— Oi, Bela. — Creek era uma mulher bonita com uma voz agradável. — Você está bem?
Bela odiou que parecesse não poder se mover da parede, mas saber que o médico estava no andar de baixo deixou-a paralisada. A equipe da força tarefa poderia aparecer depois e com eles, Shane. Não queria vê-lo novamente.
— Bela? — A Espécie abaixou a voz. — Você precisa ver o médico?
— Não! — Odiou o modo como medo soou em sua voz.
— Não se preocupe. Ele é muito bom. Você está sangrando.
— Não é meu sangue. Mordi Torrent e um pouco é de Shadow. — Olhou para suas mãos.
As sobrancelhas escuras elevaram-se rapidamente em surpresa.
— Você é responsável por alguns dos ferimentos de Torrent?
— Ele atacou Shadow e o jogou pela janela. Estava com raiva. E assustada. — Embora não estivesse disposta a admitir isto, apesar de ser óbvio.
— Isso foi valente para você.
Ela olhou para a Espécie mais alta.
— Nós duas sabemos que não foi por isso que fiz isto.
— Você se apavorou e apenas atacou porque seus instintos assumiram o comando?
— Algo desse tipo.
Creek debruçou-se contra a parede oposta.
— Já estive nessa situação.
— Você esteve? — Aquilo surpreendeu Bela. — Você parece forte.
— Não quando estava acorrentada e ainda sob o controle da Mercile. Ela abraçou a cintura. — Você não foi criada dentro das instalações de testes, mas os técnicos com quem lidávamos eram humanos grandes, fortes. Era raro ver um mais baixo a menos que fossem da equipe médica. Encolheu os ombros. — Os técnicos eram principalmente valentões com altos títulos que adoravam nos aterrorizar.
— Sinto muito.
— Eu também. Mas isto está no passado. — Um sorriso curvou seus lábios. — Como você está? Ela levantou a cabeça. — Eles estão levando Shadow para o Centro Médico agora. Nós seremos deixadas sozinhas por um tempo. Os machos ficarão do lado de fora. Por que não se limpa?
Bela rodeou a outra Espécie para entrar no banheiro. Lavou suas mãos e um olhar no espelho permitiu ver a si mesma, limpando o rosto e pescoço também. O sangue de Torrent estava lá. Creek a seguiu, mas parou na entrada.
— Você parece nervosa. Relaxe. Ninguém entrará na casa até que Shadow retorne. 109
— Nossos homens têm medo que me apavore se entrarem aqui? É por isso que permanecem do lado de fora?
— Sim. Ninguém quer te traumatizar mais. Breeze ordenou que todos os machos ficassem afastados de você. Vou ficar até que ela chegue. Estão preparando um helicóptero para trazê-la para cá assim que possível.
— Que bagunça. — Bela resistiu gemer enquanto fechava a água e usava uma toalha para se secar. — Como as coisas puderam dar tão errado?
— O que aconteceu?
— Você ouviu. Conversou com Torrent e Shadow. Minha audição é boa.
— Quero sua versão.
— Shadow e eu estávamos na cama juntos, mas de repente Torrent nos atacou.
— Você quer dizer que ele atacou Shadow.
— Sim.
— Torrent machucou você?
Ela balançou a cabeça, calma agora que as vozes enfraqueceram. Não conseguia ouvir nada no andar de baixo ou lá fora, exceto um veículo partindo. Isso parecia ser o médico levando Shadow para ser tratado.
— Torrent não sabia que Shadow tinha permissão para tocá-la.
A raiva agitou.
— Eu sei.
— Torrent não é um macho ruim. Ele pensou que estava protegendo você.
— Estou tão cansada disto! — Bela cerrou seus dentes e olhou para a outra mulher, até se acalmar o suficiente para falar novamente. — É por isso que fui trazida para cá.
— Eu sei. Breeze me informou sobre sua situação e como se sente. Você se ressente de ser etiquetada como Presente.
— Ressentir-me é um eufemismo. Isto não teria acontecido se todo mundo parasse de me tratar como se eu fosse uma fraca. — Pausou. — Não preciso de uma babá.
— Breeze não queria que ficasse sozinha. Podia passar horas antes de Shadow ser liberado para retornar. Pode demorar mais se ele tiver muitos ferimentos. O médico poderia querer mantê-lo lá durante a noite.
A preocupação a remoeu.
— Ele parecia bem para você, não é? Estava conversando e de pé.
