de folga. Infelizmente, não vejo isso acontecendo nem tão cedo. Voltarei depois de amanhã. Tenho que voar para me encontrar com o prefeito da cidade antes de voltar para Homeland para uma entrevista com o jornal local. É uma coisa sem fim.
— Deveria encontrar a sua companheira. — Valiant o olhou com simpatia. — Uma o deixaria feliz.
Justice riu.
— Eu não tenho tempo, Valiant. Todos os dias é sempre esse frenesi. Sempre há reuniões e conferências ou lugares em que preciso ir para mais reuniões. Nenhuma fêmea iria querer compartilhar desse fardo.
— Você tem uma vida dura. — Valiant se aproximou e apertou o seu ombro antes de baixar o braço. — Sacrificou muita coisa por nós, Justice. Todos te devemos e agradecemos por isso.
Justice deu de ombros.
— Alguém tinha que fazer isso, Valiant. Eu fui o melhor ao se adaptar aos humanos e tinha a melhor habilidade de me misturar. Era natural que assumisse o posto.
— Se houver alguma coisa… — Valiant deixou o resto da frase não dita, mas seu significado era claro.
— Obrigado, eu já sei disso. — Justice sorriu para Tammy. — Foi um prazer te conhecer e bem-vinda à família.
Valiant fechou a porta depois que o Nova Espécie se foi e caminhou até Tammy. Ele tinha uma expressão triste no rosto.
— Eu não invejo a vida que ele leva.
— Ele é um homem bem ocupado, com certeza.
Valiant assentiu e de repente puxou Tammy para os braços.
— Fico feliz que a minha única responsabilidade seja fazer você feliz. Ele leva o peso de todos os Novas Espécies em cima dos ombros.
— Também vamos adotar o sobrenome North quando nos casarmos?
Valiant assentiu.
— Sim. É uma honra levar o nome que ele escolheu. Eu o apoio e tudo o que ele fez pela nossa gente.
— O que quis dizer quando ele falou bem-vinda à família?
— Que você é uma de nós agora. Você é da família. Nós não temos pais, nem tios ou primos como os humanos. Só temos uns aos outros. Família é muito importante para nós e todos os Novas Espécies são considerados dela. Juntos ficamos fortes.
Tammy se encheu de tristeza. 137

— Algum de vocês sabe quem são os seus pais biológicos? Quer dizer, vocês devem ter tido pais, certo? Ao menos uma mãe que os carregou na barriga.
Valiant rugiu.
— Somos todos órfãos. Nossos pais nos abandonaram no inferno. Eles permitiram que Mercile nos criasse, não fomos nada mais do que um material doado por eles, e as fêmeas que nos abrigaram foram embora assim que o cordão umbilical foi cortado. Soubemos disso de alguns dos médicos que foram presos.
— Eu sinto tanto, Valiant. — Ela o abraçou, com o coração partido pelo seu passado. — Eu sempre disse que amor é tudo o que se precisa para se formar uma família. A minha mãe me abandonou. Nunca entenderei como ela pôde fazer uma coisa dessas, mas fico feliz por ter me dado à vida. Eu não estaria aqui se não fosse ela.
Ele a fitou nos olhos.
— Onde ela está? Está viva?
Tammy encolheu os ombros.
— Não faço ideia. Ela me largou com minha avó e nunca mais ouvimos falar dela. Minha vó achava que ela provavelmente tinha morrido. Ela disse que a minha mãe teria entrado em contato com ela pelo menos para pedir dinheiro ou coisa parecida. Eu costumava rezar para que ela aparecesse um dia e me dissesse que me amava e que lamentava muito ter me abandonado. Sabe como é? — A dor ainda fazia o seu peito doer um pouco. — Que ela me diria que tinha cometido um erro terrível. Depois de alguns anos percebi que isso não iria acontecer. Comecei a odiá-la um pouco e isso se transformou em uma raiva absoluta. Não quero vê-la agora se estiver viva.
