sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Capítulo 017

Capítulo 17 
— Não — rosnou Slade. Seus olhos brilhavam sua raiva. — Eu fico e a protejo. Você vai fazer o meu trabalho lá na construção.
Brass rosnou de volta.
— Eu não vou lidar com todos aqueles humanos.
Trisha sacudiu a cabeça para os dois que estavam prestes a brigar de novo. Suspirou.
— Rapazes? Podíamos por favor, não brigar na sala de estar? Já perdemos uma mesinha de café e eu gosto do sofá porque é confortável.
— Desista. — Riu Harley. — Eles vão brigar.
Moon tinha os braços cruzados, parecendo entediado. Ele assentiu para Trisha.
— Querem pipoca? — Harley se dirigiu à cozinha. — Adoro comer vendo uma boa briga.
— Eu aceito. — grunhiu Moon.
— Parem — suspirou Trisha. — Não vai ter briga na sala. Ao menos vão lá para fora se vocês dois estão determinados a surrar um ao outro. Slade? Ouviu-me? Brass? Qual é, rapazes. Não briguem dentro da cabana.
O olhar de Slade foi para Trisha.
— Eu não vou deixar você. Diga a ele para ir lidar com os projetos de Justice. Ele pode lidar com mandar em um monte de humanos para que construam as coisas a tempo tão bem quanto eu. Eles respondem bem quando rosnamos e mostramos os dentes. Isso os motiva a trabalharem mais rápido para ficarem longe de nós.
Brass praguejou.
— Eu não tenho ideia de que projetos precisam se feitos. Tudo o que disse foi que você poderia ir fazer o seu trabalho durante o dia e que poderia ficar com ela à noite. Laurann Dohnner Slade
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— Ela é minha — urrou Slade. — Está me dizendo quando posso passar tempo com ela? Nem tente. Não tem voz quando se diz respeito à minha mulher.
— Estou lhe dizendo que posso cuidar dela enquanto você está trabalhando. Tem um emprego, lembra? Ela não precisa de nós quatro aqui sentados olhando para ela. Está segura na zona selvagem. Valiant prometeu falar com os outros e que ela seria protegida por todos eles. Ele me garantiu que nenhum humano se aproximaria dela.
Slade não parecia convencido.
— Precisa que eu mostre que posso protegê-la melhor? Quer que eu esfregue o chão com a sua cara outra vez?
— Já chega! — Gritou Trisha, finalmente perdendo a paciência. Ela percebia que eles não eram exatamente homens normais, mas a natureza dominante deles começava a irritá-la. Olhou com raiva para Slade. — Você, pare de bater no peito e de ameaçar os meus amigos. — Sua atenção então se fixou em Brass. — E você, pare de provocá-lo. — Suspirou, baixando a voz enquanto olhava para Slade. — Você tem um trabalho para fazer e eu estou bem aqui. Não vejo por que não possa ir trabalhar e voltar para mim no final do dia.
— Ótimo — rosnou Slade. — Escolha o seu amigo ao invés de mim.
Ele saiu a passos largos até a porta.
— Slade? Pare de pensar dessa forma. — grunhiu Trisha. — Não é isso. Por favor, só...
Slade se virou quando alcançou a porta.
— Eu vejo você à noite.
Saiu às pressas e bateu a porta com força. Trisha foi para o sofá e se jogou nele, dizendo um palavrão baixinho. Sentiu três pares de olhos em cima de si e olhou para cada um deles.
— Por que ele dizendo aquilo soou tão parecido com uma ameaça?
Moon lhe sorriu.
— Porque foi.
— É — concordou Harley. — Vai ter a confirmação hoje a noite.
Ele tirou a pipoca do micro-ondas.
— Mas eu duvido que ele nos deixe assistir o que quer que esteja planejando fazer com você para descontar o que fez. Mas eu realmente gosto de ver filmes pornôs. Aposto que vai ser um ótimo show. Que pena.
— Pornô? — Cuspiu Trisha, disparando um olhar fulminante para Harley. — Não tem graça.
— Ele não vai te machucar, mas… — Moon piscou para ela. — Aposto que ele vai pensar em algo bom para fazer com você. Ele vai querer te convencer a escolhê-lo a próxima vez se houver algo que fique ao seu critério de escolha.
Ela franziu o cenho.
— O que isso quer dizer?
Brass riu.
— Nós somos agressivos e competitivos. É a nossa natureza. Ele provavelmente vai fazer algo que acalme o seu orgulho. Laurann Dohnner Slade
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— O orgulho dele? Não estava escolhendo você ao invés dele. O que acham que ele está planejando? Qual é, rapazes. Eu sou uma médica pelo amor de Deus. Parem de falar em enigmas. O que acham que ele vai fazer comigo?