— Estou certa de que ficará bem. Nossos machos são bem durões e se recuperam depressa depois de lutar. — Creek sorriu. — Eles fazem isto frequentemente aqui.
— Nunca vi você em Homeland.
— Vivo aqui em tempo integral. Já tinha sido transferida para cá quando foi salva.
— Por quê? Pensei que mudassem as mulheres a cada poucos meses.
O sorriso de Creek enfraqueceu.
— Gosto mais da Reserva e me sobressaí em minhas habilidades de secretária. Os membros do conselho atribuíram que precisavam de alguém aqui para ajudá-los. Eu me voluntariei.
— Há dormitórios de mulheres na Reserva?
— Vivo no hotel. É legal.
— Ah. — Bela avançou e Creek recuou, depois a seguiu para o quarto de Shadow. — Acho que deveria limpar a bagunça antes que ele volte para casa. Não quero que sinta que precisa fazer isto, mas ele irá. 110
— Eu ajudarei.
— Eu mesma posso fazer isto.
Creek levantou as mãos.
— Não quis ofendê-la, Bela. Estou aqui. O que mais farei?
— Você podia ir para casa.
— Breeze arrancaria meu pescoço. Não obrigado. Aquela é uma fêmea que nunca quero desapontar. Ela deu uma ordem e seguirei. — Creek sorriu, suas feições mostrando diversão. — Você sabe como ela fica.
— Ela é muito protetora.
— Com você talvez. — Creek olhou ao redor, estudando a estrutura do quarto. — Ela é tipo um urso para o resto de nós. Somos o “estofamento macio que afasta nossos machos de despedaçar um ao outro”. Essa é uma citação dela. Ela espera muito de nós.
— Nunca a ouvi dizer isto. O que isso quer dizer? — Bela parou na cama, seu triste olhar fixo na armação da janela quebrada. — Não sei o que fazer com isto.
Creek cruzou o quarto e apenas fechou a janela.
— Isto fecha. Isso é tudo o que importa. Outra pessoa pode consertá-la mais tarde. Temos pessoas que fazem isto. — Fechou as cortinas, eficazmente escondendo o dano e voltou-se. — Você nunca recebeu o sermão de Breeze sobre nossos deveres com nossos machos?
— Não. Não tinha permissão para ficar perto deles. — Decidiu arrumar a cama.
— Ah. — A Espécie caminhou para o outro lado para ajudar. — Nossos machos são grossos e não são os mais amigáveis se não notou. Intimidam os outros facilmente. O lado suave deles é difícil de achar, mas é nosso dever lembrá-los por que precisam ser sociais. Caso contrário, provavelmente competiriam com seus punhos. Haveria tanta luta que não fariam outra coisa.
Bela pausou, olhando fixamente para Creek.
— Por quê? Todos somos considerados família, não é?
— É a natureza deles. Mercile não os criou para serem fracos. Tivemos a vida toda para crescermos ressentidos das figuras de autoridade. É nosso trabalho como fêmeas dar-lhes uma razão para se unirem. Eles trabalham juntos para nos dar um lar. — Sorriu, dobrando seu lado do acolchoado. — Permitimos que façam isto. Precisamos lembrá-los que existe mais pelo que viver do que buscar vingança das pessoas que nos prejudicaram.
— Qual é seu trabalho especificamente? — Bela olhou em torno do quarto, não vendo qualquer outra coisa para fazer. Segurou o olhar de Creek.
— Breeze apenas espera que sempre encorajemos nossos machos.
— É por isso que ela dorme com tantos deles em vez de se acomodar com um só? Não existem muitos de nós que sobreviveram.
A boca de Creek curvou em um sorriso.
— Não. Ela se sentou no fim da cama. — Você sabe alguma coisa sobre as experiências de procriação que faziam na Mercile?
— Ouvi um pouco sobre isto.
— Nós éramos levadas para machos para compartilhar sexo. Às vezes era o mesmo por algumas semanas, mas na maioria nos levavam para outro diferente. Queriam que ficássemos grávidas e provavelmente pensaram que nos expor a vários machos ajudaria que isto fosse bem sucedido. Seu coração endurece depois de alguns anos disto.
— Não entendo. — Bela encostou-se na cômoda.
O humor de Creek acabou enquanto abraçava a cintura. 111
— Aprendemos a não ficar presos a ninguém. Era um erro doloroso se tornar emocionalmente envolvida. Eles nos usariam para castigar os machos, ou usariam os machos para tentar nos forçar a seguir suas ordens sem protestar, se suspeitassem que nos importamos demais uns com os outros. Discutir contra o que quer que fosse não era uma coisa boa.