Valiant sorriu.
— Você me tem agora e eu nunca a deixarei, Tammy. Você pertence a uma família enorme. Ele ou ela sempre saberá o que é amor e como é se sentir parte de um grande grupo que os amará muito se um dia tivermos um filho. Nosso filho nunca sofreria de solidão ou de dor. Ou nunca vivenciaria uma vida sem amor.
O coração dela se partiu mais um pouco por ele. Ouvia a dor em sua voz. Alguém o amou quando era criança? Ela ao menos teve a sua avó para amá-la. Tammy apertou o abraço.
— Eu te amo, Valiant. Amo muito.
— Eu também te amo e você me faz feliz por me amar.
A campainha tocou. Valiant rosnou.
— Ia levá-la para a nossa cama.
— Eu teria deixado.
A campainha tocou novamente. Valiant soltou Tammy quando ela se afastou dele. Ele foi rápido até a porta, parecendo irritado. Tammy teve que lutar contra um sorriso. Ele não tinha paciência de maneira nenhuma. Valiant abriu a porta com brusquidão.
— Temos um problema. — Tiger estava lá com a cara fechada. — Xerife Cooper nos ligou. Mais duas mulheres foram levadas da cidade. Eles precisam da nossa ajuda para 138

localizá-las. E eu preciso da sua, Valiant. Sei que não é Tammy desta vez, mas essas mulheres trabalham para nós. Você é um dos nossos melhores rastreadores com o seu olfato apurado e embora os outros machos da Zona Selvagem tenham sentidos apurados como os seus não posso confiar neles perto de humanos. Os humanos perderam a pista na floresta. Vai ajudar?
Valiant estudou Tiger. Longos segundos se passaram.
— Valiant? — Tammy esperou até ele olhá-la por cima do ombro. — Por favor, ajude-os.
Ele piscou os olhos para Tammy antes de assentir.
— Farei isso por você. — Ele se dirigiu até o quarto. — Me deixe trocar de roupa. Estarei pronto em um minuto.
— Valeu. — sussurrou Tiger quando ficaram sozinhos.
Tammy assentiu.
— Acha que isso tem a ver com os homens que me levaram? O chefe deles já deve estar na cidade a essa altura a não ser que tenham descoberto quem ele é. Descobriram?
— Os que sobreviveram não abriram o bico com o nome do chefe ainda. Nós não temos ideia de quem os contratou para sequestra-la. Não sei de muitos detalhes, mas o xerife disse que as mulheres são colegas de quarto e que elas trabalham aqui, na Reserva. As duas são cozinheiras que decidiram viver na cidade ao invés de aceitar as acomodações para humanos que temos aqui. Alguém invadiu a casa delas e as levou. Os vizinhos ouviram gritos e testemunharam ao menos seis homens as levarem à força. Isso aconteceu há meia hora. Eles encontraram a van em que foram levadas no mesmo lugar onde você foi encontrada.
— Espero que as encontrem.
— Eu também. — Tiger suspirou. — O xerife acha que elas foram atacadas porque trabalham para nós. Isso significa que todos os nossos empregados humanos precisam ser alertados e que ofereceremos proteção aqui dentro para eles mais uma vez. Não sei onde os colocaremos, mas nós tomamos conta dos nossos. Pelo menos não há muitos deles. Slade está notificando um por um e cuidará dos arranjos.
Valiant voltou usando jeans, uma camiseta preta e tênis de corrida. Ele foi até Tammy, baixou os olhos para olhá-la e disse.
— Voltarei logo. Sentirei a sua falta.
— Também vou sentir a sua e obrigada por fazer isso. Tenha cuidado.
— Sempre.