— Quer o meu palpite? — Sorriu Moon. — Ele vai te excitar até que implore para que a foda. Vai querer te mostrar a quem o seu corpo pertence e por que ele é o seu macho. Então o seu orgulho vai se curar onde você o esmagou.
— Ele é canino. — Riu Harley. — Eu sei o que eu faria com uma mulher se quisesse lhe mostrar que estava no comando. Eu a montaria e...
— Harley! — Rosnou Brass, soltando faíscas. — Cale a boca.
— O que foi? Eu só ia dizer que a montaria até que não conseguisse mais se mexer. — Ele piscou para Trisha. — Nós cachorros somos mais cheios de tesão e podemos durar horas.
Brass grunhiu e fez uma expressão enojada quando olhou para Trisha.
— Nunca pergunte a um cachorro sua opinião sobre sexo. Grande erro.
Trisha riu.
— Estou com fome. Alguém mais está a fim de tomar café da manhã? — Ela ergueu uma sobrancelha para Harley e a sua pipoca. — Isso é nojento de se comer a essa hora.
— Café da manhã uma merda, eu fiquei com o turno da noite. Vou dormir depois que comer isso. Esse é o meu lanche da madrugada.
* * * * *
Slade fitou a mesa e teve certeza que Trisha tinha de estar tentando enlouquecê-lo.
Ele odiava ficar confinado, cercado por paredes, e o escritório temporário não era mais do que uma caixa retangular com rodas. O lugar inteiro cheirava a humanos e embora estivesse se ajustando ao aroma, não queria ficar perto de nenhum, sem confiar completamente neles. Ele virou a cabeça para observar quatro deles trabalhando em suas mesas.
Dois estavam ao telefone, um bebia café, e o último coçava a cabeça enquanto olhava os projetos abertos à sua frente.
— Algum problema, Richard?
O humano tirou os dedos da cabeça.
— Não, só estou tentando descobrir como vamos terminar esse clube a tempo. Eu continuo dizendo ao Sr. North que ninguém pode construir uma coisa desse tamanho em poucos meses. Já levantamos a base inteira, mas ainda há muito que se fazer.
— O que vai ser preciso? — suspirou Slade. Ele já sabia a resposta—mais dinheiro para contratar mais homens para trabalharem vinte e quatro horas por dia.
— Acho que vamos conseguir, mas reze para o tempo continuar bom. Uma tempestade grande e estamos ferrados. Vai nos atrasar.
— Então, qual é o problema?
O humano hesitou.
— Tivemos uns probleminhas de muito azar.
— Como? — Slade levantou a sobrancelha. Laurann Dohnner Slade
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Richard mordeu o lábio.
— Alguém vem sabotando o lugar.
Slade ficou tenso com alarme.
— Que tipo de problemas? O que está havendo? Por que só estou ouvindo isso agora?
— No começo eu acreditei que as coisas dando errado eram apenas acidentais. As equipes estão trabalhando sete dias por semana em turnos de doze horas. Achei que talvez um deles tivesse errado porque estava cansado, mas continuou acontecendo. Estou começando a achar que não é tão inocente. Esta manhã um dos rapazes se machucou porque sabotaram uma das escadas. Ele está bem, mas tivemos sorte que ela se quebrou imediatamente. Ele poderia ter morrido se tivesse subido mais alto ou se estivesse trabalhando no terceiro andar. Eu inspecionei a escada e determinei que alguém a danificou de propósito.
— Devia ter me informado antes. — Slade levantou o telefone. — Vou mandar uns oficiais lá para ficarem de olho. Isso deve dissuadir qualquer um de querer causar mais danos.
— Obrigado.
Slade assentiu. Ele tinha medo que algo ruim acontecesse. Havia grupos lá fora que não gostariam de nada mais do que causar problemas. Ter centenas de humanos na Reserva dava uma forma para alguns deles entrarem na propriedade e terem a oportunidade de fazer algum mal.
— Vou ordenar mais segurança em todos os locais das construções. Não quero que ninguém acabe ferido ou morto. — Seu dedo mal tinha tocado os números quando a porta do escritório foi escancarada. Tiger correu para dentro.
— Slade? Temos um problema.
Slade estudou Tiger. Eles tinham se tornado bons amigos depois que foram libertos de seus cativeiros. Tinham vivido juntos por meses com outros machos em um motel em um lugar remoto no tempo que se seguiu até a Homeland dos Novas Espécies ser inaugurada.
— O que foi?
— Alguns humanos desapareceram.
— Quantos? — Slade agarrou seu rádio, largou o telefone e se levantou depressa.
— Há exatamente quatorze homens ausentes e duas caminhonetes de construção. Como você ordenou, nós contamos os trabalhadores todas as horas e desde a última, foi essa quantidade que desapareceu. Eu falei com os dois portões e eles não deixaram a propriedade. Ainda estão aqui em algum lugar.