— Que tipo de coisas eles queriam que fizesse?
As presas morderam o lábio inferior.
— Coisas ruins. Fui levada uma vez para um macho que foi torturado. Ele estava mal e cuidei dele ao invés de compartilhar sexo. — A raiva aprofundou a voz de Creek. — Como se ele tivesse condições de fazer isto. Ele foi severamente espancado. Acho que quiseram humilhá-lo.
— Colocando você para compartilhar sexo?
— Ele estava tão ferido que não podia se levantar de sua esteira. Esperavam que eu iniciasse o sexo. Você disse que não sabe muito sobre nossos machos, mas eles são orgulhosos. Isto o teria envergonhado se fosse esperado que fizesse, mas não foi capaz. Sua voz abaixou. — Duvido que ele pudesse levantar. Ela olhou para seu colo, depois de volta para Bela. — Você entende?
— Sim.
— Sabia que eles recusariam alimentar-me por alguns dias como castigo por não ficar nua, e por não tentar compartilhar sexo com ele, mas me preocupei que morresse. O técnico entendeu mal minha compaixão como um apego pelo macho, quando me levou de volta a minha cela. Aquele bastardo ameaçou a vida do macho se não permitisse que ele me montasse. Sua mandíbula cerrou e seus olhos escuros estreitaram. — Quebrei o nariz dele e o chutei nas bolas quando chegou mais perto. Espero que isto tenha doído como o inferno. Nunca iria me submeter a ser estuprada sem começar uma briga. Os outros técnicos o puxaram da cela antes que pudesse machucá-lo mais, ou pudesse matá-lo. Ela encolheu os ombros. — Ele nunca mais tentou isto novamente.
Bela piscou de volta as lágrimas.
— Estou contente que pôde se defender.
— Eu também. Nem todas as nossas fêmeas foram tão sortudas. — A compaixão encheu o olhar de Creek. — Embora seja desnecessário dizer, aprendemos a proteger nossos corações não ficando muito presas a um macho. Estamos apreciando nossa liberdade. Temos tantas escolhas agora, e ninguém mais nos diz com quem temos que compartilhar sexo. Creek hesitou. — Mas, acho que algumas de nós sentem que seria injusto escolher apenas um macho, quando não existem fêmeas suficientes para satisfazer a todos.
— Você se sente desse jeito? — Bela a estudou de perto, localizando tristeza em seu rosto.
Creek encolheu os ombros.
— Não sei. Às vezes, eu acho. Nunca repita isso para Breeze. Ela ficaria horrorizada. Essa não era sua intenção quando nos mudamos para o dormitório das mulheres em Homeland. Ela nos reuniu para discutir como ajudar nossos machos com nossas novas vidas. Nunca foi implicado que devíamos compartilhar sexo com eles, mas é nosso dever ter certeza que cuidamos deles tanto quanto cuidam de nós. Eles são protetores e nos protegem tanto quanto possível da crueldade que ainda suportamos do mundo lá fora. Parece um preço pequeno por atender as necessidades deles. Ela riu. — E, certamente, é prazeroso. Eles realmente cuidam bem de nós em todos os aspectos.
— Existe alguém que você gosta mais do que de algum outro?
— Não. — Creek se levantou. — Certifico-me de nunca passar tempo demais ao redor de qualquer um dos machos do qual fiquei íntima. Não existem tantos quantos você pensa. Muitos deles aqui estão interessados nos humanos. Temos muita interação com a cidade local.
— É assustador? 112
— Os humanos? — Creek sorriu. — Não. — Seu sorriso desapareceu e ela continuou. — Sinto muito pelo o que aconteceu com você. Foi ruim? Não conheço sua história.
— Acho que poderia ter sido muito pior. Havia só um homem que abusou de mim. Ele era velho e não me bateu, mas queria fazer sexo às vezes. Era frio e foi uma experiência desconfortável, mas não fui brutalizada. Os guardas que contratou estavam sempre tentando me subornar, ou me assustar para que eu fizesse coisas com eles. Nunca fiz.
— Sinto muito que teve que sobreviver a isso, mas não precisa temer todos os humanos. Nós temos alguns trabalhando aqui e me tornei muito amiga de dois deles. Você devia conhecer Zandy e Richard enquanto estiver visitando a Reserva. Almoço com eles frequentemente, mas não estão juntos agora.