Tammy viu os dois homens partirem. Ela sentou no sofá e começou a se preocupar. Se perguntava se conhecia as duas mulheres, se elas eram locais com as quais podia ter crescido junto, e desejou ter perguntado a Tiger seus nomes. Levantou-se de repente e foi até o telefone para ligar para a casa do seu chefe, Ted. O telefone tocou seis vezes, mas quem atendeu foi a secretária eletrônica. Ela deixou uma mensagem para alertá-lo de que poderia estar correndo perigo, só em caso dos Novas Espécies não terem pensado em entrar em contato com as pessoas que tiveram negócios esporádicos com eles.
Ela estava preocupada com Ted e com todos com quem trabalhou. Eles tinham feito mais do que alguns serviços de bufê para a Reserva desde aquele primeiro, quando tinha 139

conhecido Valiant. Ela começou a ligar para os outros colegas de trabalho, mas também teve as mesmas respostas. Deixou mensagens para eles e incluiu o número de telefone indicado no aparelho que usava para que pudessem ligar de volta. Imaginou onde todos estavam, esperou que estivessem todos trabalhando e que não tivessem sido sequestrados também.
Segundos depois o telefone tocou. Ela o atendeu.
— Alô?
— Alô, Srta. Shasta. Aqui é Charlie Artzola. Nos conhecemos hoje, lembra? Estou no meu escritório no fim da rua e parece haver um problema.
Ela suspirou.
— Esqueci de assinar alguma coisa?
— Não. É que eu simplesmente não consigo achá-la no sistema. É como se você não existisse.
— Como é? — Estava chocada. — Que sistema? Eu não tenho ficha criminal.
Ele riu.
— Não. Quero dizer que coloquei o número da sua carteira de motorista, mas você não existe de acordo com a base de dados. Eu preciso enviar uma cópia dela via fax para conseguir a sua licença de casamento já que há uma espécie de falha no sistema. Tenho certeza que é só um mal-entendido, mas precisamos confirmar. Eu liguei para ao hotel e pedi que alguém da segurança pudesse escoltá-la até o meu escritório. Tenho certeza que podemos resolver isso se puder me trazer o documento. Eles aceitarão uma cópia dele via fax como prova de que você existe. — Ele riu. — Então, se importa de vir até aqui? Não deve levar mais do que talvez dez ou vinte minutos. Só traga a sua carteira de habilitação com você.
Ela suspirou.
— Claro. Deixe colocar uns sapatos e procurar a minha bolsa. É bom que o xerife a tenha me devolvido. Está por aqui em algum lugar. O pessoal da segurança disse que estava tudo bem com a minha saída? Eu devo ficar na suíte.
— Consegui a permissão de Tiger antes dele sair. Alguém chegará aí para escoltá-la quando estiver pronta para vir. Obrigado, Srta. Shasta. Isso é de grande ajuda. Eu sei que Valiant queria isso feito logo e não posso conseguir a licença sem submeter provas de quem você é.
— Vou me apressar.
Ela desligou e foi até o banheiro. Ao menos isso a distrairia de se preocupar com Valiant por um tempinho. Sua bolsa ainda estava no chão do closet onde Valiant a colocou depois que o xerife trouxe quando veio pegar o seu depoimento. Os Novas Espécies tiveram que checá-la primeiro e mandaram depois. Ela também soube que o xerife tinha mandado deixarem o carro em sua casa quando pegou sua bolsa da cena do crime.
Escovou os dentes e o cabelo outra vez. Não se importou com maquiagem. Quando mais rápido voltasse, melhor, sua cabeça ainda estava nos seus colegas de trabalho. Ela não queria perder as suas ligações quando recebessem suas mensagens. 140

Flame estava de pé do lado de fora, no corredor, quando ela abriu a porta. Sorriu para ele.
— O advogado ligou e disse que precisava de mim e da minha bolsa. — Ela a levantou para mostrá-lo. — E estamos as duas aqui.
Flame sorriu.
— Ele ligou. Está pronta para ir? O escritório dele não é longe. Eu pedirei um Jipe e a levarei lá.
— Obrigada. — Eles deixaram a suíte.