— Puta que pariu — urrou Slade. — Atenção — demandou no rádio, correndo para a porta. — Temos quatorze humanos desaparecidos em duas caminhonetes. Encontrem-nos rápido.
Slade correu para um dos Jipes com Tiger seguindo-o.
— Aonde acha que eles foram?
— Eu não sei. — Tiger pulou no banco do passageiro. — Mas nós vamos encontrá-los.
— Slade? — falou a voz no rádio.
— Ele está comigo. — Tiger usou o próprio rádio para responder. — O que foi?
— Duas caminhonetes passaram pelos guardas há vinte minutos, dirigindo-se para a zona selvagem. Não foram questionados porque uma equipe tinha sido designada para trabalhar no sistema elétrico que segue os muros daquela área. Nós verificamos de novo e eles ainda não Laurann Dohnner Slade
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enviaram uma equipe lá. Quem quer que vá ali não deveria estar na área sem um segurança dos nossos, mas os guardas humanos não sabem disso.
— Merda — rugiu Slade. — Trisha está lá.
Tiger grunhiu.
— Por que ela estaria? Não é seguro. Você endoidou? Achei que tínhamos decidido colocá-la no ultimo andar do hotel e restringir o acesso.
— Os planos mudaram.
— Há uma razão para isso? Um humano não tem o que fazer ali. Os machos marcaram o território e não a recepcionariam com amabilidade apesar de ser fêmea.
Slade hesitou.
— Pode-se dizer que sim.
— O que ela está fazendo ali? Nenhum humano é permitido dentro da zona selvagem. Como os convenceu a permiti-la no território? Eles se tornaram muito territoriais e teriam sentido o cheiro dela rapidinho.
— Trisha está esperando meu filho. Está vivendo na cabana seis.
— Filho? — ofegou Tiger.
Slade assentiu, pisou fundo, e virou o volante com força.
— Está grávida de mim. Justice a mandou para cá para escondê-la dos humanos durante a gravidez. Pouquíssimos dos nossos sabem de sua condição.
— Puta que pariu. — Tiger parecia perplexo. — Então você vai ser papai. Merda. Você a engravidou. O que ela fez para isso acontecer?
— Foi natural.
— Merda — rugiu Tiger outra vez. — Podemos engravidá-las? Alguém devia ter nos dito isso. Acho que é melhor eu cancelar o meu encontrou com a mulher da cidade que inspeciona as construções. Definitivamente não quero ser papai. Minha vida já é dura o bastante comigo sozinho, mas uma companheira e um filho? — Ele sacudiu a cabeça. — Não estou interessado.
Slade o olhou com surpresa.
— Não sabia que sentia atração por humanas. Achei que pensava que eram frágeis demais.
— É, bem, algumas delas me acham realmente bonito. — Ele encolheu os ombros. — O que um cara bonito faria? Pensei em tentar. Elas são muito frágeis, mas deve ser divertido deixar que uma tenha o que quer de mim uma ou duas vezes.
— É melhor que os humanos que desapareceram não estejam perto de Trisha. Eu sim a quero e o nosso filho. Onde esses bastardos estão e o que estão fazendo?
— Eu não sei. — Tiger desabotoou o coldre para ganhar um acesso mais fácil a sua arma. — Mas nós vamos encontrá-los. — Ele colocou metade do corpo para fora na janela. — Você dirige e eu farejo. Vamos achá-los mais rápido.
— Vou checar como Trisha está primeiro. Temos homens o suficiente para procurarem por aqueles imbecis. Só quero garantir que esteja a salvo.
— Totalmente compreensível. Mesmo assim não darei folga ao meu nariz. Posso ao menos orientar os times via rádio se captar o cheiro deles. Laurann Dohnner Slade
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* * * * *
— Trisha! — Gritou Brass.
Trisha pulou, quase escorregando na banheira molhada. Ela agarrou as torneiras e as fechou. A porta do banheiro foi arremessada contra a parede quando alguém a abriu com um chute. Uma Trisha assustada e nua ficou de boca aberta quando Brass de repente puxou a cortina do chuveiro. Ele a tirou de lá puxando-a pelo braço.
— Tem vários humanos vindo para cá. — Ele a soltou e empurrou suas roupas em seus braços. — Se vista agora. E seja rápida.
Brass a ignorou para subir na beira da banheira para espiar pela pequena janela.
Trisha tentou ignorar o fato de estar pingando e nua no diminuto banheiro com ele. Lutou para achar o jeito certo de vestir a camiseta e passou-a pela cabeça. O tecido grudava à sua pele encharcada. O medo a motivou a não reclamar sobre a invasão de privacidade. Ele nem pareceu ter notado que estava nua… além do fato de ordenar que se vestisse.