— Você é amiga de homens humanos? Eles lutam por você? É por isso que precisam ser mantidos separados?
— Não. — A pergunta pareceu diverti-la. — Zandy é a fêmea acasalada com Tiger e eles têm um filho. Ela acabou de ter o bebê, mas Richard não pode descobrir que estava grávida. Nós confiamos nele, mas saber informações secretas poderia colocá-lo em perigo se alguém suspeitasse. Zandy teve que ser transferida para outro trabalho para evitá-lo, e ele foi informado que ela está em Homeland. Conversam por telefone desde que ficaram amigos, mas ficam separados. O bebê é adorável. Você já viu um?
Bela assentiu.
— Sim. Nós temos alguns deles em Homeland. Ellie leva Salvation para o trabalho com ela o tempo todo. Fury é o pai e o bebê parece exatamente como ele.
— Quero tanto um, mas não parece que será possível.
— Um bebê?
Creek assentiu, olhando em volta.
— Vamos limpar a bagunça do andar de baixo.
O tópico estava terminado. A Espécie fugiu do quarto. Sua postura dura e o tom melancólico da voz revelou sua dor. Bela colocou a mão em sua barriga lisa, perguntando-se como seria estar grávida, enquanto deslizava para fora da borda da cômoda. Até agora nenhuma mulher Espécies pôde conceber.
A ideia de alguém sendo totalmente dependente de Bela era um pensamento assustador. Mal podia enfrentar um dia de cada vez sozinha sem se perguntar como conseguiria passar por isto. Ela amava Salvation e Forest, os dois bebês com quem passava mais tempo, mas estava contente que não fossem sua responsabilidade. Crianças precisam de pais com conhecimento de todas as coisas, e que pudessem ensiná-los como sobreviver no mundo.
— Creek?
Ela parou no topo dos degraus, voltando-se.
— Sim?
— Por que quer um bebê?
Suas características endureceram. Ficou muda por longos segundos, depois relaxou.
— Acho que além das razões óbvias de só querer saber como seria me tornar mãe, quero alguém para amar. Uma criança seria seguro para abrir meu coração e dividir minha vida.
Bela ponderou a resposta e avançou, fechando seus dedos em torno do pulso da outra mulher.
— Entendo. 113
— Trisha diz para não perder as esperanças, e que talvez os peritos que contrataram possam achar uma maneira de contornar a nossa genética para que possamos conceber.
— Você iria querer um companheiro se fosse capaz de ter um bebê?
— Você está cheia de perguntas. — Creek hesitou. — Não é uma opção agora, então não me permito pensar sobre isto frequentemente.
— Mas pensa.
Ela sorriu.
— Considerei isto. Vejo o quão felizes são Zandy e Tiger. Ela é seu mundo inteiro e ele é o dela. Seria agradável ir para casa depois do trabalho e encontrar alguém ansioso para me ver. Claro que duvido que seria tão compreensiva quanto ela é com a natureza dele. Os humanos são mais agradáveis que as fêmeas Espécies.
— Não entendo.
— Nossos machos são insistentes. Zandy acha que é fofo quando Tiger fica muito protetor. Eu ficaria irritada. Sou forte o suficiente para cuidar de mim mesma. Poderia até me sentir insultada. Nós iríamos brigar frequentemente e agressivamente.
— Ela não é tão forte quanto você. — Bela a estudou da cabeça aos pés. — Ela provavelmente precisa da proteção dele.
Creek riu.
— Isto é verdade. Zandy é muito valente, mas não é fisicamente intimidadora.
— Gosto que Shadow seja protetor. A maioria me assusta, mas me sinto segura com ele. —Não foi muito ruim, admitir isto. Sentiu-se confortável com Creek. — Quero mantê-lo em minha vida.
— Vocês dois compartilharam sexo. Como foi? Estava assustada?
— Foi maravilhoso. — Seu coração acelerou só por lembrar. — Ele foi muito doce e muito mais do que eu esperava.
— Suas expectativas devem ser baixas depois do que sofreu.
Aquela declaração quebrou a felicidade de Bela.
— Verdade.
— Sinto muito. Não quis dizer do jeito que soou.
As mãos de Bela caíram.
— Não. É verdade. Qualquer coisa tem de ser melhor do que as coisas que conheço.
Creek agarrou sua mão.
— Eu realmente sinto muito. Esta discussão me deixou um pouco na defensiva e um pouco sombria.
— Não quis bisbilhotar ou te chatear.