Flame usou o seu rádio para pedir que o veículo fosse trazido à frente do hotel enquanto esperavam pelo elevador e quando saíram no lobby ele já havia chegado. Flame a ajudou a subir e deu a volta no carro. Ele dirigiu do hotel para um escritório de dois pisos que tinha sido construído. Estacionou e a ajudou a descer.
A área da recepção estava vazia e o silêncio enchia o ar. Parecia que o prédio nem estava sendo usado. Flame hesitou.
— Não tenho certeza de onde fica o escritório dele. Nunca estive aqui antes. Só alguns empregados humanos trabalham na Reserva e não fui designado para este posto. Ele lhe disse onde ficava?
— Não.
Flame suspirou.
— Vamos encontrá-lo. Eu ligaria para algumas pessoas, mas estamos em alerta no momento e não quero incomodar ninguém quando posso encontrá-lo pelo faro. — Ele sorveu o ar algumas vezes e apontou para o corredor à esquerda. — Por aqui. Macho, humano e recente. A loção pós-barba dele cheira forte e não de um jeito bom.
Ela riu.
— A maioria dos homens não tem ideia e usam as que fedem mesmo.
— Nós costumamos ser sensíveis ao cheiro. A maioria do nosso pessoal usa produtos com aromas naturais. Humanos não.
Tammy o seguiu por um labirinto de corredores.
— Estão em alerta máximo por causa das duas mulheres que foram levadas na cidade?
Ele assentiu.
— Sim. Apertamos toda a segurança de quem entra e posicionamos os nossos atiradores no topo da muralha caso alguém decida tentar invadir a Reserva. Nunca esqueceremos o ataque que ocorreu em Homeland.
Ela tinha ouvido falar sobre o ataque no noticiário. Um grupo de Ódio atacou a Homeland dos Novas Espécies bem depois que havia sido inaugurada. Eles derrubaram o portão de entrada e um bando de homens armados invadiram o local em caminhonetes.
O ataque resultou em mortes. Com sorte os mortos tinham sido quase todos os membros do grupo de Ódio. Tragicamente, alguns eram guardas humanos que trabalhavam 141

em Homeland. Foi chocante que algo daquele tipo pudesse acontecer. Obviamente os Novas Espécies tinham medo de outro ataque e ela não os culpava por isso.
Eles encontraram Charlie Artzola no segundo piso, em um dos escritórios. Estava sentado atrás da mesa de trabalho, remexendo em uma gaveta. Ele olhou para os dois quando entraram e sorriu.
— Foi rápido.
— Eu lhe disse que a traria imediatamente. — Flame se escorou na parede do lado de dentro do escritório.
— Sente-se, Srta. Shasta. — O advogado indicou uma cadeira com o queixo. — Você e os seus homens podem entrar e sentar também. Há quatro cadeiras e eles também podem fazer uso delas.
— Somos apenas nós. Estou bem aqui de pé. — Flame relaxou a sua posição.
O advogado assentiu.
— Estou procurando as anotações que fiz. Peço perdão por isso. Estava nervoso e acho que anotei a informação errada. Eu posso simplesmente ter colocado o número errado de habilitação e o sistema pode encontrá-la agora para que eu não tenha que enviar um fax para eles. — Ele se abaixou mais atrás da mesa quando Tammy sentou em uma cadeira mais próxima a ele. — Aha! Encontrei. Tenho certeza que é só um erro. Provavelmente errei um ou dois dígitos. — Ele fechou a gaveta.
Tammy escorou as costas na cadeira e colocou a bolsa no colo. O advogado se endireitou. Ela mal teve tempo de reagir antes de ver que não era um papel que ele tirou da gaveta. Era uma arma com uma aparência esquisita que ele apontou para Flame e disparou. Tammy ofegou. Flame grunhiu detrás dela e caiu ao chão.