— O que está acontecendo? — Ela puxou o short de algodão. — Por que humanos estariam na zona selvagem? Tem certeza que está vindo alguém? Eles não são banidos?
— Eu vejo duas caminhonetes vindo com vários humanos dentro.
Ele saltou de onde estava e agarrou o braço de Trisha.
Trisha empurrou a camiseta para que cobrisse sua barriga enquanto Brass a arrastava para a sala. Moon e Harley tinham começado a fazer uma barricada na porta da frente com o sofá e pareciam realmente irados. Brass olhou em volta da sala e arrastou Trisha em direção à lareira. Ele se abaixou, segurou a grade de metal que a cobria e a tirou do caminho.
— Entre aí dentro.
Ela encarou de boca aberta a lareira imunda.
— Por quê? É muito sujo.
— A lareira parece ser feita de pedras sólidas e cimento. Ponha o seu traseiro ali dentro agora. Balas não devem passar por ela e é o melhor lugar que posso pensar em colocá-la. Nós fugiríamos com você, mas temo que seja tarde demais. Eles nos veriam e usariam os pick-ups para nos perseguirem. Proteger você e o seu bebê é a nossa prioridade. Entre aí agora e se proteja.
Trisha fez careta, mas se abaixou, apoiando-se com as mãos e os joelhos. Não era confortável, mas ela sentou o traseiro nas cinzas com os joelhos colados no peito. Sua testa descansava nos joelhos e ela passou os braços em volta de suas pernas dobradas. Não podia levantar a cabeça totalmente sem bater na chaminé. O interior da lareira não era alto o suficiente. Ela observou com medo crescente enquanto os três homens se preparavam para o pior.
O baú de cedro foi empurrado na frente da porta com o sofá. Para garantir, Moon empurrou mais uma mesa pesada contra ela. Harley correu até a mesa da cozinha e a virou de cabeça para baixo. As pernas foram quebradas com pouca ajuda de sua bota e mãos fortes. Ele levantou a tampa de madeira pesada e correu para a janela próxima à porta. Derrubou-a na frente do vidro então só centímetros de luz passava pelo topo. Empurrou o sofá de dois lugares para mantê-la no lugar. Laurann Dohnner Slade
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Brass correu para a cozinha para tirar a geladeira do buraco onde ficava e empurrou-a na porta dos fundos. Ela bloqueou completamente a abertura e então ele pegou o forno.
— A mangueira de gás! — Gritou Trisha.
Brass congelou e olhou para ela.
— Obrigado. Eu não teria me lembrado. — Ele se inclinou detrás do enorme eletrodoméstico por alguns segundos para evitar o potencial problema antes de arrancar o fogão da parede. Ele o colou na geladeira.
— O andar de cima devia ser bloqueado — disse Moon.
— Não tem nada em volta alto o suficiente para que escalem ali e eles não podem saltar do jeito que primatas e felinos podem.
— Eu não tenho sinal. — Harley disse um palavrão sujo enquanto agarrava um celular.
— Partes da cabana parecem bloqueá-lo. — informou-o Brass. — Eu tenho que dar uma volta para conseguir. Tente na base da escada. Parece mais forte ali.
Algo quebrou dentro da cozinha.
Trisha viu quando Brass quebrou o armário, usando sua força para arrancar só uma parte, que ele colocou na janela da cozinha. Ele se virou, estudou a cozinha por um segundo, antes de voltar às pressas para a sala.
— Pegue a sua bolsa — ordenou a Moon. — Use o andar de cima para eliminar o máximo que conseguir deles. Está autorizado devido às circunstâncias atenuantes. Cabe a mim decidir e eu já decidi.
Moon assentiu seriamente e virou a cabeça para olhar para Trisha.
— Devo levá-la comigo?
— Não. Ela está mais segura aqui, melhor protegida de balas perdidas. Você vai atrair fogo quando começar a atirar naqueles terroristas. — Brass olhou pra Trisha e manteve o olhar. — Não mexa o traseiro, não importa o que aconteça. Entendeu-me? Se um de nós for atingido, médica ou não, não se mova um centímetro. Pense nesse bebê.
O medo a envolveu quando as caminhonetes chegaram perto o bastante para que seus ouvidos humanos distinguissem o som. Moon tirou uma bolsa de lona de dentro de um armário perto da porta e abriu-a. Não tinha arrumado roupas dentro da bolsa larga e comprida. Ao invés disso havia dois rifles e ele a agarrou pela alça, levando-a com ele enquanto subia correndo a escada.
Harley foi até a sua bolsa e Trisha o observou carregar armas e pegar mais munição. Ele olhou para Brass.