— Não chateou. É natural ser curiosa. Falar sobre bebês e companheiros me deprime. Estou contente que gostou do sexo com Shadow, e que deseje passar mais tempo com ele. Parece muito preocupado com sua segurança. Ele é um bom macho. Consigo captar estas coisas.
— Todos os nossos homens são bons.
— Não. — Ela hesitou. — Conheci alguns que evito. Eles estão danificados por dentro pelo ódio, e fechados para as emoções. Nunca maltratariam uma fêmea, mas são friamente separados de sentirem algo mais. Shadow é muito carinhoso e amigável. Ele servirá para você, mas deve saber que quanto mais tempo passa com ele, mais apegado pode ficar por você. Eles tendem a querer manter algo que acreditam ser deles. Toda vez que compartilhar sexo lhe dará a impressão que pode mantê-la na cama dele. 114
— Eu gosto disso.
Creek suavemente a apertou.
— Então estou feliz por você. Ele retornará quando o Centro Médico liberá-lo.
— É assustador me permitir sentir. — Bela agarrou sua mão. — Devia se dar uma chance e permitir que alguém chegue perto de você, Creek. É assustador, mas percebi que não tenho nada a perder. Não estava vivendo. Estava apenas existindo. Existe um mundo de diferença. Mereço ser feliz e você também. Fui forçada a passar a maior parte da minha vida sozinha, mas tenho mais agora. Eu fui trancada dentro de um porão com apenas guardas para me trazer comida, quando decidiam me alimentar. Permitiam-me apenas estar do lado de fora, quando o Mestre me queria no andar de cima. Odiava quando um dia ou dois se passavam sem ver ninguém, mas ser levada lá para cima era pior.
Creek olhou fixamente para ela por longos segundos antes de largar sua mão.
— Pensarei um pouco sobre isso. — Ela sorriu. — Você é bem valente para uma Presente, Bela. Saiba disto. Sou muito mais forte, mas a ideia de pôr meu coração nas mãos de um macho, me assusta muito. Fui machucada o suficiente.
— Realmente não sou valente. Estou assustada o tempo todo, mas estou com mais medo de desperdiçar a vida que me foi dada sem nunca me arriscar. Eu tenho arrependimentos suficientes.
* * * * *
Shadow rosnou para o Dr. Harris, o macho enrugado de cabelo branco que era muito mais velho que ele. O humano franziu a testa.
— Não tire um pedaço de mim. Sem morder, droga. Estou terminando de te dar os pontos.
— Não morderei. Dói. Faço barulhos quando estou com dor.
— Desculpe sobre isso, mas estou contente que não está sendo teimoso comigo. O doutor tirou as luvas e as jogou no lixo. — Já fui mordido esta semana. Empurrou o paletó branco para cima, para mostrar um curativo em seu braço. — Os residentes da Zona Selvagem não são os melhores pacientes. Tive que dar quatro pontos em mim mesmo. Sou sortudo que ele tenha apenas me cortado um pouco.
— Não vivo lá. Eu estou de visita.
— Certo. — O doutor caminhou até a parede para ligar a luz, e estudar o raio-X que pediu. — Sem dano permanente, nenhuma fratura em seu crânio, e nenhuma hemorragia ou inchaço no cérebro. Vocês têm a cabeça dura. — Ele desligou a luz e virou-se. — Ainda está tendo problemas com sua visão? Tontura? Náusea? Algum barulho em suas orelhas? Enxaqueca?
— A injeção que me deu parece ter funcionado para parar esses sintomas.
— Eu o invejo. — O doutor se sentou no banco. — Minhas articulações estão me matando. Artrite é uma merda.
Shadow curvou suas sobrancelhas, sem estar certo do que aquilo significava.
— Não importa. Seu tipo não sofre disso e provavelmente nunca sofrerá. Essa é a vantagem de ter sua genética híbrida. Eles tiraram o que é ruim. — Cruzou os braços em cima do tórax. — Você está bem. Talvez possa ficar mais agressivo nas próximas vinte e quatro horas também, cuidado com seu temperamento. Sem lutas. Fique longe das mulheres também.
— Não posso fazer isto. Preciso retornar para Bela. Ela está esperando por mim na cabana. 115
— Oh. — Interesse faiscou nos olhos do macho. — Você foi o atribuído para proteger a Fêmea Presente e ver se está interessada em sexo? Como isto está indo? Precisa de algum conselho?
— Sem problemas.