Tammy se virou em horror para ver Flame esparramado no carpete. A arma não tinha feito muito barulho. Flame tinha caído de lado perto da porta. Ela o olhou de boca aberta, perplexa demais para fazer outra coisa por vários segundos. Não viu sangue algum quando ficou lá, sentada e imóvel. Finalmente readquiriu a habilidade para se mexer. Virou a cabeça na direção do advogado para descobrir que ele apontava a arma estranha para ela.
— Você vai fazer exatamente o que eu lhe mandar se não quiser morrer, Srta. Shasta. Eu não tenho escrúpulo algum de matar uma mulher.
Ela abriu a boca, mas nenhum som saiu. A arma não estava a mais de meio metro, apontada diretamente para seu rosto. Ela sabia que ele não erraria o tiro tão perto daquele jeito. O advogado levantou devagar da cadeira com os lábios enrugados. A arma enorme nem balançou.
— Levante-se devagar. Eu atiro nas suas costas se tentar correr.
Depois de um bom momento de tentar fazer com que o seu corpo se mexesse, ela conseguiu ficar de pé. Sua bolsa deslizou para o chão já que seus dedos se recusavam a segurá-la. O advogado balançou com a arma para a porta.
— Vamos sair até o meu carro e você vai entrar no porta-malas. Matarei você se não o fizer. Você me entende?
Ela engoliu com dificuldade. 142

— Por que está fazendo isso? O que quer?
Ele a olhou com raiva.
— Alguém que conheço quer conversar com você. Ele está profundamente preocupado que você tenha sido compelida a se casar com um Nova Espécie.
Seu cérebro começou a funcionar. O advogado não ameaçaria mata-la se alguém só quisesse ter uma conversa com ela. Ele estava mentindo sobre isso. Mordeu o lábio e tentou dar um passo. Não via como escapar dele sem ser baleada. Não tinha como ele errar se disparasse a arma.
Ela baixou o olhar para o Nova Espécie no chão. Ele não se movia, mas ela ainda não via sangue. Quando deu dois passos na direção de Flame e da porta, percebeu duas coisas. Os olhos de Flame estavam fechados, mas seu peito subia e descia, prova de que ainda respirava. Teve que passar por cima do seu braço e então de sua perna para sair do escritório.
Olhou para trás, para Charlie Artzola. Ele estava perto e ainda apontava a arma para ela. Caminhou, seguindo as suas ordens conforme ele a direcionava. O coração de Tammy martelava de medo, mas as palavras de Tiger vieram à sua memória.
Os Novas Espécies estavam em alerta. O advogado nunca seria capaz de sair da Reserva sem que eles a encontrassem. Quando ela tinha levado a sua van do bufê lá eles tinham revistado cada centímetro dela. Tinha que confiar que eles revistariam a traseira do carro do advogado e a achariam. Eles saíram do prédio por uma porta dos fundos onde um belo sedã de quatro portas estava estacionado.
Ele fez Tammy esperar enquanto abria o porta-malas. Voltou a vir para perto dela, mirando a arma para o seu peito.
— Entre aí e fique bem quietinha. O porta-malas é muito pequeno para que eu erre quando atirar no banco de trás. Me entende? É melhor não gritar quando passarmos pelo posto de controle. Eu matarei qualquer Nova Espécie que perceber você. Sua vida só está em perigo se me fizer atirar. Meu amigo quer mesmo falar com você, Srta. Shasta. Ele ficará com raiva se eu tiver que matá-la então faça um favor a nós dois. Entre e fique quieta.
— Quem mandou você fazer isso comigo?
— Isso não tem importância. Tudo o que importa é que vai sair disso no fim se não me causar nenhum problema.
Tammy quis gritar e pular em cima do homem, atacando-o. Claro que não acreditava que não corria perigo se obedecesse. O advogado era um grande mentiroso. Ela ficou dividida. Lutar ou fazer o que ele mandava?
Ele praguejou baixo, parecendo sentir o seu dilema.
— Isso aqui é uma arma contendo duas fortes drogas fabricadas para conter e matar Novas Espécies. Você não teria chance de sobreviver se eu atirasse em você. Entre no porta-malas e fique calada.