— Quer a posição da frente ou a dos fundos?
— Fico com a dos fundos. Os humanos sempre costumam pensar que podem nos surpreender. Acho que o ataque aos fundos vai ser bem pior e eu atiro melhor.
— Certo — bufou Harley. — Veremos quanto a isso. Aposto que eu consigo eliminar mais deles do que você.
— Tenho certeza que eles só estão perdidos — disse Trisha, esperando que esse fosse o caso. — Por favor, não atirem em ninguém a não ser que precisem.
Brass encontrou seu olhar. Laurann Dohnner Slade
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— Há duas caminhonetes com humanos invadindo a zona selvagem e Slade nunca os mandaria para cá com você aqui. Eles teriam segurança de Novas Espécies e Slade teria nos alertado para sair daqui para não expô-la se tivessem permissão. Eles estão aqui para fazer o mal. Fique onde está.
Ele agarrou uma mesa de canto e jogou o abajur no chão onde o vidro quebrou e se espalhou. Ele empurrou a mesa para perto dela para bloquear a abertura e prendê-la lá.
— Saia daí e eu estouro a pele do seu traseiro com uma surra de cinto — Brass rugiu para ela. — Entendeu? Não vai sentar por uma semana.
Chocada, Trisha o fitou. Brass de repente sorriu e piscou.
— Sei o suficiente sobre crianças humanas para saber que essa é uma ameaça efetiva. — Seu sorriso morreu. — Eu falei sério. — Ele se virou, dirigindo-se para a parede de trás da cabana, para uma janela.
Trisha ouviu freios e motores desligarem, deixando-a saber que as pick-ups tinham parado do lado de fora. Ouviu vozes de homens. Isso tem que ser algum engano. Os rapazes estão só surtando e exagerando. Eles têm que estar. Ninguém sabe que eu estou na cabana e ninguém está vindo ferir a mim nem o meu bebê. É tudo só um grande mal entendido...
— Tem algum maldito animal aí dentro? — uma voz masculina gritou do lado de fora. — Saia e nos deixe dar um fim ao seu sofrimento.
Risada soou e Trisha ficou tensa. Ok. Não é um mal entendido. Estão aqui para fazer mal. Os homens lá fora não estavam procurando particularmente por ela, mas ao invés disso buscavam qualquer Nova Espécie que encontrassem. Ela prendeu o foco em Harley, na janela da frente, e soube que ele poderia vê-los melhor. Ele lhe parecia calmo. Ela sentia tudo, menos calma. Seu terror aumentou quando os segundos se passaram, rezando para que eles simplesmente fossem embora. Não queria que Brass nem os rapazes se ferissem protegendo-a.
— Vamos entrar e pegar uma pele de animal. — outro idiota riu.
— Vamos matá-los onde estão se aproximarem-se mais. Estamos altamente armados. — alertou Harley alto o bastante para que eles ouvissem a ameaça.
Vozes riram do lado de fora.
— Ouviram isso? Um dos animais pensa que permitiríamos que um cachorro ou um gato nos caçasse. Espalhem-se e atirem no filho da puta. Vamos mostrar quem é dono de quem.
Tiros ecoaram, os sons altos e horríveis. O olhar de Trisha voou para cima quando percebeu que Moon tinha aberto fogo. Trisha observou horrorizada quando Harley levantou a arma, apontou-a para fora da estreita abertura no topo da janela coberta pela mesa da cozinha e disparou sua arma. Ela levantou as mãos para cobrir os ouvidos. Ouviu múltiplos disparos e homens gritando do lado de fora, embora tentasse bloquear o som.
* * * * *
— Porra. — urrou Slade.
— Sabemos onde eles estão. — disparou Tiger, agarrando seu rádio. — Precisamos de ajuda na zona selvagem, cabana seis. Temos tiros. Nosso pessoal está sob ataque. Laurann Dohnner Slade
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Slade rosnou para Tiger.
— Sente-se. — Foi todo aviso que deu antes de virar o volante com força e o Jipe saiu da estrada. Teve que girar o volante com violência outra vez segundos depois para evitar bater em uma árvore.
Tiger praguejou e agarrou tudo o que tinha disponível. Slade tinha deixado o asfalto e estava dirigindo em uma velocidade perigosa por dentro da floresta. O Jipe sacudia com força, o caminho quase assustador enquanto desviavam de obstáculos e escapavam por pouco de árvores. Tiger prendeu o fôlego algumas vezes, achando que o Jipe não passaria por entre as árvores em certos trechos. Um dos retrovisores não sobreviveu quando esbarrou em uma árvore, explodiu com o impacto e Tiger ouviu a tinta ser arranhada do lado da porta.
— Não dirija para o meio da confusão quando chegarmos lá. Vamos surpreendê-los. Não vão nos ouvir com todo esse barulho.