— Você não estaria aqui se isso fosse verdade. Foi ela que o empurrou da janela? Fui informado que foi empurrado do segundo andar de uma cabana.
— Um macho me atacou.
— Ah. Não tive muitos detalhes. Como isso aconteceu? Achei que vocês dois deveriam estar sozinhos lá. Foi um residente da Zona Selvagem? Eles podem ser um pouco instáveis.
— Foi Torrent.
— Sério? — Os olhos do doutor alargaram. — Ele não vive lá, mas lida frequentemente com os Espécies mais selvagens. Acho que está sendo influenciado pelos selvagens. Achei que ele seria um bom exemplo para ensiná-los a controlar seus instintos, mas talvez devesse ter uma conversa com ele sobre como não sair por aí atacando outras pessoas.
A irritação chamejou.
— Ele acreditou que eu estava machucando Bela.
— Você estava?
— Não! — Shadow rosnou novamente, insultado.
— Calma jovem. Apenas fiz uma pergunta. Está certo que não quer um conselho? Dou o tempo todo quando vocês tentam ficar com mulheres que não são Espécies. Vi as Presentes e elas são bem pequenas. Está preocupado se está sendo muito grosseiro com ela?
— Nós compartilhamos sexo. Foi bom.
O doutor sorriu.
— Bom, hã? Talvez precise de alguns conselhos. Sexo devia ser maravilhoso. — Ele riu. — Já fui jovem uma vez. Se alguma mulher dissesse que foi bom eu saberia que tinha feito algo de errado depois de terminado o sexo. Em meus dias...
Um golpe soou na porta e esta abriu interrompendo o doutor. Shadow identificou o macho que bateu em sua cabeça e rosnou novamente. Torrent segurou seu olhar antes de entrar no quarto.
— Queria me desculpar. — Torrent tinha trocado de roupa e seu cabelo estava molhado por conta de um banho.
Dr. Harris se levantou.
— Sem luta em minha sala de exame! — Ficou entre eles.
Shadow ficou de pé, olhando para o outro macho por cima da cabeça do humano mais baixo.
— Você não tinha nenhum direito de entrar na cabana.
— Ninguém me disse por que vocês estavam lá. Apenas supus que uma Presente queria um pouco de ar fresco e ver a floresta. Realmente sinto muito. Ouvi sons quando fui bater na porta e pensei que talvez um dos residentes da Zona Selvagem pudesse ter entrado. Eles são bem curiosos. Entrei para ter certeza que não estavam causando problemas. Então percebi que você estava montando a Presente. Está impregnado em mim protegê-la.
Raiva ainda fazia seu sangue ferver, mas reconheceu o arrependimento no rosto do outro macho. Ele pareceu sincero. Shadow abriu seus punhos. Aprendeu a ter paciência quando viveu na sede da força tarefa. Enganos aconteciam frequentemente entre Espécies e humanos. Apenas não esperava isto de outros machos Espécies. 116
— Nunca forçaria uma fêmea.
— Estou contente por ouvir isso, mas não conheço você. Presumi o pior. — Torrent abaixou seu olhar. — Quer dar o troco para nos deixar quites? — Olhou para cima, segurando seu olhar.
— Não em minha sala de exame! — O Dr. Harris balançou a cabeça. — Resolvam isto do lado fora em vinte e quatro horas. Olhou para Torrent. — Dei uma injeção nele para ajudar a curar-se. Ele não vai fazer nada até que isto desapareça.
Shadow decidiu perdoar o macho. Ele tentou defender Bela, afinal.
— Você ainda pode me ensinar a nadar. Tenho medo de o rio estar tão perto, e represente um perigo. Nunca aprendi.
— Ficaria mais que feliz por fazer isto. Começaremos amanhã.
— Sem Bela, entretanto. Fique longe dela. Você me ensina e eu a ensinarei.
Um sorriso ergueu os cantos dos lábios do outro macho.
— Entendo. Duvido que seja a pessoa favorita dela agora. — Ele olhou para cima e tocou em seu ombro. Um curativo pode ser visto pelo material fino de sua camisa. — Ela me mordeu.
Shadow sorriu de volta, sentindo satisfação.
— Sou o único macho que ela quer.
As intenções do torrent eram boas, mas to com tanta raiva dele pqp, shadow perdoou, mas mas eu não.
ResponderExcluirEu peguei uma simpatia inexplicável pelo Torrent
ResponderExcluirTorrent, a melhor programação de um windows 👁️👄🤙
ResponderExcluir