Contando que estivesse viva havia esperança de que seria salva quando chegassem ao portão.
— Vou entrar. Só não atire em mim, — conseguiu dizer. — Estou indo. 143

O porta-malas era pequeno. Tammy teve que deitar curvada de lado, os joelhos pressionados ao peito. Ele olhou para ela com a cara fechada quando pôs a mão no bolso de trás para pegar algo. Ele tirou uma seringa e tirou a capa de plástico com os dentes.
— O que é isso? — Terror pulsou dentro dela.
— Algo para garantir que fique quieta. Você vai ficar bem. Simplesmente não posso arriscar que grite quando chegarmos ao posto. — O advogado enfiou a agulha na sua coxa, por cima da calça.
Tammy grunhiu com a pontada de dor. Ela olhou para ele com terror e ódio.
— Valiant vai arrancar as suas tripas e fazer com que você as coma. Isso é o que ele mais gosta de fazer.
Ele apertou os dentes.
— Você é uma doentia puta de animal. — Ele fechou a porta com força.
Ela lutou quando a escuridão a cercou e não estava mais sob ameaça direta da arma. Depois de algumas batidas inúteis no teto do porta-malas, o horror se espalhou pela mente quando seus membros começaram a ficar pesados. Suas mãos se recusavam a se fechar, os braços caídos no cotovelo e, finalmente, caíram por inteiro no assoalho do porta-malas.
Pânico veio em seguida. Qualquer que fosse a droga que ele havia injetado parecia ter lhe paralisado. Conseguia respirar bem e piscar os olhos, fitar a escuridão, mas o resto do seu corpo se recusava a funcionar. Tentou gritar, mas sua garganta foi afetada. Mal conseguia engolir e nem podia empurrar a língua nos dentes. Gritou dentro da mente, mas o som não passou pelos lábios.
O carro ligou. Tammy tentou se acalmar, percebendo como a sua situação tinha se tornado desesperadora. Pense! Os Novas Espécies checavam os porta-malas. Ela os viu fazer isso com um carro na frente do dela no primeiro dia que visitou a Reserva. Dois oficiais de segurança tinham feito uma vistoria na sua van em seguida. Tinham feito um trabalho bem meticuloso. Até abriram os frigobares na traseira da van e abriram os recipientes fechados para garantir que levavam comida e não armas. Tinham usado aparelhos manuais por cima da comida, verificando que nada havia sido escondido no meio dela.
Seria encontrada. Charlie Artzola não conseguiria tirá-la da Reserva. Ela sabia que muros enormes e grossos fechavam o lugar inteiro que só tinha dois portões na entrada. Ele não seria capaz de tirá-la de lá a não ser que passasse por esses postos de controle. Lágrimas de frustração deslizaram pelas suas bochechas e ela nem conseguia enxugá-las. Eles me acharão.
O carro diminuiu a velocidade em um ponto, mas não parou antes de ganhar bastante velocidade. Muito tempo se passou. O carro finalmente parou. Esperança surgiu dentro de Tammy. A qualquer Segundo um dos oficiais faria o advogado abrir o porta-malas. Eles a descobririam e ela seria resgatada e levada de volta à Valiant.
Ao invés disso, o carro andou novamente, ganhando velocidade. Mais tempo passou. O veículo parou outra vez, o motor foi desligado e Tammy concentrou o olhar no topo de sua prisão. Estava escuro lá dentro, completamente negro, ela não conseguia enxergar nada, mas soube quando a trava do porta-malas foi aberta. A qualquer segundo seria salva. Ouviu barulho de chaves, a esperança cresceu. 144

Luz cegou Tammy quando a porta foi aberta. Ela olhou para cima, mas não viu o rosto de um Nova Espécie. Charlie Artzola a olhava com ódio antes de virar a cabeça para olhar para outra pessoa.