— Porra nenhuma. Espero atrai-los para longe dela.
Slade rosnou as palavras, irado demais para ligar para o que aconteceria com eles contanto que disparassem em sua direção e não na de Trisha.
— Quero que venham atrás de mim.
— Eles são humanos. — rugiu Tiger. — Eles não lutam assim. Não vamos atraí-los, ao menos não todos eles. Escute-me. Eu sei que está furioso, mas faça o que eu digo. Não está sendo racional.
Slade assentiu, sabia que o seu amigo falava a verdade, mas não conseguia ver além do seu medo de Trisha ferida ou morta. Sabia que tinha deixado sua racionalidade para trás no primeiro som de tiros quando saiu da estrada.
— Certo.
* * * * *
Trisha viu Harley estremecer, seu corpo ser jogado para trás e ele segurar o braço ensanguentado quando uma bala o atingiu. Entretanto, ele não parou de disparar a arma. Simplesmente agarrou o ferimento por alguns segundos antes de ignorá-lo.
Ela queria ajudá-lo, mas sabia que seria suicídio tentar chegar até ele. Balas atingiram a cabana repetidamente e buracos se abriram nas paredes num alvoroço repentino, mas Harley se jogou no chão no último segundo. Ele rastejou, praguejou, e foi para outro local. Levantou-se e começou a disparar de novo. Mais balas entraram na cabana quando os homens de fora devolveram os tiros. Uma foto emoldurada pendurada na parede perto de onde ficava o sofá despedaçou com uma bala, fazendo com que chovesse vidro no chão.
Trisha virou a cabeça para ver Brass, que estava escorado em um suporte grosso de madeira enquanto disparava. Ele obviamente tinha adivinhado de forma correta que alguns dos homens tentariam entrar pelos fundos. Trisha ouviu um barulho e olhou para a cozinha quando a prateleira do armário que Brass tinha escorado na janela caiu. Ela bateu na pia e deslizou para o chão. Trisha viu movimento quando o cano longo de uma arma entrou por onde alguém tinha conseguido abrir a janela.
— Janela da cozinha — gritou Trisha. Laurann Dohnner Slade
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Brass mergulhou no chão e deslizou nele alguns metros de barriga até poder enxergar a cozinha. Ele se virou de lado, arma na mão, e mirou. Atirou no intruso na cabeça quando um homem apoiando-se no cano da arma entrava pela janela.
O corpo se sacudiu antes dele cair com metade do corpo pendurado em cima da pia. Brass virou e piscou para Trisha antes de descartar um pente vazio da arma e empurrar um novo. Ficou de pé para alcançar a sua posição anterior outra vez. Espiou pela janela que guardava.
— Diga se vir mais alguém, Trisha. — ordenou Brass. — Não vire o rosto. Você é os nosso olhos.
Trisha assentiu sem dizer anda, mas lembrou de que ele não estava olhando para ela.
— Estou de olho. — Sua voz saiu estremecida, mas ela sabia que ele a escutou quando não repetiu a ordem.
Ela olhou com horror para o corpo pendurado na janela. Sangue escorria pelo armário debaixo da pia e se juntava no chão. Ela forçou a atenção para longe da visão vermelha e grotesca do que sobrou da cabeça dele onde faltavam pedaços. Concentrou-se, ao invés disso, na janela aberta. Se alguém a usasse para entrar na cozinha essa pessoa seria capaz de atirar em Brass e em Harley. A atenção total deles tinha que estar do lado de fora.
O tiroteio parou de repente e Trisha prendeu o fôlego. Estava com medo de tirar os olhos da janela e não o fez. As vidas dos homens com quem se importava dependia que se mantivesse observante.
— Eles estão se reorganizando — rugiu Brass. — Como está, Harley?
— Dois tiros, mas só de raspão no braço e na perna. Nada que me impeça de continuar.
— Moon?
— Ainda aqui e bem. Eliminei seis deles e feri mais dois. Eles estão atrás das caminhonetes ou se embrenhando na mata para formar um círculo. No momento estão reunidos, provavelmente tentando formar um plano para nos atacar. Não tenho uma boa mira lá de trás. O telhado da varanda bloqueia a minha visão.
Brass baixou a voz para um sussurro.
— Munição?
— Estou bem — disse Moon de cima.
Harley hesitou.
— Pouca.
— Moon? Cubra a frente. — Brass manteve a voz baixa para evitar ser ouvido pelos homens lá fora.
— Entendido.
— Harley, troque de posição comigo depois que reabastecer. Fique com os fundos enquanto eu conserto o problema da cozinha.