— Eu disse que eles me deixariam passar. Eles confiam em mim. — O idiota zombou. — Aqui está a vadia que eu te falei. Eles queriam uma licença de casamento. Ela queria casar com um daqueles animais. Está morando e fodendo com ele. Ele parece pior que o resto deles. Nem parece meio humano. É um tigre ou algo parecido. É a maior aberração que eu já vi.
Tammy gritou dentro da mente. NÃO! Os oficiais no portão não podiam ter deixado ele passar. Outro homem se aproximou até Tammy fitar o rosto de um homem na altura dos sessenta anos. Ele usava óculos e era careca. Tinha a aparência de quem poderia ser o vovô bonzinho de alguém. Isso ate ele voltar um par de olhos verdes e frios que fez o seu sangue congelar. Ele franziu o cenho.
— Então — o homem mais velho falou em voz baixa. —, nós finalmente temos uma cobaia. Ela sobreviveu procriando com um deles. Alguma coisa nela atraiu um e, se a minha teoria estiver correta, essa química deve atrair o 927 também. Você disse que com ela estava procriando era um tigre? Bem, vamos ver como ela se dá com um cachorro. — Ele riu. — Espero que ele goste dela do mesmo modo que o tigre gostou.
Dois brutamontes assustadores em seus vinte e poucos anos de repente se aproximaram de Tammy. Eles a pegaram e a levantaram. Um deles pegou suas pernas e o outro a segurou debaixo das axilas. Eles a tiraram do porta-malas. Ela viu algumas árvores enquanto eles a carregavam como se fosse uma mala grande.
Avistou uma casa — uma branca precisando urgentemente de uma pintura. Só tinha um piso e ela não a reconheceu. Isso queria dizer que não estava perto da cidade. Quando eles entraram na estrutura ela fitou um teto de gesso rachado. Eles a derrubaram em um colchão.
A cama de solteiro ficava numa sala de estar. Um deles sorriu para ela e tirou algo de dentro do bolso. Ele puxou suas mãos para cima e a algemou em algo. Ela não conseguia virar a cabeça para ver no que a havia prendido, mas então suas pernas foram puxadas. Metal fechou cada tornozelo. O assustador próximo à sua cabeça se abaixou para fitá-la nos olhos.
— Espere só até conhecer 927. Ele vai amar você. — Riu, levantando o olhar para o outro homem. — Por mais ou menos uns dez segundos até quebrar o pescoço dela.
Tammy ouviu o outro rir.
O imbecil ainda inclinado em cima dela baixou os olhos.
— Eu quase sinto pena de você. 927 é a besta mais cruel que já foi feita, mas já que gosta da espécie dele, acho que pode gostar do tratamento bruto que vai receber quando ele montar em você. Se ele te montar. O Doutor acha que ele pode fazer isso já que um da espécie dele gostou de você.
— Afaste-se dela. — exigiu o homem mais velho em voz alta. Tammy reconheceu a voz dele. — Não queremos o cheiro de vocês nela porque ele irá matá-la de cara, uma vez que odeia tanto vocês dois. Precisamos que ela tenha o cheiro do tigre. 145

Valiant. Ela gritou o nome dele em silêncio. Ele seria capaz de encontrá-la novamente? Salvá-la? Ele ao menos saberia a essa altura que ela havia sido levada? Que alguém a sequestrou?
Lágrimas escorreram pelo seu rosto. Ela gritou mais uma vez em sua mente. Valiant!
* * * * *
— Isso não faz sentido. — Tiger franziu o cenho para Valiant. — Por que eles levariam essas duas mulheres, se afastariam algumas milhas da casa delas para simplesmente deixá-las lá amarradas? Foi fácil demais encontrá-las.
Tiger assentiu.
— Eu não sei, mas elas estão bem. É isso que importa certo?
Tiger assentiu. Ele olhou para os outros três homens que tinha levado em seu time. Eles retribuíram o olhar. Tiger suspirou.
— Tem alguma coisa errada. Não posso dizer o que é, mas isso aqui não faz sentido nenhum. Qual é o propósito de levar duas mulheres, amarrá-las e abandoná-las em seguida?
Um dos homens encolheu os ombros.
— Eles são humanos. Às vezes eles não fazem muito sentido.
Xerife Cooper se aproximou de Tiger e do seu grupo com um sorriso aberto em seu rosto enrugado.
— Muito obrigado. Mais uma vez, devemos essa a vocês. As mulheres estão bem. Assustadas, mas só sofreram alguns hematomas. Elas queriam agradecer. Disseram que os homens não falaram nada. A única coisa que ouviram foi um homem perguntar se elas achavam que eles a tinham levado longe o bastante para que fossem difíceis de serem encontradas. Isso não faz sentido para mim, mas foi tudo o que ouviram. Elas dizem que os homens as levaram para a floresta, revezaram carregando-as em cima dos ombros para que conseguissem chegar aonde chegaram e simplesmente largaram as duas naquela árvore. Eles as amarraram e foram embora.
— Talvez planejassem voltar depois. — Foi um dos oficiais de polícia que trabalhava com o xerife quem disse. — Talvez quisessem mais mulheres e estejam procurando por outras vítimas. Devíamos deixar alguns oficiais aqui caso eles voltem.
O celular de Tiger tocou.
— Com licença. É da Reserva. — Ele virou e se afastou para atender. Ficou ouvindo o que lhe falavam e deu a volta. Tiger prendeu seu olhar sério em Valiant e hesitou.
— Acho que sei por que as mulheres foram levadas. — Tiger manteve a atenção presa a Valiant, mas depois olhou para o Xerife.
— Você me pediu, especificamente, que trouxesse Valiant. Por quê?
O xerife franziu o cenho.
— Bem, ele é o melhor rastreador de vocês. É por isso que pedi por ele. 146

— Quem te disse isso? — Tiger apertou os dentes.
— Um desses repórteres de fora que andam por aqui desde que Tammy foi levada. Eles praticamente acamparam do lado de fora da nossa central. Ele disse que faz matérias com vocês o tempo inteiro e que Valiant era o melhor rastreador que tinham. Disse que se mais mulheres fossem sequestradas o certo era chamá-lo porque ele seria a melhor chance de achá-las rápido.
— O que está havendo? — Valiant franziu o cenho. — Como algum repórter iria saber o meu nome? Nunca foi divulgado, foi? — Ele olhou para Tiger esperando uma resposta.
— Não, não foi. — Tiger parecia extremamente furioso. Ele olhou com raiva para o Xerife. — Lembra do nome do repórter?
O xerife hesitou.
— Não, mas conheço o seu rosto. Por quê?
— Tammy foi levada à força da Reserva. Levaram ela, Valiant. O nosso advogado pediu a Flame que a escoltasse até o seu escritório. Quando eles não voltaram ao hotel em vinte minutos e Flame não respondeu ao rádio, um time imediatamente saiu em busca dos dois.
O choque sacudiu Valiant.
— Não.
— Eles encontraram Flame no chão, inconsciente, dentro do escritório do advogado. Ele foi drogado com uma substância desconhecida. O advogado e Tammy desapareceram. A bolsa dela foi encontrada, mas nada dela. Nosso pessoal só captou o cheiro do advogado e de Tammy. Isso os levou até o estacionamento, o que torna óbvio que ele a levou. Temos certeza que ela não foi por vontade própria, porque o cheiro do medo dela ainda estava no local. Ele passou pelos portões. Confiávamos nele. Checamos os carros que entram, mas não os que saem quando são dirigidos por empregados de confiança. Ele a levou, Valiant. O sequestro dessas duas mulheres foi claramente uma manobra para afastá-lo de Tammy. — Tiger rosnou e fulminou o Xerife. — O homem que falou de Valiant usou você para atraí-lo.
Valiant jogou a cabeça para trás e rugiu de fúria.
— Vamos encontrá-la. — prometeu Tiger. — Todos estamos nessa.

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