Trisha viu Harley mancar até as bolsas no chão. Ele empurrou pentes dentro dos bolsos das pernas da calça. Ela olhou com preocupação a trilha de sangue que ele deixava enquanto caminhava. Queria tratá-lo. Brass hesitou dentro da cozinha, passou os olhos em volta dela e se agachou. Pegou o homem morto, segurou-o pelo colarinho e o puxou para dentro da cabana. Até gastou um segundo verificando se tinha pulso. Laurann Dohnner Slade
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Empurrou o corpo onde o fogão uma vez ficava para tirá-lo do caminho.
Ele ficou abaixado quando agarrou a prateleira quebrada e a usou como escudo na frente do corpo quando se levantou e empurrou a pesada peça de volta à janela. Virou-se, examinando a cozinha. Brass se moveu, um som alto soou, e ela observou quando ele se virou, agarrou as prateleiras que guardavam os pratos e as arrancou da parede. Havia três delas fixas umas nas outras, mas ele derrubou todas na pia como se não pesassem nada. Ele as estudou antes de se virar para olhá-la.
— Como está? — Ele foi em sua direção.
— Estou bem. Posso dar uma olhada em Harley? Ele está perdendo muito sangue.
— Fique onde está. — Ele olhou para o chão manchado de sangue, levantou o olhar para onde Harley estava, na janela de trás e franziu o cenho. — Harley? Vá até Trisha. — Brass voltou o olhar para ela. — Pode tratá-lo de onde está. Não saia desse lugar.
Brass foi para a janela dos fundos. Harley mancou até Trisha. Ela tirou a mesa do caminho e se concentrou na área ensanguentada. Ele tinha sido ferido bem debaixo do joelho na parte externa da perna. Seus dedos estremeceram quando os colocou no tecido de sua calça onde a bala tinha rasgado e aumentou a abertura o suficiente para ver a pele cheia de sangue. A bala tinha passado de raspão, mas o corte era fundo. Harley tinha uma faca amarrada à coxa. Ela a olhou primeiro antes de encontrar o seu olhar. Ele a observou silenciosamente.
— Me passe a sua faca, por favor.
Ele não hesitou em lhe entregar, na direção do punho. Trisha olhou para o próprio corpo, percebendo que não tinha muita roupa. Agarrou o final da camiseta e começou a cortá-la. Tirou alguns centímetros e fez uma tira larga, levantando a faca da mesma forma que havia recebido, para Harley. Ele instantaneamente a pegou.
— Eu teria atirado em Moon se soubesse que iria cortar as roupas se um de nós fosse baleado.
— Eu ouvi — disse Moon lá de cima.
Trisha riu enquanto amarrava a tira em volta da perna dele e amarrava com firmeza.
— Isso deve segurar e diminuir o sangramento, mas vai precisar levar pontos.
— Já me sinto melhor.
— Me deixe ver o seu braço.
Harley se agachou e girou o corpo enorme para colocar o ombro em sua direção. Ela rapidamente rasgou o tecido fino de sua camiseta para ver o ferimento. Estava uma bagunça. Ela hesitou.
— Preciso apalpar para ver a profundidade disso e vai doer.
Ele assentiu, sem olhar para ela.
— Temos muita tolerância a dor. Vá fundo.
Mesmo que Trisha odiasse ter que fazer isso, ela colocou os dedos no ferimento rasgado que sangrava bastante e imediatamente sentiu uma coisa ali. Merda.
— Eu sinto uma bala. Achei que tinha dito que pegou só de raspão.
— Às vezes eu minto. Laurann Dohnner Slade
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Trisha usou a ponta do dedo para desenterrar a bala depois de perceber que não tinha ido longe, sentindo-se sortuda pelo projétil ter atravessado a parede da cabana antes de atingir Harley. Isso desacelerou a bala de maneira significativa para impedir que atravessasse seu corpo. Temia que um vaso sanguíneo dos grandes tivesse sido perfurado pela quantidade de sangue que escorria pelo seu braço. Tinha que parar o sangramento e sabia que ele não ficaria deitado e imóvel para que aplicasse pressão no ferimento até que o socorro chegasse.
Podia tentar cauteriza-lo, mas descartou a ideia. Pediu por sua faca de novo e cortou mais da camiseta até o tecido cobrir pouco abaixo dos seus seios. Travou os dentes, odiando o quanto teria que machucá-lo.
— Eu vou enfaixar o ferimento e depois vou dar um nó. A pressão do enchimento vai parar ou diminuir amplamente o sangramento, mas vai doer.
— Faça isso, mas se apresse, Trisha. Eu preciso ficar de pé. Eles vão abrir fogo contra nós a qualquer momento. Não vão simplesmente embora por mais que quiséssemos que fossem.
Trisha pegou um pedacinho da camiseta e o enfiou no buraco. Era algo extremo, mas não tinha escolha. Ela o estudou, viu uma diminuição de sangramento, e passou uma faixa apertada em volta do braço dele, para manter o tecido no lugar, antes de amarrar. Longos segundos se passaram enquanto observava o curativo, mas o sangramento parecia ter passado.
— Tente manter esse braço imóvel o máximo que puder. Isso não é exatamente uma solução, é mais um curativo temporário de emergência.
Ele assentiu, levantou-se, e empurrou a mesa de canto de volta na frente dela para protegê-la de balas perdidas.
— Valeu.
Harley retomou sua posição na porta da frente enquanto Brass ficou na parede dos fundos.
De repente, Brass e Harley riram.
— O que é tão engraçado? — Trisha olhou entre eles, perguntando-se se o estresse da situação finalmente os havia atingido.
Brass parecia aliviado quando olhou em sua direção.
— Temos companhia. Os vizinhos estão a caminho para recepcionar os nossos convidados. Consigo captar o cheiro deles.
— Pelo menos quatro — inalou Harley. — E Valiant é um deles.
— Pobres bastardos — acrescentou Moon lá de cima. — Isso vai ser interessante.
Trisha só queria que aquilo acabasse. Queria poder ver o que acontecia do lado de fora, mas balas de repente atravessaram a cabana outra vez.
— Ataque completo pela frente — gritou Moon. — Eles estão vindo com uma das caminhonetes.
— Trisha — gritou Harley, correndo até ela. — Saia daí!
Trisha empurrou a mesa e a chutou de lado. Balas atingiram a parede próxima a Brass quando ele gritou um palavrão. Harley de repente agarrou o braço de Trisha quando ela lutou para ficar de pé e a puxou em direção à escada. Ele manteve o corpo entre o dela e a frente da cabana. Balas passavam pela sala vindas da frente, incrustando-se nas paredes e quebrando vidros.
— Suba para lá — rosnou Harley. Laurann Dohnner Slade
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Ele soltou Trisha no início da escada. Ela correu e alcançou o topo antes de perceber que Harley não a seguia. Ela virou e o viu deitado no chão próximo ao começo dos degraus. Brass avançou até o homem caído, agarrou-o com as duas mãos, levantou-o e colocou-o sobre o ombro para subir correndo a escada.
— Trisha, deite na cama — rosnou Brass para ela, jogando o corpo mole de Harley nela primeiro.
— Fique atrás dele e permaneça deitada.
Trisha ouviu o som de um motor segundos antes de uma explosão de ruído rugir pela cabana tão alto que doeu seus ouvidos. Ela se jogou na cama ao lado de Harley. A cabana sacudiu como se um terremoto estivesse acontecendo—uma sacudida forte e rápida. Ela gritou, aterrorizada, quando a madeira quebrou e rangeu.
Mais vidro quebrava e caía de algum lugar abaixo deles no primeiro piso. O som do motor parecia super barulhento, como se estivesse ao lado de Trisha.
— Eles passaram pela porta da frente. — urrou Moon.
— Passaram um inferno. — rosnou Brass de volta. — A caminhonete está estacionada na sala agora.
Trisha viu Brass tomar posição no topo da escada onde ele jogou o corpo no chão. Ele começou a disparar contra algo lá embaixo e os disparos se tornaram ensurdecedores a ponto de Trisha cobrir as orelhas. Porém, não conseguia desviar os olhos do amigo, preocupada demais com ele.
— Abaixe a cabeça, Trisha — Moon gritou para ela.
O motor morreu e alguém gritou enquanto Brass continuava disparando. Ele jogou um pente vazio, encaixou outro e continuou a atirar depois de uma pausa de poucos segundos. Moon atirava pela janela.
O coração de Trisha batia acelerado. Aqueles homens tinham entrado com uma caminhonete na cabana. Balas perfuravam o chão em volta da cama onde Trisha via buracos aparecerem na madeira e seguirem atravessando o telhado. Detritos caíam. Trisha se voltou para a forma imóvel de Harley e se agarrou a ele até perceber que a mão que o apertava estava quente e molhada.
Sangue. Ele está sangrando. Ela abriu os olhos para olhar para Harley em choque, que estava deitado de costas. A mão que tinha em seu peito, em cima do seu coração levantou e estava coberta de sangue. Os portões do inferno se abriram em volta dela quando homens gritaram, armas foram disparadas e a cabana continuava a ser golpeada por balas. Trisha odiava se sentir inútil ao olhar para a mão ensanguentada, sabendo que se sentasse não seria de serventia alguma para ele com balas perfurando-a também.
Um rugido alto soou acima do tiroteio, da gritaria e da cabana sendo destroçada por balas. Trisha já tinha ouvido aquele rugido ensurdecedor antes. Parecia que Valiant entrou na cabana. Laurann Dohnner Slade
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